Alvo de operação da Polícia Federal, Jair Bolsonaro deve prestar depoimento assim que a defesa dele analisar os documentos que integram o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal.
Na quarta-feira (03), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente e prendeu o ex-ajudante de ordens dele, o tenente-coronel Mauro Cid, em uma ação contra fraudes em cartões de vacinação.
Segundo as investigações, o então braço-direito de Jair Bolsonaro se associou a outras pessoas – incluindo o ex-secretário de Saúde de Duque de Caxias, João Carlos Brecha – para inserir dados falsos no sistema do SUS.
Para a PF, Mauro Cid e o ex-presidente tinham “plena ciência” das fraudes, e os comprovantes de vacinação foram emitidos em computadores do Palácio do Planalto.
Os dados foram excluídos no dia 27 de dezembro do ano passado, três dias antes de Jair Bolsonaro embarcar para a Flórida, nos Estados Unidos.
Ao todo, a Polícia Federal cumpriu seis mandados de prisão e cumpriu outros 16 de busca e apreensão.
Na casa de Mauro Cid, a PF apreendeu cerca de 190 mil reais em dinheiro vivo – 35 mil dólares e 16 mil reais.
A defesa de Jair Bolsonaro reafirma que o ex-presidente não foi imunizado contra a Covid-19 - como sempre declarou, e que ele não tinha motivos para promover ou determinar a emissão de documentos falsos sobre a vacinação.
A manifestação em nota o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno acompanhou o posicionamento do próprio político.
Também foram detidos o ex-PM do Rio Max Guilherme e o capitão da reserva do Exército Sérgio Cordeiro, seguranças do ex-presidente.
Junto com o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, que era da equipe de Mauro Cid, eles teriam entregado e recebido documentos adulterados.
Já o secretário de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Souza Brecha, é suspeito de registrar as informações fraudadas no Sistema Nacional de Vacinação.
Ailton Gonçalves Barros, candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro em 2022, teria intermediado o contato com a Prefeitura da cidade da Baixada Fluminense.
O coronel Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro fizeram parte da comitiva de Bolsonaro enquanto ele permaneceu nos Estados Unidos.
A suspeita é de que os cartões de vacinação de todos eles, e também da família de Cid, eram falsos.
A apuração sobre o caso foi iniciada pela Controladoria Geral da União; a Polícia Federal entrou na investigação e identificou que a primeira fraude teria ocorrido em 2021 na cidade de Cabeceiras, em Goiás.
Na ocasião, Mauro Cid pediu ajuda a um sargento do Exército para obter um documento para a esposa e a filha. O grupo teria tentado registrar os dados no ConectSUS, do Ministério da Saúde, mas como o lote do imunizante informado não batia, eles não tiveram sucesso.
Em dezembro do ano passado ocorreu uma nova tentativa, intermediada por Ailton Gonçalves, desta vez em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Participaram o secretário de Governo, João Carlos de Souza Brecha, e o deputado federal Gutemberg Reis, irmão do então prefeito da cidade, Washington Reis
E também o ex-vereador carioca Marcello Siciliano - dessa vez, os dados foram aceitos pelo sistema.
Com os comprovantes de vacinação impressos, seis dias depois, as informações teriam sido apagadas do banco de dados para não deixar rastros da falsificação.
A CGU confirmou que, de acordo com os dados falsos, Bolsonaro teria recebido a primeira dose contra a Covid em 13 de agosto de 2022, em Duque de Caxias.
A segunda teria sido aplicada em 14 de outubro de 2022, também na cidade da Baixada Fluminense; no dia 30 de dezembro ele viajou para os Estados Unidos.
Ainda segundo a PF, o certificado de vacinação de Jair Bolsonaro foi emitido pela conta dele – aberta com o e-mail de Mauro Cid – no dia 22 de dezembro.
A emissão ocorreu um dia após João Carlos Brecha inserir os dados no ConectSUS – que depois teve o e-mail alterado para o de outro assessor do então presidente, Marcelo Costa Camara.
Uma semana depois, as informações foram excluídas do sistema por Claudia Helena Acosta - chefe da central de vacinação de Duque de Caxias - sob alegação de erro.
Ao autorizar a operação desta quarta-feira (03), o relator da ação no Supremo chega a discordar do Ministério Público Federal.
E diz não ser crível a afirmação da Procuradoria-Geral da República – que chegou a discordar do cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro – de que Mauro Cid teria arquitetado e capitaneado sozinho a ação criminosa.
Alexandre de Moraes reconhece que o militar foi o responsável por inserir os dados falsos no sistema.
Mas destaca que isso não ocorreria à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência de Bolsonaro.
Segundo as investigações, os acessos ao ConectSUS foram feitos de computadores que pertencem à Presidência da República, cadastrados no Palácio do Planalto.
As entradas no aplicativo foram feitas nas datas de 22 e 27 de dezembro do ano passado e os certificados de vacinação foram emitidos em inglês.
Agora, técnicos da Polícia Federal vão periciar o telefone do de Bolsonaro em busca de mensagens com o coronel Cid.
Mas delegados já foram informados de que ele trocou de aparelho duas vezes desde dezembro, e não é o mesmo número nem modelo de quando estava no Planalto.
Os peritos então vão buscar os chamados metadados: conversas antigas armazenadas nos provedores.