O presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Gustavo Fernandes Ferreira, conversou com exclusividade com a BandNews FM nesta terça-feira (22) e falou sobre a atual fila de transplante de órgãos no Brasil.
Na esteira do recente anúncio de que o ex-apresentador do Grupo Bandeirantes, Fausto Silva, necessitará de um transplante de coração - já com o ingresso na fila do órgão -, o BandNews Station conversou com o especialista para entender o cenário do transplante de órgãos no país.
Segundo Gustavo, o Brasil possui um sistema "transparente" de transplante de órgãos que possibilita a todos os cidadãos a possibilidade de serem transplantados de maneira igualitária.
"[O sistema de] Transplante de órgãos [brasileiro] é uma conquista e temos hoje o maior programa de transplante público do mundo. Brasileiros entendem que o programa de transplante é transparente. Todo cidadão tem a mesma oportunidade para transplantar, independente da origem, condição financeira ou fonte financiadora do transplante."
O presidente da entidade informou que, atualmente, o Brasil conta com uma fila de quase 70 mil brasileiros que encontram-se no aguardo por um transplante.
"Só existe transplante com doação. Não existe transplante sem doação, é fundamental que consigamos discutir esse tema com a sociedade. As pessoas em casa, caso entendam que é importante, é importante manifestar seu desejo de serem doadores caso ocorra uma fatalidade com a morte cerebral. É única condição que permite a doação de órgãos."
Gustavo ressalta, ainda, que em caso de possível doação, a família do doador será questionada sobre a possível entrega dos órgãos a pacientes que estão na fila do transplante e, em caso de resposta negativa, a decisão familiar será respeitada.
"Fizemos uma pesquisa recentemente e mais de 70% dos brasileiros disseram que são doadores em vida. No entanto, estamos com uma recusa familiar de 49%. A recusa faz com que tenhamos que diminuir a oferta de órgãos. A Espanha tem uma recusa familiar de 12%. Se tivéssemos uma recusa familiar como a da Espanha, teríamos um numero de doações muito maior."
Questionado sobre a funcionalidade da lista de doação e como os órgãos são destinados aos possíveis receptores, o presidente da ABTO explicou que há um programa chamado de "Lista Única", regulamentado pelo Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, e que realiza a administração dos órgãos a serem transplantados.
De acordo com as especificações do programa, há o cadastro de pacientes de maneira regionalizada por Estado. "Cada estado regula sua lista e as centrais estaduais de transplantes possuem todos os pacientes cadastrados", afirmou.
Além disso, cada órgão possui seus próprios critérios de alocação. Como exemplo, Gustavo explica que um coração - para ser transplantado - depende do tipo sanguíneo e das condições clínicas que se encontra. Já no caso do rim, o fator determinante é a compatibilidade.
"Ou seja, quanto maior a compatibilidade, mais chance ele será rankeado. Você pode ter um paciente que está aguardando por um órgão por cinco anos e outro por um ano. No entanto, a compatibilidade do doador com o que está na lista a menos tempo é maior. Sendo assim, a chance de conseguir um transplante daquele que está a um ano na lista é maior. Cada órgão tem seus critérios", comentou.