Cerca de 65% das famílias do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, afirmam que enfrentam algum tipo de dificuldade no acesso à saúde, uma das principais preocupações dos responsáveis pelas crianças que vivem na região.
A conclusão é do estudo Primeira Infância na Maré, divulgado pela Redes da Maré nesta quarta-feira (27). A iniciativa traçou um diagnóstico sobre como vivem as crianças de até 6 anos dessas comunidades e identificou problemas como falta de acesso a serviços e direitos básicos, exposição à violência armada e pobreza extrema.
Segundo a pesquisa, seis em cada 10 crianças também enfrentam dificuldades ou não têm acesso a equipamentos públicos de lazer, cultura e esporte.
Para a diretora da Redes da Maré e coordenadora da pesquisa, Eliana Silva, os dados reforçam a necessidade do Poder Público garantir os direitos básicos das crianças de favelas. Desempregada, Priscila Santos é mãe de oito filhos e relata os desafios enfrentados na criação deles.
A pesquisa ainda revela que quase 40% das crianças já presenciaram algum tipo de violência. Profissionais entrevistados contaram que os confrontos armados interferem na assistência às famílias e que as crianças costumam ficar mais tensas até mesmo durante as brincadeiras, que muitas vezes reproduzem o contexto da violência.
Moradora da Maré, Joana Peixoto diz que o filho de 2 anos fica assustado sempre que percebe a presença dos "caveirões" blindados na comunidade.
O estudo mostrou que 94% dos cuidadores principais de crianças na Maré são mulheres, sendo que 74% se autodeclaram pretas ou pardas.
Ainda segundo a pesquisa, mais da metade das famílias teve dificuldade com alimentação durante a pandemia e, em 12% dos casos, alguém da família deixou de comer ou pulou refeições para não faltar alimento para as crianças.