Há cinco anos, dez famílias aguardam por uma resposta sobre o incêndio que deixou 10 atletas mortos no centro de treinamento das categorias de base do Flamengo, o Ninho do Urubu. Até o momento, nenhuma das oito pessoas que respondem criminalmente pelo fogo foi condenada.
No dia 8 de fevereiro de 2019, 24 jogadores da base do Flamengo estavam dormindo no centro, que fica em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio, e foram surpreendidos pelo incêndio. Em apenas dois minutos, as chamas atingiram todos os quartos dos contêineres. As 10 vítimas tinham entre 14 e 16 anos: Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías.
O clube conseguiu fechar acordos com nove responsáveis dos jogadores. Os valores giraram em torno de 300 mil reais. Por isso, em 2020, o Ministério Público do Rio chegou a pedir à Justiça que o valor mínimo de indenização fosse de R$ 1 milhão por pai e mãe. Apenas a família de Christian Esmério ainda tenta chegar a um acordo com o Flamengo.
A jornalista investigativa Daniela Arbex lançou, neste mês, o livro "Longe do Ninho", que traz detalhes sobre a tragédia e o lado das famílias. Após meses de apuração e entrevistas, a jornalista destaca que a impunidade no Brasil abre espaço para que crimes do tipo voltem a acontecer. Ela ressalta que o Flamengo poderia ter evitado o incêndio.
O Flamengo chegou a ser multado 30 vezes antes do incêndio, porque não tinha autorização para construir os alojamentos no Ninho do Urubu. Um relatório do MP da época ainda apontava falta de manutenção e superlotação no centro de treinamento.
Procurada, a Prefeitura do Rio informou que, atualmente, há uma licença em vigor, mas o processo ainda não foi finalizado, porque a Prefeitura ainda precisa dar a autorização para dois setores do CT, a capela e a modificação do vestiário.
Em agosto do ano passado, testemunhas foram ouvidas na primeira audiência de instrução e julgamento do caso, incluindo 11 sobreviventes do incêndio.
Agora, a Justiça do Rio tenta marcar uma nova audiência para março.
Entre os oito réus, está o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello. Segundo a denúncia do MP, ele não adequou a estrutura física do espaço às diretrizes. Por nota, Bandeira de Mello confirma que não era mais presidente do Flamengo na época do acidente, desde dezembro de 2018, e alega que os centros de treinamento e alojamentos tinham nível de excelência com farta documentação comprobatória. Ele ainda indica que as causas do incêndio nos módulos habitacionais que eram utilizados até novembro de 2018 e voltaram a ser ocupados no dia da tragédia estão sendo apuradas no âmbito do processo criminal.
Em nota, o Flamengo disse que a família do Christian Esmério ainda não chegou em acordo, mas recebe uma pensão mensalmente. Além disso, o clube afirmou que prestou toda assistência às famílias, tanto psicológica, como financeira.