O técnico de laboratório Ivanilson Fernandes dos Santos disse que a intenção da empresa PCS LAB Saleme era economizar dinheiro quando determinou mudanças do controle de qualidade da sorologia que deixou de ser diário e passou a ser semanal.
A afirmação foi feita durante depoimento à Polícia Civil, após o servidor público estadual, que trabalha no Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, ser preso. A BandNews FM teve acesso ao documento.
Segundo Ivanilson, o controle de qualidade da sorologia era feito diariamente até dezembro de 2023. A partir de 2024, a vistoria do laboratório passou a ser semanal. O funcionário disse que a determinação partiu da coordenadora Adriana Vargas.
Os exames feitos nos doadores e que deram falso-negativo foram realizados entre janeiro e fevereiro deste ano. Seis pacientes passaram a viver com HIV após receberem os órgãos pela Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro
Questionado sobre as consequências da mudança, o técnico de laboratório disse que os reagentes ficam degradados por permanecerem mais tempo na máquina analítica, o que pode levar a erros.
O laboratório utilizou o método de quimioluminescência ELISA de de quarta geração para a realização dos exames.
Para a médica especialista em medicina legal e perícia médica, Caroline Daitx, uma das fases de elaboração do teste é a lavagem para eliminar interferências que podem causar prejuízo no exame.
O profissional disse que os insumos eram entregues a ele com validade perto de expirar.
Ivanilson disse que não chegou a ir ao laboratório em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, mas que trabalhava na estrutura do IECAC, realizando análises técnicas em exames da unidade de saúde e da empresa que prestava serviço à Fundação Saúde.
Ele admitiu que, após a análise, digitava o resultado no sistema do PCS LAB, mas que a validação do resultado era feita por Walter Vieira, Ariel Santos, Jacqueline Assis e Adriana Vargas.
Por outro lado, o sócio-proprietário do laboratório, Walter Vieira, que foi preso na segunda-feira (14), disse que um dos exames de HIV foi feito por Ivanilson e que o funcionário teria digitado o resultado errado no sistema. Segundo Walter, a analisa responsável pela conferência seria Jacqueline Bacellar, que liberou e assinou o laudo.
Segundo dito em depoimento, Walter Vieira afirmou que o outro erro constatado na sindicância instaurada pela empresa foi do biólogo Cleber de Oliveira Santos, considerado foragido. O sócio disse que o funcionário não fez um procedimento de checagem do equipamento em que foram realizados os testes de HIV.
Ivanilson disse que já esperava o surgimento de falhas e que pensava em se desligar. No entanto, ele afirma que foi demitido na sexta-feira (11), mesmo dia em que a BandNews FM revelou o caso com exclusividade.
Segundo ele, no mesmo dia, Adriana Vargas mandou uma mensagem em um grupo interno do laboratório falando sobre a repercussão do caso na imprensa e disse que estava apavorada, indicando que um técnico pode ter sido o responsável pelos problemas.
Apesar de detido, o funcionário disse que deseja depor mesmo sem a presença de advogado constituído durante o processo criminal.
O telefone apreendido de Ivanilson vai ser analisado pelos policiais, que conseguiram na Justiça do Rio a autorização para a quebra do sigilo de qualquer aparelho celular apreendido durante a operação Verum, deflagrada na segunda-feira (14).
Em nota, o PCS disse que o resultado preliminar de uma sindicância interna aponta indícios de falha humana na transcrição dos resultados de dois testes de HIV e que dará todo suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso à identidade delas.
A BandNews FM tenta localizar a defesa de Adriana Vargas, Ariel Santos e Cleber Santos.