Bergamo: Troca na Petrobras é pontapé inicial por governo mais ‘PT da Gema’

Analista diz que Lula deve promover uma reforma ministerial aos poucos nos próximos meses

Da Redação

A comentarista política Mônica Bergamo avalia a troca no comando da Petrobras como um início de mudanças ministerias que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer para tornar o governo mais com "a cara do PT". Um indício disso é que, além da demissão de Jean Paul Prates da presidência da estatal e da indicação da engenheira civil Magda Chambriard como provável substituta no cargo, o governo vai realocar o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, no recém-criado cargo de ministro extraordinário que atuará na articulação para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Para o seu lugar, será anunciado, de forma interina, o jornalista Laércio Portela.

"A saída do presidente da Petrobras e a mudança do cargo do ministro Paulo Pimenta estão sendo vistos como um pontapé inicial das mudanças ministeriais que o Lula quer fazer no governo, mas que deixou em um primeiro momento em banho-maria. Todo mundo sabia que ele ia fazer essa mudança (na Petrobras), mas ele deixou em banho-maria por bastante tempo. Então o presidente começou agora a fazer as mudanças que a gente estava prevendo que ele faria", disse Bergamo na Rádio BandNews FM.  

A analista falou que a troca de comando não foi bem vista internamente na estatal e que duas mudanças esperadas são a entrada do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, no time do governo e o ingresso de Pimenta no "coração do governo" após a tragédia gaúcha. "Pegou mal dentro da Petrobras entre os conselheiros remanescentes, porque muitos caíram junto com o Prates, porque não houve um respeito à liturgia da empresa. Mas isso está sendo lido, dentro da Petrobras inclusive, como uma guinada no governo. Uma das possibilidades que é muito aventada, muito comentada nos bastidores, é de que Edinho venha para o governo, para a Secretaria de Comunicação, justamente que era liderada pelo Paulo Pimenta e que agora está nas mãos de um interino".

"Agora o que aconteceria com o Paulo Pimenta? Porque essa tragédia do Rio Grande do Sul não é eterna, ele não vai ser eternamente o ministro extraordinário do Rio Grande do Sul. Ele estará estacionado lá, vai fazer muita coisa, vai ganhar uma visibilidade muito grande na sua atuação, mas depois vai ter que voltar pra outro cargo. E aí, o que se diz nos bastidores, é que ele pode ir pra Secretaria-Geral da Presidência, que lida com os movimentos sociais. O presidente Lula, pelo que eu apurei, gosta bastante do ministro Paulo Pimenta, acha que o ministro faz um embate político enorme e que a maioria dos ministros dele não faz, cada um tem a sua própria agenda. E o Lula se ressente disso, que depois da saída do Flávio Dino para o STF ninguém mais está fazendo esse embate, só o Paulo Pimenta".

Bergamo acredita que, além da insatisfação com o trabalho de alguns membros do governo, a reforma ministerial seria uma resposta de Lula à queda de apovação nas pesquisas. "Queda de popularidade é sempre algo que movimenta um governo. Aí precisa ver se o Lula está tendo um diagnóstico correto das causas dessa queda de popularidade. A tendência é ficar colocando a culpa em ministros, mas quem monta o governo é ele. Uma pessoa com o que eu estava conversando da Petrobras, que é um atento observador, diz que esse movimento (demissão de Prates) mostra que o Lula está dobrando a aposta, ela é uma mudança feita dentro da visão estratégica de que é preciso mais 'PT da Gema' no governo", disse.

"Isso mostra que talvez o Lula não esteja satisfeito com esse governo de ampla coalização, que ele é obrigado a fazer para governar. Mas com essas mudanças ele reforçaria em postos-chaves o que é chamado de 'PT da Gema'. Então é um PT um pouco mais intervencionista, mais sindicalista, em detrimento de quadros como o Prates. Mas essa troca não é uma troca que tem que ser lida é com uma troca limitada à Petrobras, mas talvez como o começo de uma guinada do governo nesse sentido que aponta a nova presidente da Petrobras, a Magda, o que essa pessoa descreveu como mais Dilma e menos Haddad", disse. "Tudo vai ser a conta-gotas e no tempo do presidente. Quando a gente olhar, já foi feita uma reforma ministerial mas, como ela foi feita aos poucos, a gente não vai encarar isso como um desenho de reforma. Mas é o que está em andamento, segundo auxiliares próximos do presidente da República. As mudanças virão aos poucos, mas virão".

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