Paraguai convoca embaixador do Brasil para explicações sobre suposta ação hacker da Abin

Segundo reportagem do UOL, Abin agiu para tentar obter informações relacionadas às políticas de preços paraguaias nas negociações do Anexo C de Itaipu

Da redação, com Estadão Conteúdo

O governo do Paraguai convocou o embaixador brasileiro em Assunção, José Antônio Marcondes, para cobrar explicações sobre uma suposta ação hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra sistemas paraguaio em busca de informações sobre a Usina Hidrelétrica de Itaipu. O embaixador paraguaio no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, também foi chamado para consultas. 

Uma reportagem publicada pelo UOL diz que o governo brasileiro, sob a gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), executou uma ação hacker contra autoridades do governo do Paraguai. O planejamento da operação de espionagem teve início ainda na gestão da agência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mas a ação foi executada com a autorização do atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa. 

Segundo a notícia, a ação invadiu computadores para obter informações sigilosas relacionadas à negociação de tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu. A Polícia Federal apura agora se a operação hacker contra o governo do Paraguai teve caráter ilegal.

Os ministros paraguaios das Relações Exteriores, Rubén Ramírez Lezcano, de Tecnologias da Informação e Comunicação, Gustvo Villate, e da Indústria e Comércio, Javier Giménez García de Zuñiga, coordenaram a reação. Giménez classificou o caso como violação ao direito internacional. Ele disse que a espionagem "afeta profundamente a relação entre parceiros".

"O que está claro é que houve uma ordem formal para levar adiante atividades de inteligência. Isso afeta a relação entre parceiros e obriga a restituir um elemento fundamental: a confiança", afirmou o ministro.

Lezcano disse que o caso é visto com "absoluta seriedade" pelo lado paraguaio e que o governo Peña vai adotar quatro medidas. Villate disse que os fatos ocorreram no governo do ex-presidente Mario Abdo Benítez, sem registro de violações desde agosto de 2023, quando Peña tomou posse. Segundo ele, o Paraguai toma medidas de segurança necessárias.

As autoridades paraguaias também disseram que as negociações sobre o Anexo C da usina estão suspensas até que o governo brasileiro dê informações detalhadas sobre a operação. O acordo, previsto para ser firmado em maio deste ano, sobre novas condições financeiras de comercialização de energia da hidrelétrica.

O Anexo C trata como Brasil e Paraguai dividem a energia gerada pela usina – que produz muito mais do que os paraguaios necessitam. O Brasil, então, compra esse excesso dos vizinhos. 

Na última segunda (31), o Itamaraty divulgou uma nota em que “desmente categoricamente” a operação. Segundo a pasta da diplomacia nacional, a ”operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da ABIN em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato".  

Na linguagem diplomática, a convocação de embaixadores para consultas expressa um descontentamento formal de um país com outro.

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