Notícias

Pesquisadora fala sobre segurança pública para negros: “Não estão preparados”

“A taxa de vitimização de pessoas negras no Brasil é de 29,7 homicídios para cada 100 mil habitantes”, explica especialista

Da Redação

Juliana Brandão, Pesquisadora Sênior no Fórum Brasileiro de Segurança Pública, participou de uma entrevista exclusiva para o programa Pretoteca, apresentado por Larissa Alves, no Band News FM, onde expôs questões cruciais sobre a segurança pública no Brasil, especialmente no que tange à população negra.

A especialista trouxe à tona os recortes de raça e gênero do Atlas da Violência 2024, elucidando como o racismo estrutural e institucional permeia as instituições de segurança pública, e como isso afeta de maneira desproporcional as pessoas negras e mulheres no país.

Segundo Juliana Brandão, as instituições de segurança pública não estão preparadas para prover direitos adequados para a população negra. 

"As instituições não estão dando conta de fato de prover direitos para essa parcela da população. Desde o acesso às políticas que protejam as mulheres no recorte de gênero até a formalização de denúncias em episódios de violência, há uma série de barreiras que dificultam o acesso e a justiça para essas mulheres", afirmou.

A pesquisadora também ressaltou que, ao analisar a violência racial no Brasil, é possível observar que algumas regiões apresentam taxas de homicídios de pessoas negras muito superiores à média nacional. 

"A taxa de vitimização de pessoas negras no Brasil é de 29,7 homicídios para cada 100 mil habitantes. Algumas unidades da federação, principalmente no Norte e Nordeste, superam essa taxa. Estados como Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pernambuco, Amapá, Amazonas, Pará e Rondônia apresentam índices alarmantes", explicou.

Iniciativas importantes para a luta antirracista

Ao abordar a questão da segurança pública e racismo, Juliana enfatizou: "Enquanto não aceitarmos que o racismo é uma realidade concreta no Brasil, continuaremos insistindo em interpretações que não ajudam a solucionar essa situação. Precisamos olhar para esses dados com seriedade e entender que eles refletem a operação do racismo estrutural", disse.

É fundamental reforçar a importância de iniciativas que apoiam a luta antiracista. Juliana destacou a importância da divulgação de dados e das ações afirmativas como passos importantes nessa direção.

“O fato de publicarmos esses dados, como os do Atlas da Violência, permite que discutamos a violência no Brasil com base em evidências. As ações afirmativas, como concursos públicos que consideram a inclusão de pessoas negras, são essenciais para termos mais representatividade em posições de poder e na produção de direitos", afirmou.

"É crucial que as crianças aprendam sobre a história negra e indígena, e que os currículos escolares sejam renovados para incluir essas perspectivas. Formar cidadãos conscientes é fundamental para lidar com a realidade do racismo no Brasil", destacou.

A representatividade em cargos de tomada de decisão foi outro ponto abordado por Juliana. Ela enfatizou que a presença de pessoas negras em posições de poder na segurança pública pode trazer uma sensibilidade diferente ao tratamento das questões de violência e justiça.

"Ter pessoas negras em posições como delegados, escrivães de polícia, promotores e defensores públicos faz diferença na forma como as situações são conduzidas. Precisamos de gente que olhe para essas questões com coragem e responsabilidade, aplicando a lei de maneira justa para todos", argumentou.

A mulher ainda destacou que, para avançar na luta contra o racismo e a violência, é necessário coragem e responsabilidade. 

"Precisamos renovar o debate e enfrentar essa realidade com seriedade. Somente assim poderemos superar essa situação e construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos", finalizou.