A discussão sobre a proposta de lei (PL) que trata o aborto após 22 semanas como homicídio, inclusive para vítimas de estupro, gerou repercussão dentro da Igreja Católica.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou apoio à ideia, mas isso não representa unanimidade entre os católicos.
Uma voz que se manifestou contra a proposta é a do bispo emérito de Blumenau (SC), Dom Angélico Sândalo Bernardino, de 91 anos.
Ele foi nomeado bispo da Diocese de Blumenau em 2000 pelo Papa João Paulo II, conhecido pelas posições conservadoras.
Antes disso, ele atuou como bispo auxiliar de Dom Paulo Evaristo Arns em São Paulo e se envolveu com a Pastoral Carcerária.
Além disso, ele é amigo próximo do ex-presidente Lula e foi quem realizou o casamento de Lula com Janja.
Dom Angélico é um dos últimos bispos que lutaram contra a ditadura no Brasil e sempre esteve ligado às questões da pobreza.
PL "precipitada e inadequada"
Em entrevista para a colunista da Rádio BandNews Mônica Bergamo, Dom Angélico criticou o projeto de lei, afirmando que é uma "distorção da realidade".
Para ele, é precipitado e inadequado punir mulheres sem antes discutir profundamente uma questão tão complexa. Ele enfatizou que a sociedade é machista e que a mulher não deve ser punida, por ser vítima de um contexto maior.
Dom Angélico defende que a questão do aborto não pode ser debatida às vésperas de uma eleição municipal e questinou a motivação dos políticos que defendem essa proposta.
Ele acredita que a Igreja, a sociedade, as escolas, o Congresso e os governos devem focar em abordar essa problemática de maneira global, e não apenas criando leis que aumentem a punição.
Educação sexual
O bispo também ressaltou a importância da educação sexual. Ele compartilhou sua própria experiência, mencionando que nunca recebeu educação sexual adequada, nem na infância, nem na adolescência, nem na velhice.
Ele argumenta que a educação e a orientação científica sobre o corpo e a natureza são essenciais em todas as fases da vida para evitar muitos problemas.