Post enganoso exagera em 5 vezes lucros das estatais em 2021

Tuíte do deputado federal Marco Feliciano diz que estatais brasileiras tiveram lucro de R$ 1 trilhão em 2021, na gestão de Bolsonaro

Rádio BandNews FM

Na verdade, esse valor se refere ao faturamento, não ao lucro, das 47 companhias. Foto: Divulgação/Comprova
Na verdade, esse valor se refere ao faturamento, não ao lucro, das 47 companhias.
Foto: Divulgação/Comprova

Conteúdo investigado: Publicação no Twitter feita pelo deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) afirma que as estatais brasileiras sob a administração Bolsonaro geraram lucro de R$ 1 trilhão em 2021. Ele então sugere que essa informação deve tirar o sono do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: Um post no Twitter do deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) engana ao afirmar que as empresas estatais brasileiras geraram lucro de R$ 1 trilhão em 2021, sob a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Esse foi o valor aproximado (R$ 999,8 bilhões) do faturamento total, não o lucro, das estatais controladas pelo governo federal no ano passado.

O faturamento representa o valor total das receitas obtidas pelas empresas com suas atividades no ano. Para obter o lucro líquido, subtraem-se das receitas os custos das empresas com operações, impostos, entre outras despesas. Em 2021, segundo relatório do Ministério da Economia, o lucro líquido das estatais federais foi de R$ 187,7 bilhões, valor mais de cinco vezes menor do que o faturamento.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 15 de julho, o post do deputado reunia 4.799 curtidas e 1.016 compartilhamentos no Twitter.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com Marco Feliciano pelo WhatsApp para questioná-lo sobre o erro no post. O parlamentar respondeu: “Meu tuíte falava do anseio dos bandidos do PT em voltar a roubar as estatais. E ladrão de dinheiro público não rouba do lucro, rouba do faturamento mesmo! Aliás, como bem visto no BNDES, rouba até do empréstimo!”.

A equipe então perguntou se Feliciano havia confundido lucro por faturamento ao redigir o tuíte. “Estou dizendo que o sentido do que falei não é alterado em um milímetro caso a informação que você me passa seja correta”, disse o deputado. Por fim, o Comprova perguntou se o parlamentar gostaria de fazer algum esclarecimento sobre o post para corrigir a informação, mas desta vez não houve resposta.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca no Google com as palavras-chave “lucro estatais 2021”. A pesquisa retornou diversas notícias de veículos jornalísticos, entre eles CNN Brasil e Folha de S.Paulo, que citam um relatório publicado pelo Ministério da Economia em 1º de julho. Procuramos, então, pelas palavras-chave “balanço estatais ministério economia” e encontramos os boletins de 2021 e 2020.

O Ministério da Economia foi procurado por e-mail para obter dados de lucro e faturamento das estatais entre os anos de 2003 e 2010, durante os mandatos presidenciais de Lula, citado no tuíte do deputado Feliciano. Por meio da pasta, a reportagem também buscou as informações de 2019, primeiro ano da gestão de Bolsonaro.

Os dados foram atualizados pela inflação do período com auxílio da calculadora do IPCA do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Feliciano também foi procurado para fornecer esclarecimentos sobre a postagem.

Estatais federais não lucraram R$ 1 trilhão

Segundo relatório publicado pelo Ministério da Economia, as 47 estatais brasileiras sob controle do governo federal tiveram, juntas, um lucro ou resultado líquido de R$ 187,7 bilhões em 2021. O valor, ainda segundo o balanço, é o triplo do apurado em 2020 e o maior desde 2018. Os melhores resultados foram obtidos pela Petrobras (R$ 107,3 bilhões), BNDES (R$ 34,1 bilhões), Banco do Brasil (R$ 19,7 bilhões), Caixa (R$ 17,3 bilhões) e Eletrobras (R$ 5,7 bilhões).

Em 2020, ainda de acordo com o Ministério da Economia, o lucro das estatais federais totalizou R$ 67 bilhões. O faturamento das companhias somou R$ 815,9 bilhões no período. Em 2019, as estatais lucraram R$ 114 bilhões, e o faturamento foi de R$ 950,6 bilhões.

Resultados das estatais na gestão Lula

Nos anos de 2003, 2004 e 2005, os três primeiros da gestão de Lula, as estatais brasileiras registraram resultado líquido (lucro) de R$ 53,2 bilhões, R$ 59,3 bilhões e R$ 83,8 bilhões, respectivamente. Durante o governo do petista, o melhor resultado foi verificado em 2008: R$ 129,8 bilhões.

Já o faturamento das empresas públicas ficou em R$ 627,6 bilhões (2003), R$ 623,1 bilhões (2004) e R$ 677,5 bilhões (2005) nos três primeiros anos de Lula na presidência da República. Entre os oitos anos de governo do petista, o maior montante foi registrado em 2010, com R$ 885,8 bilhões.

Os valores nominais de 2020 e 2021 foram pesquisados pela reportagem nas edições de cada ano do Relatório Agregado das Empresas Estatais Federais, publicado pelo Ministério da Economia. Já os dados nominais de 2003 a 2010 e de 2019 foram enviados ao Comprova pela assessoria de imprensa da pasta.

O valor nominal é aquele calculado no momento da publicação dos números. Para uma comparação justa, todos os dados anteriores a 2021 foram atualizados pela reportagem segundo a inflação do período, com auxílio da calculadora do IPCA do IBGE.

Autor do post

Marco Feliciano está em seu terceiro mandato como deputado federal. É pastor e presidente da igreja Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento. Feliciano já foi filiado a partidos como PSC, Podemos e Republicanos. Atualmente é membro do PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro.

Por que investigamos: A cerca de três meses da eleição, o tuíte do deputado engana sobre o lucro de empresas federais, que têm suas gestões sob responsabilidade do chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, pré-candidato à reeleição. O eleitor tem direito de escolher em quem votar, e essa decisão deve ser tomada levando em consideração informações verdadeiras sobre a administração pública.