O relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos não aponta causas para queda do avião da Voepass, que vitimou 62 pessoas no dia 9 de agosto em Vinhedo (SP). O documento divulgado nesta sexta-feira (06) diz que os tripulantes comentaram falha no sistema de quebra de quebra do gelo, chamado de “de-icing”, mas, segundo o órgão, não é possível saber se esse foi, de fato, o causador do acidente.
Durante exibição do passo a passo do caso, o investigador-encarregado do CENIPA, Tenente-Coronel Fróes, explicou a cronologia do acidente, os sistemas de detecção e proteção da aeronave contra a formação de gelo nas superfícies, como funcionam os alarmes para detecção de congelamento e queda de desempenho do avião e explicou quais serão os próximos passos da investigação.
O avião ATR-72 decolou do aeroporto de Cascavel/PR às 11h58 da sexta-feira, 9 de agosto. Cerca de 15 minutos depois, os primeiros sistemas de prevenção de formação de gelo foram ligados, são aquecedores posicionados nas asas, janelas do cockpit, hélices e entrada de ar do motor.
Às 12h14, o sistema que detecta gelo nas superfícies foi acionado na cabine, em sequência, o comando de voo acionou o sistema que quebra as placas congeladas e comentaram entre si sobre uma mensagem de erro no sistema, desligando-o em seguida. Pouco mais de um minuto depois de acionar o sistema de degelo, o alerta apagou. O sensor que detecta a existência ou não de gelo ligou e desligou por mais três vezes no intervalo de quase uma hora.
Às 13h17, o “airframe de-icing”, responsável pelo degelo, foi novamente ativado. Um minuto depois, o alerta de “Cruise Speed Low” foi aceso, indicando que a aeronave estaria numa velocidade até 10 nós abaixo da ideal, calculado por computador de bordo.
Dois minutos antes da queda, o ATR-72 solicitou ao centro de controle, sem declarar emergência, liberação para pousar, que foi negada porque outra aeronave estava na mesma rota. A tripulação respondeu que manteria a altura e que aguardaria a autorização.
Logo após, o segundo nível de alerta, Degraded Performance, foi acionado, indicando velocidade entre 15 e 20 nós abaixo do ideal.
Após a comunicação externa e o soar do alarme, o co-piloto ainda comentou “bastante gelo” e o dispositivo de degelo foi ativado pela terceira vez. Pouco depois, a aeronave foi autorizada a entrar na posição ideal para iniciar o pouso.
Às 13h21 minutos o piloto perdeu mais potência durante curva para a posição SANPA. Nesse momento o terceiro e último alarme foi acionado juntamente com o alerta de stoll. O piloto da aeronave perdeu o controle após inclinação das asas, o que fez o avião cair em forma de “parafuso chato”, completando 5 voltas até atingir o solo.
O CENIPA constatou que a aeronave e a tripulação estavam certificadas para realização do voo em condição de gelo, e que estavam cientes das condições meteorológicas.
Dentre os próximos passos da investigação estão exames de materiais e teste funcional por meio de interação com operadores, representantes e fabricantes, entrevista com ênfase em condicionantes e análise de procedimentos operacionais e de manutenção.
Após a coletiva, a Voepass se manifestou por nota após a divulgação do relatório preliminar. Confira trecho:
"O relatório preliminar divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) confirma que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. Reforça também, como o relatório aponta, que ambos os pilotos estavam aptos para realizar o voo, com todas as certificações de pilotagem válidas e treinamentos atualizados. Cabe lembrar que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido."