Acusado de ter feito os disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o policial reformado Ronnie Lessa pediu, em troca da delação, que a segurança da família dele fosse reforçada.
A expectativa é de que a delação seja homologada pelo Superior Tribunal de Justiça até o fim da semana que vem. Se a colaboração for aceita, Lessa também deve ser transferido do presídio onde está, no Mato Grosso do Sul, para uma penitenciária em Brasília.
Na delação, ele apontou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, como um dos mandantes do assassinato.
A motivação seria a atuação da vereadora contra a expansão de construções irregulares na Zona Oeste do Rio, onde o conselheiro disputava influência com o ex-vereador Marcello Siciliano. O crime também serviria como vingança contra o ex-deputado Marcelo Freixo, com quem ela trabalhou por 10 anos e que presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio.
O nome de Domingos Brazão já havia sido relacionado ao caso em 2019, quando ele foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de tentar obstruir as investigações.
Com irmãos na Câmara dos Deputados e na Alerj, Brazão já foi vereador e deputado estadual por cinco mandatos consecutivos antes de assumir o cargo no TCE. Ele chegou a ser preso em 2017 em um desdobramento da operação Lava Jato, por suspeita de receber propina para fazer vista grossa em desvios do governo de Sérgio Cabral, e voltou ao cargo no TCE no ano passado.
A defesa de Brazão disse que ele não tem qualquer envolvimento com o crime e ressaltou que desconhece o teor do inquérito, já que teve o acesso à investigação negado.
Com a delação, Ronnie Lessa deve mudar de defesa. O atual advogado negou saber de qualquer colaboração e disse que, se ele realmente tiver optado por delatar, vai deixar o caso por ideologia jurídica.
Atualmente, o ex-policial militar Élcio Queiroz, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa e o PM reformado Ronnie Lessa estão presos acusados de envolvimento nos assassinatos. Segundo as investigações, Élcio dirigiu o veículo usado para cometer o crime, Ronnie foi o atirador e Maxwell participou de uma primeira tentativa frustrada de assassinato e ajudou no desaparecimento de provas.
Élcio também já firmou acordo de delação premiada, mas parte do que ele disse segue sob sigilo para não atrapalhar as investigações.
Marielle e Anderson Gomes foram mortos a tiros no dia 14 de março de 2018, no Centro do Rio.
Na terça-feira (23), familiares da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes criticaram o uso das investigações sobre os assassinatos para alimentar disputas e interesses pessoais ou de grupos políticos.
Em nota conjunta, as famílias dizem que aguardam com esperança que a delação do policial reformado Ronnie Lessa apresente novos elementos probatórios que representem um avanço significativo na busca por justiça.