Com reajustes no diesel, setor de transportes espera alta no frete

Medida foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad nesta quarta (28)

Por João Videira (sob supervisão)

Com reajustes no diesel, setor de transportes espera alta no frete
Reoneração do diesel pode compensar prorrogação de programa para carros
Paulo Whitaker/Reuters

O aumento no preço nas bombas será inevitável, segundo especialista, com a reoneração do diesel. Na quarta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a antecipação da cobrança em R$ 0,03 em outubro.

A mudança no combustível estava prevista inicialmente para janeiro do ano que vem.

O imposto deve ser adicionado como forma de financiar a ampliação do programa de carros populares do governo, via créditos tributários às montadoras, que deve ter custo de R$ 300 milhões para os cofres públicos.

A alta no diesel deve se somar à volta de impostos federais sobre gasolina, etanol e querosene de aviação.

Segundo Marcus Quintella, diretor do centro de estudos da FGV Transportes, o acréscimo pode impactar os valores dos fretes das cargas e até mesmo dos transportes públicos.

"Apesar dos preços das refinarias ainda estarem mais baixos, com o aumento dos tributos, a alta nas bombas será inevitável e afetará diretamente os valores dos fretes das cargas ou transporte público. O combustível no caso do dos fretes tem um impacto de 35%, em média."

Na ponta, o caminhoneiro Márcio Aurélio relata que o ano de 2023 foi de mudanças, pela tentativa de retomada do setor, muito afetado pela pandemia da Covid-19. Aurélio vendeu a frota dele e agora usa veículos de uma empresa terceirizada.

"Nós vínhamos numa crescente, e, de repente o serviço começou a cair, por causa da pandemia. Até hoje não tivemos uma melhora. Nós tínhamos dezesseis caminhões agregados, hoje estamos com cinco caminhões", diz.

"Foi uma redução muito drástica que comprometeu muitas empresas pequenas", completa.

O Governo Federal já tinha anunciado a incidência de R$ 0,11, a partir de setembro sobre o diesel, que serviria para pagar o crédito da ampliação do programa de carros populares, inicialmente fixado em R$100 milhões. Para fechar a conta, o incremento de R$ 0,03 foi anunciado como forma de contemplar os R$ 200 bilhões restantes. 

A jornalistas, Haddad disse, no entanto, que não espera que a reoneração seja percebida pelos consumidores na bomba. O ministro acredita que as quedas do dólar e do preço do petróleo não devem ter impacto para o consumidor final. 

O governo tem procurado dar acenos ao setor. No início do mês, o presidente Luís Inácio Lula da Silva assinou a medida provisória que instituiu a renovação da frota de veículos, inclusive dos caminhões. 

De acordo com a MP, o comprador pode obter descontos entre R$ 33.600 e R$ 80.300. Diferente dos cortes concedidos para carros populares, para os caminhões, existem algumas regras específicas.

Para obter o desconto, as concessionárias devem receber dos compradores caminhões com mais de 20 anos de fabricação e fornecer comprovante da destinação do veículo antigo para desmonte.

No entanto, a categoria acredita que, na prática, o bônus não adiantou, como afirma Márcio Aurélio.

"Esse plano que o governo fez para nós não adiantou muito. O governo diz que nós temos que comprar o caminhão zero, só que o caminhão zero você tem vários impostos. Nós não temos o valor de frete que venha compensar a compra", afirma.

De acordo com o último painel de dados lançados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), R$ 420 milhões dos R$ 500 milhões em créditos tributários disponíveis para as montadoras foram utilizados. Isso equivale a 84% do total.

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