A Polícia Federal deverá iniciar, nos próximos dias, a perícia no celular do homem que se matou ao explodir bombas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite da última quarta-feira (13).
O objetivo é apurar uma possível ligação de Francisco Wanderley Luiz com grupos extremistas e entender se o "homem-bomba" sozinho ou teve ajuda de outras pessoas para planejar o atentado da última quarta-feira, investigado como “ato terrorista”.
Até o momento, os agentes encontraram mensagens em que "Tio França" - como era conhecido - anunciava que faria os ataques ao Supremo Tribunal Federal e a políticos.
Segundo a ex-esposa dele, o objetivo era assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em depoimento à PF, a ex-companheira de Francisco afirmou que o objetivo do autor dos atentados era "matar Moraes e quem mais estivesse junto na hora do atentado".
Ida à Câmara no dia do atentado
Pelas imagens, é possível ver que Francisco entra na Casa por volta de 8:15 da manhã, no Anexo 4, se encaminha à área destinada aos banheiros e depois deixa a Câmara.
No vídeo, é possível ver que Francisco Wanderley passou pelos detectores de metais, informando que iria ao gabinete do deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC). Ambos se conheciam de Rio do Sul.
Diante dos ataques, o Supremo Tribunal Federal foi novamente cercado por grades, como aconteceu depois dos atos criminosos de 8 de janeiro.
Ligações com o 8 de Janeiro
Em um espelho na casa que Francisco alugou em Ceilândia, região no Distrito Federal, Francisco escreveu: "DEBORA RODRIGUES, Por favor não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT".
Debora Rodrigues, mencionada na mensagem de Francisco, foi presa em 2023 por participação nos atos anti-democráticos e viralizou por vandalizar a Estátua da Justiça - mesmo lugar que Francisco se matou - com a frase 'Perdeu, Mané'.
Buscas na casa de Francisco
Em entrevista coletiva, o diretor-geral da Polícia Federal confirmou que as bombas detonadas no entorno da Praça dos Três Poderes eram caseiras, feitas com PVC e pólvora, simulando uma granada. Andrei Rodrigues não descartou a hipótese de financiamento e participação de outras pessoas no ataque.
Ainda ontem, durante as buscas da Polícia Federal na casa alugada por Francisco Wanderley, em Ceilândia, policiais encontraram mais artefatos explosivos usados como armadilhas dentro de gavetas e outros cômodos.
A ação teve auxílio do BOPE, do Exército e de cães farejadores. No entanto, ninguém ficou ferido, já que a varredura foi feita por robôs, de acordo com o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
Repercussão entre os poderes
Na abertura da sessão do STF, o ministro e presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, lamentou a ação na Praça dos Três Poderes e classificou o atentado como mais um ato contra a democracia. "Precisamos, como país e como sociedade, fazer uma reflexão profunda sobre o que está acontecendo entre nós", disse.
Considerado pela PF como principal alvo de Francisco Wanderley, Alexandre de Moraes disse que não existe pacificação no Brasil com anistia a criminosos. “A impunidade destes gera eventos como o de ontem. A impunidade vai gerar mais impunidade”, declarou.
Decano do STF, Gilmar Mendes destacou que atentados como o da última quarta-feira são resultados de ideologias extremistas. Já a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lucia, afirmou que, apesar de preocupante, o episódio não pode abalar o funcionamento das instituições no Brasil.
No Palácio do Planalto, o presidente Lula não se manifestou sobre o assunto e considerou que as respostas das instituições democráticas já são suficientes.
Nas redes sociais, o ex-presidente Jair Bolsonaro também se manifestou com um longo texto. "Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que diferentes ideias possam se confrontar pacificamente. [...] E que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força".
Quem era o ‘homem-bomba’?
Francisco Wanderley Luiz era natural de Santa Catarina e chegou a se candidatar a vereador pelo PL na cidade de Rio do Sul em 2020, mas não foi eleito.
A família disse à PF que ele foi a Brasília em janeiro de 2023, quando aconteceram os ataques às sedes dos Três Poderes, mas não confirmou a participação dele na invasão.