BandNews FM

Vacina do Butantan contra a Dengue está em fase final

A previsão é de que o estudo termine até 2024

Bruno Capozzi

Vacina contra a Dengue Governo de São Paulo
Governo de São Paulo

O Instituto Butantan trabalha para desenvolver uma vacina contra a Dengue que possa ser aplicada sem restrições. O Brasil já tem um imunizante aprovado pela Anvisa. A DengVaxia, da Sanofi, foi registrada no fim de 2015.  
 
A aplicação, no entanto, é limitada. A bula explica que ela é indicada para pessoas que já tiveram infecção por algum dos subtipos da dengue anteriormente. Isso porque a DengVaxia pode agravar o quadro de quem contrai a doença pela primeira vez. 
 
Os resultados da fase 3 da pesquisa do Butantan já foram enviados para um comitê de pesquisadores brasileiros e do exterior. Caso os cientistas aprovem os dados, o pedido de registro será encaminhado à Anvisa.  

Segundo a gerente de projetos do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas Virais do Butantan, Neuza Frazatti, o imunizante começou a ser desenvolvido em 2010. Ela ressalta que a dificuldade para a conclusão da pesquisa não é financeira, mas científica: “Por exemplo, seu eu tive a Dengue D1, o meu organismo criou anticorpos contra D1. Se eu encontrar novamente o D1, terei anticorpos contra esse subtipo da Dengue. Mas se eu me infectar com os subtipos D2, D3 ou D4, eu vou ter anticorpos porque eles são muito parecidos. Porém, ao invés de neutralizar a doença, esses anticorpos vão otimizar a replicação do vírus. É muito importante que a nossa vacina seja eficiente contra os quatro sorotipos”.
 
Os pesquisadores já fazem o acompanhamento dos últimos voluntários incluídos nos testes, o que significa que o desenvolvimento do imunizante está em fase final. A previsão é de que o estudo termine até 2024. 
 
A assistente de pesquisa Sara Oliveira, do InfoDengue, sistema de monitoramento de arboviroses desenvolvido pelas Fundações Oswaldo Cruz e Getúlio Vargas, destacou que uma vacina contra a dengue aplicada em massa poderia reduzir os casos graves da doença no país: “A Dengue é endêmica no Brasil porque ocorre de forma consistente e com padrões específicos ao longo dos anos. São de 500 mil a um milhão de casos todos os anos no país. Não tenho dúvida de que uma vacina com boa eficácia e disponível de forma abrangente melhoraria esse cenário, sobretudo com relação aos casos graves da doença”.

A média de tempo para a produção de uma vacina é de 10 a 12 anos. O imunizante contra o coronavírus foi uma exceção. O rápido desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 fez muita gente se perguntar por que para outras doenças, em circulação há mais tempo, ainda não há imunizantes. A resposta está na reorganização dos estudos clínicos de fase 1, 2 e 3 para dar respostas mais rápidas.  Além disso, governos e farmacêuticas investiram muito – e conjuntamente - para desenvolver vacinas eficientes no menor prazo possível.  

E nada disso começou do zero.  A tecnologia para combater a Síndrome Respiratória Aguda Grave já estava em andamento em 2003, quando foi registrado o primeiro surto global envolvendo um tipo de coronavírus.  

O Instituto Butantan já tem patente em mais de 20 países e já transferiu a tecnologia do imunizante contra a dengue para a Merck, farmacêutica alemã que também faz pesquisas de vacina contra a doença.

De São Paulo, Bruno Capozzi