A segunda noite dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro foi marcada pela celebração da negritude e da cultura africana. As questões raciais e a luta contra o racismo também foram debatidas em forma de samba entre a noite de segunda-feira (12) e madrugada de terça-feira (13).
A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a noite no segundo dia do Grupo Especial com um enredo falando do caju, a típica fruta brasileira. A comissão de frente foi um destaque da agremiação, quando uma das componentes surgiu na arquibancada, iluminada pelo jogo de luzes e vestida de Carmen Miranda, e proporcionou surpresa e muita vibração do público. A verde e branco apresentou na Sapucaí um enredo com muito bom humor e duplo sentido. O enredo “Pede Caju Que Dou... Pé de Caju Que Dá!” foi assinado pelo carnavalesco Marcus Ferreira.
A luta da mulher negra incorporada na história de uma só personagem, a mãe preta Luísa Mahim. A partir da vida dela, a Portela celebrou a ancestralidade negra feminina na Marquês de Sapucaí. Baseado no romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves, o enredo que levou o mesmo título refez os caminhos imaginados da mãe do patrono da abolição da escravatura no Brasil, Luís Gama. O enredo é assinado pelo carnavalesco André Rodrigues e celebrou a força e o afeto da mulher negra. Um dos momentos mais emocionantes foi o encerramento, que contou com a participação de 16 mães que perderam filhos para a violência. Uma delas era Marinete Franco, mãe de Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018.
Três décadas depois de a Unidos de Vila Isabel apostar nas crianças como a salvação do planeta, o mundo ainda tenta reverter os problemas causados pelo ser humano. Por isso, a escola de Noel reeditou um desfile que enaltece a inocência dos pequenos e a esperança de que eles possam frear a ganância da humanidade. Oitavo colocado em 1993, o enredo “Gbalá - Viagem ao Templo da Criação” parte de uma narrativa que tem como base a cultura iorubá para propor uma reflexão sobre as mazelas provocadas pelos humanos. O desfile original do carnavalesco Oswaldo Jardim foi revisitado, agora, sob o olhar de Paulo Barros com forte utilização de efeitos luminosos.
Os carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, da Estação Primeira de Mangueira, tiveram a grande missão de resumir a vida e os 50 anos de carreira em pouco mais de uma hora na homenagem da escola a uma das mais potentes vozes da música brasileira, Alcione. O desfile contou com demonstrações de fé, que a Marrom considera primordial na vida dela. A Verde e Rosa passou pela cultura maranhense, terra natal da cantora, e retratou o processo de formação dela como uma artista popular. A agremiação teve problemas com carros alegóricos na entrada na avenida e também na dispersão.
A Paraíso do Tuiuti teve a missão neste Carnaval de dar o reconhecimento ao Almirante Negro, João Cândido, o líder da Revolta da Chibata. A escola de São Cristóvão destacou a vida do marinheiro que lutou em 1910 contra os maus-tratos e os castigos físicos que ele e os companheiros, a maioria negra, sofriam na corporação. Os casos recentes de racismo também foram retratados e lembrados na Sapucaí.
Por fim, a Viradouro contou a história das crenças voduns de povos africanos. Entre os destaques desse enredo, estava a força das mulheres que formavam a poderosa irmandade de guerreiras. Uma serpente surgia entre a comissão de frente e deslizava pelo chão do Sambódromo como parte da dança. Alegorias que brilhavam no escuro foram uma surpresa preparada pela escola, que desfilou durante o fim da madrugada e o amanhecer.