Advogada precisou convencer agente da Polícia a registrar caso de agressão

Mulher denunciou o ex-namorado, chefe de investigação da Delegacia de Atendimento a Mulher, por agressão, ameaça e injúria

Thuany Dossares

Marcos André de Oliveira dos Santos, de 50 anos, foi preventivamente afastado do serviço
Reprodução

A advogada que denunciou por agressão, ameaça e injúria o ex-namorado, que é chefe de investigação da Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam) de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, afirma que precisou convencer o agente da Corregedoria da Polícia Civil a registrar o caso e que percebeu corporativismo ao ser questionada. Marcos André de Oliveira dos Santos, de 50 anos, foi preventivamente afastado do serviço, segundo a Civil.

A jovem de 29 anos, que prefere não se identificar, conta que um agente que fez o seu primeiro atendimento, queria que ela procurasse a Deam para denunciar o companheiro.

"Lá na corregedoria, o rapaz que me atendeu falou 'olha, aqui é a delegacia de corregedoria, para apurar fatos contra o policial, pelo que você está me falando tem uma questão que possa envolver violência doméstica, então você tem que ir na Deam'. E aí eu falei que ele (Marcos) era chefe da Deam, e ele respondeu que eu poderia ir em outra. Eu disse que não tinha condições, porque já vi ele ajudando amigos, existe corporativismo, e que também ele se valeu da função de policial, que poderia me bater porque era polícia, ai só assim o policial falou que iria fazer lá (o registro)", narrou.

Para registrar o que vinha sofrendo, a mulher apresentou áudios de discussões, que demonstravam ofensas, ameaças e agressões, e testemunhas que presenciavam alguns dos crimes. Ela conta que foi chamada na Corregedoria da Polícia Civil para prestar depoimento três vezes e que percebeu que os agentes tentavam justificar as atitudes do colega por acreditar que ela estava com ciúmes de outra mulher.

"Nessa terceira vez, eu fui esgoelada, fiquei umas três horas lá. Falaram que eu fiz aquilo porque estava com ciúmes, mas esse era um assunto que eu não queria trazer a tona, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. A corregedoria estava tentando justificar o que ele fez. Eu sou advogada, sei que a gente tem que se atentar aos fatos. E o fato dele me bater, não tem nada a ver se ele tinha uma mulher ou não, quem era amante, quem era companheira, namorada, isso não interessa. Mesmo com os áudios não acreditavam em mim em relação ao Marcos. E se eu tivesse ciúmes? Ele pode espirrar spray de pimenta em mim porque eu tinha ciúmes? Tá entendendo? Para que? Foi por causa disso. Eles estavam nitidamente procurando um motivo para justificar as ações do Marcos, "então foi por isso que ele fez isso com ela". Justificar o injustificável, colocar a culpa em mim", disse.

Procurada, a Polícia Civil informou que as investigações começaram tão logo o caso foi denunciado e em decorrência disso, o agente foi afastado do atendimento em delegacias. A corporação ainda garantiu que a vítima não é interrogada, mas presta declaração. O inquérito foi relatado pela Polícia Civil com o indiciamento do acusado.

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