SP: Mães de crianças com autismo relatam dificuldades na rede de Santo André

A principal queixa é a falta neuropediatras no sistema público de saúde

Bruno Capozzi

CAEM
Prefeitura de Santo André

A Beatriz Omena é mãe do Heitor, de 4 anos, diagnosticado com autismo aos 3 anos. Ela tenta, há meses, uma consulta com um neuropediatra na rede de saúde de Santo André. Sem o encaminhamento adequado desse profissional, o Heitor não consegue receber o tratamento e o acompanhamento que precisa. Mesmo acionando a Defensoria Pública, a espera continua: “eu retornei na Defensoria, porque não obtive resposta nenhuma da Secretaria de Saúde. Tive que pagar, novamente, uma consulta particular no psiquiatra. Ele estava tendo muitas crises”. 

 
Claudia de Araújo, mãe do Davi, de 6 anos, conseguiu agendar uma consulta com o neuropediatra depois de três anos de espera: “o Davi, durante esse tempo todo, está em atraso. O desenvolvimento na escola também. É um desrespeito, porque se trata de criança. Precisa de uma atenção especial, mas estamos lutando pelos direitos dos nossos filhos”. 
 
Cátia Marretti conseguiu atendimento de um neuropediatra para os filhos Pietro, de 11 anos, e Nicholas, de 9, na rede estadual. Na rede municipal, o filho caçula passou a frequentar o Caem - Centro de Atendimento Educacional Multidisciplinar. Lá, ele tem acesso a algumas terapias, mas não todas que precisa. Enquanto isso, o Pietro, que já conseguiu passar com fisioterapeuta e fonoaudióloga quando era mais novo, espera agora há 7 anos para algum acompanhamento: “Eles têm algumas terapias, mas você só pode ter uma no Caem. Se passa com psicólogo, não passa com a fonoaudióloga. Mas no caso do Pietro, é pior. São 7 anos sem terapia”. 

E há mais casos de crianças que tiveram o acompanhamento pelo Caem interrompido – como o do Arthur, de 4 anos. A mãe dele, Lilian da Silva, explica que ele não pôde mais frequentar o centro depois que teve o laudo médico concluído. Isso porque, segundo a prefeitura a informou, o Caem não tem atendimento especializado, apenas ajuda no diagnóstico. O atendimento foi retomado, mas ela não sabe até quando: “Fizemos um convênio pra tentar alguma terapia. A única terapia pela prefeitura é a fono, mas ele já foi desligado uma vez. Correndo atrás conseguimos retomar”. 

Procurada, a Prefeitura de Santo André afirma que está contratando mais três neuropediatras. A nota enviada à nossa reportagem diz, no entanto, que os encaminhamentos para casos de transtorno do espectro autista não são exclusivamente feitos por esses profissionais. A consulta, segundo o texto, é indicada a depender da necessidade do caso.   

Quando uma criança passa a contar com esses serviços, segundo a gestão municipal, é iniciada uma investigação do caso e as intervenções são pensadas de acordo com as necessidades.  

Com relação ao Caem, a Prefeitura de Santo André diz que esse é um centro inicialmente pensado para atender alunos com Transtornos Funcionais Específicos - como Déficit de Atenção e Hiperatividade. 

Em virtude da demanda dos alunos que apresentam alteração de comportamento ou dificuldade de aprendizagem, diz a gestão municipal, estudantes são encaminhados pelas unidades escolares, que indicam quais necessidades de cada um. A nota cita, ainda, outros espaços que realizam atendimento para crianças com transtorno do espectro autista – como o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil e o Reabilita. 

Por fim, a prefeitura afirma que “são realizadas intervenções que objetivam o treino e o desenvolvimento de habilidades/comportamentos que auxiliem nas atividades diárias e no cotidiano das crianças”. As mães ouvidas pela nossa reportagem, porém, afirmam que as terapias são mais limitadas e não têm essa profundidade. 

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