A Polícia Civil do Amazonas anunciou na noite deste domingo (19) ter encontrado e recuperado a lancha usada pelo indigenista brasileiro Bruno Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips no momento em que desapareceram no Vale do Javari, nas proximidades da fronteira com o Peru e a Colômbia.
A embarcação foi encontrada a 20 metros de profundidade, na margem direita do Rio Itacoraí, nas proximidades da comunidade Cachoeira. Sacos de terra evitavam quem o veículo náutico flutuasse. Também foram encontrados um motor e quatro tambores de propriedade de Bruno (três afundados e um em terra firme. Foram mais de cinco horas de trabalho para recuperar a lancha.
Homens da Polícia Militar, do Exército, da Marinha e do Corpo de Bombeiros auxiliaram nos trabalhos de resgate. O ponto exato foi indicado por Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, preso no sábado (18) suspeito de auxiliar na ocultação dos corpos de Bruno e Dom.
Já haviam sido presos Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, e o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”. Ambos tiveram prisão temporária de 30 dias definida pela Justiça do Amazonas por envolvimento no crime. Os homens são pescadores e teriam cometido o crime por conta das denúncias contra a pesca ilegal na região. “Pelado” confessou o crime e levou os policiais até o local em que enterrou os corpos.
No fim de semana, a Polícia Federal afirmou que outros cinco pessoas estão envolvidas na ocultação dos cadáveres de Bruno e Dom e devem responder em liberdade pela participação no crime. Os nomes não foram revelados.
O barco de Bruno deve ser periciado e pode fornecer novas pistas para as investigações, que continuam. Embora a polícia tenha descartado a participação do crime organizado e a existência de um possível mandante do crime, lideranças indígenas e familiares dos mortos cobram por respostas.
Os restos mortais do indigenista e do jornalista foram identificados no laboratório da Polícia Federal em Brasília e as causas das mortes foram confirmadas como disparo por arma de fogo. Os “remanescentes corpóreos” ainda não foram liberados para as famílias e não há informações sobre velório ou enterro.
Bruno e Dom voltavam de uma expedição na região do Vale do Javari, no dia 5 de junho, quando desapareceram. O indigenista auxiliava o jornalista no contato com povos da floresta para a confecção de um livro sobre a Amazônia. Um desfecho para o caso só foi anunciado após dez dias de buscas e muita pressão de comunidades indígenas, familiares e organizações da sociedade civil por conta da demora e do baixo efetivo no trabalho de busca.
O governo britânico chegou a oferecer ajuda e o primeiro-ministro Boris Johnson disse estar “preocupado” com a situação.
O Vale do Javari reúne diferentes povos indígenas isolados ou de recente contato com o homem branco, por isso, é considerada uma área extremamente sensível da floresta tropical. O avanço do garimpo ilegal, da pesca e a atuação de organizações criminosas na área tem sido alertado há anos por comunidades ribeirinhas e indigenistas que atum na área. Próxima da tríplice fronteira com Peru e Colômbia, os números de assassinatos e de crimes na área aumentaram nos últimos anos.
Ao mesmo tempo, a presença do Estado com a Funai (Fundação Nacional do Índio), Polícia Federal, Forças Armaras e órgãos de segurança pública estadual tem diminuído ou estão com estruturas devassadas, de acordo com lideranças indígenas. A Unijava, União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, tem denunciado práticas ilegais e a falta de atuação do poder público na área. A cobrança é por melhor estrutura e mais atenção para a região, uma das mais sensíveis do território brasileiro.