O número de homicídios dolosos, quando há intenção de matar, em bairros dominados pela milícia apresenta média maior do que em locais que contam com presença de traficantes. O levantamento foi realizado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado, a partir de dados do Instituto de Segurança Pública em bairros da Região Metropolitana do Rio. Segundo o estudo, os dados apontam que é incorreto dizer que as áreas controladas por milicianos são mais seguras.
Entre 2006 e 2021, a taxa de homicídios em locais dominados por milícias foi de 218 mortos a cada 100 mil habitantes. Em bairros com predominância do tráfico, a taxa ficou aproximadamente em 210.
No entanto, a pesquisa aponta que no mesmo período as operações policiais se concentram principalmente em áreas comandadas pelo Comando Vermelho, assim como a ocorrência de chacinas e mortes por intervenções de agentes do Estado.
Para o pesquisador Daniel Hirata, que faz parte do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, a visão de que uma área dominada por milícia é mais protegida é justificada pelo menor número de operações policiais nessas regiões.
''Se a gente considera que todos os grupos armados são igualmente problemáticos, a pergunta que fica é: por qual motivo o uso da força do Estado é direcionado para áreas do Comando Vermelho? Isso se justificaria se as ações desmantelassem o grupo, mas não é o que acontece. Ele nunca se enfraqueceu em função das operações policiais. No entanto, elas incidem em prejuízo econômico para esses grupos. Parte da percepção que pode haver por determinados pessoas em relação a uma relativa tranquilidade em áreas de milícia, tem a ver com o menor incidência de operações, chacinas e letalidade policial porque a violência é perceptível em função dos tiroteios. Se nós temos menos operações, a população tende a achar que o lugar é menos violento, mas a quantidade de homicídios mostra que não há uma menor violência nesses lugares", diz ele.
O estudo também analisou as chacinas na Região Metropolitana a partir de julho de 2016. Em áreas de milícias, quase 48% das chacinas ocorreram em conflitos e disputas entre grupos e criminosos. Já em regiões dominadas pelo Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro, entre 83% e 86% das chacinas ocorreram em operações policiais.