Um ano após a morte do adolescente que foi atropelado pelo modelo Bruno Krupp na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, o acusado aguarda em liberdade o júri popular por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Ele ficou oito meses preso e foi liberado em março deste ano, beneficiado por um habeas-corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. Desde então, cumpre medidas cautelares e é monitorado com tornozeleira eletrônica.
João Gabriel Cardim, de 16 anos, estava com a mãe, Mariana Cardim, quando foi atropelado na Avenida Lúcio Costa, na orla. Com o impacto do acidente, a vítima teve a pena amputada. De acordo com as investigações, Krupp pilotava a moto a mais de 100 quilômetros por hora.
Em entrevista à BandNews FM, Mariana Cardim fala sobre as dificuldades emocionais da perda precoce.
Impressão que eu tenho é que eu não me encaixo na vida. Faço tratamento, fiz tratamento com psiquiatra, que nunca precisei antes. Acordava gritando, com a cena na minha cabeça. Eu estou respondendo bem, mas minha vida ficou partida, incompleta. Eu não era uma paciente psiquiátrica. Comecei a ter crise de ansiedade. Não tem um dia que meu filho não me faça falta, é como se os dias fossem incompletos, diz Mariana Cardim.
Em novembro do ano passado, durante audiência de instrução e julgamento do processo, Krupp confessou que pilotava a moto a mais de 100 quilômetros por hora, enquanto a velocidade máxima permitida na via é 60.
Ele chegou a pedir desculpas à mãe e familiares da vítima. O modelo dirigia sem documento de habilitação. Um laudo pericial apontou que o influenciador digita nem chegou a frear o veículo antes de atingir o jovem, o que a defesa nega. A Polícia também não encontrou marcas de frenagem no local do acidente.
Em nota, a defesa do modelo, representada pelo advogado Ary Bergher, disse que já recorreu às instâncias superiores a decisão da Justiça do Rio de ir ao júri por homicídio doloso.
Nesta segunda-feira (31), uma missa em honra a um ano do falecimento de João Gabriel Cardim vai ser celebrada na igreja Nossa Senhora do Loreto, em Jacarepaguá, na Zona Oeste.
Confira mais declarações de Mariana Cardim, mãe de João Gabriel Cardim.
FORÇA PARA CONTINUAR: "Ainda ele não estando aqui, é como se estivesse me dando força para continuar"
Ele tinha defeitos, como todo mundo, era teimoso, mas ele era muito bom, de um coração que não cabia no peito. Ele me ensinou, principalmente, de todas as lições, a amar. Nunca consegui experimentar, antes de ele chegar, o real significado do amor, quando ele veio para a minha vida. Quando ele foi embora, tínhamos um elo muito forte. Ainda ele não estando aqui, sinto que tenho força por ele, é como se ele estivesse me dando força para continuar.
UMA CARTA ESPECIAL: "O dia mais difícil da minha vida está chegando. Fiz uma carta para ele, onde liberto o espírito dele dentro do meu coração"
Mariana compartilhou com a reportagem uma carta que escreveu ao filho, para essa data, que classificou como "o dia mais difícil" da vida dela. Com trechos de poemas de William Shakespeare, a mulher conta o quão difícil é uma mãe ver o filho morrer, mas revela que, em passeios nas memórias com ele, busca renovar as forças para seguir em frente.
Sigo tentando encontrar a maneira adequada de agir de me encaixar na vida e quem sabe aliviar esta dor, e vivo lembrando tudo que vivemos, Sessões... Filmes... Series... Balas Fini (...) vou visitando de forma incansável nosso baú de lembranças (...) Prometo sempre renovar minhas forças e nunca desistir, meu filho.
Como o adolescente gostava muito dos heróis da Marvel, ela faz uma referência, na carta, e declara que nunca viu nenhum herói como João Gabriel Cardim.
Aprendi com você que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer. E a Marvel que me perdoe, mas ainda não vi nenhum herói como você. Enfrentar os problemas com sorriso largo no rosto e com muita humildade. Eu te amo... imensamente. Fica a minha saudade muito forte... muito forte mesmo.