Anotações encontradas na casa de Rogério de Andrade revelam esquema de corrupção

Os registros de prestação de contas da contravenção sugerem que a quadrilha estaria se reorganizando para voltar a pagar propina para delegacias

Thuany Dossares

Os registros foram apreendidos durante ação contra o filho do contraventor
André Lobo/UOL

O Ministério Público do Rio e a Polícia Federal (PF) encontraram, na quinta-feira (4), anotações numa casa do bicheiro Rogério de Andrade, em Itaipava, na Região Serrana, que prestavam contas da contravenção do mês de junho e sugerem que a quadrilha estaria se reorganizando para voltar a pagar propina para delegacias da Polícia Civil do Rio. 

Os registros foram apreendidos durante uma ação para cumprir mandado de prisão contra o filho do contraventor, Gustavo Andrade, e de busca e apreensão no imóvel. Para surpresa dos agentes, Rogério também estava na casa e acabou preso por conta dessas anotações. Um novo mandado de prisão foi expedido contra ele pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital, do Tribunal de Justiça do Rio. 

As anotações dão conta que de que um homem identificado apenas como Xiquinho, que, segundo o MP, é subordinado a Rogério de Andrade, informou que a Delegacia de Acervo Cartorário, Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro, e outras especializadas, não descritas, estariam querendo o retorno da "merenda delas". O termo é usado para se referir a pagamento de propina. Ainda de acordo com o órgão, o registro afirma que o pagamento tinha parado a pedido das próprias unidades. 

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Em outro bilhete, com data de 27 de julho, que foi encontrado na sala principal do imóvel, existe a descrição de Xiquinho expõe que as Deam's do Centro e de Campo Grande estão cobrando a "merenda" que não seguiu. 

O Ministério Público concluiu com essas anotações que a organização criminosa liderada por Rogério de Andrade pagava propina a delegacias habitualmente. 

O órgão chama atenção ainda que o esquema de corrupção da contravenção continuou mesmo após a Operação Calígula, em maio, que terminou com a prisão dos delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém. As investigações da operação miravam a exploração ilegal de jogos de azar pelo bicheiro Rogério de Andrade. Os delegados são suspeitos de integrar a organização criminosa. 

A Operação Calígula revelou também que Gustavo de Andrade atualmente é o segundo homem na hierarquia da contravenção, que começou ainda nos anos 80 com Castor de Andrade. Ele é chamado pelo grupo de Príncipe Regente e é acusado de liderar o esquema na ausência do pai. 

Gustavo era um dos alvos da Calígula, mas na ocasião não foi preso porque, segundo os promotores, houve um vazamento criminoso de informações que impediu o cumprimento de mandados contra alvos relevantes. 

Pai e filho vão passar por audiência de custódia na tarde desta sexta-feira (5). 

Inicialmente, Rogério não poderia ser preso por conta de uma decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que tinha revogado o mandado de prisão preventiva contra o bicheiro. Mas, segundo a Justiça, os documentos apreendidos expõem uma sistemática cadeia de corrupção, mantida de forma persistente durante períodos, inclusive, que o bicheiro permanecia foragido.

Procurada para comentar sobre as anotações apreendidas que indicam corrupção em delegacias, a Polícia Civil ainda não respondeu.

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