Morreu nesta quinta-feira (6) o dramaturgo, diretor e ator José Celso Martinez Corrêa. Aos 86 anos, o multifacetado agitador cultural não resistiu aos ferimentos provocados por um incêndio no apartamento dele.
O incidente na última terça-feira (4) provocou queimaduras em 53% da superfície corporal do artista, que estava internado na UTI do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Zé Celso, como era conhecido, era casado com o também dramaturgo Marcelo Drummond. A cerimônia foi realizada no dia 6 de junho em uma cerimônia no Teatro Oficina, que era comandado pelo diretor.
Fundador da mais longeva Companhia de Teatro do país, tornou-se um nome fundamental para as artes cênicas, junto do seu Teatro Oficina. Apesar do interesse pelas artes ter surgido ainda na infância, ele primeiro foi convencido pelos pais a procurar um rumo mais tradicional para a vida. Saiu de Araraquara, no interior de São Paulo, para estudar Direito no Largo São Francisco, na USP. E foi com os colegas do curso que, em 1958, ele fundou o Teatro Oficina.
O grupo se tornou referência para crítica e para o público, mas os rumos políticos do País mudaram os rumos e consolidaram a trajetória do Oficina. O golpe militar 1964 atingiu em cheio a atuação dos artistas.
Durante a encenação da peça Roda Viva, em mil 968, em São Paulo. Num dos dias de espetáculo, o Comando de Caça aos Comunistas esperou o público ir embora, invadiu o teatro, destruiu os camarins e espancou os artistas. Em Porto Alegre, o hotel onde os artistas ficaram hospedados foi invadido, dois deles foram sequestrados. Em 1974, Zé Celso e os atores do Teatro Oficina decidem buscar exílio em Portugal.
Zé Celso retornou ao Brasil em 1978 e ajudou a liderar o renascimento do Grupo, participando da inauguração do espaço lendário que tem projeto da arquiteta Lina Bo Bardi.
Espaço aliás que é uma página à parte na história de Zé Celso porque marca uma disputa dele com o Comunicador e empresário Silvio Santos. Quase todo o entorno do teatro é de Silvio Santos, que queria construir três torres residenciais de 100 metros de altura no espaço aberto ao lado do Oficina.
O problema, na visão de Zé Celso, é que o projeto prejudicaria a visão do teatro, um edifício tombado, o projeto descaracterizaria o bairro do Bixiga e acabaria com os planos iniciais da arquiteta Lina Bo Bardi que era o de ter um parque ali ao lado do Teatro. A questão nunca foi completamente resolvida.
Em 2018, houve uma reunião entre Silvio Santos, Zé Celso, com a participação do então prefeito de São Paulo João Doria para tentar mediar o assunto.
Em 2023, aos 86 anos, Zé Celso casou com o também diretor Marcelo Drummond, de 60 anos. Os dois já vivam juntos há 37 anos, mas decidiram oficializar a união em uma festa no teatro Oficina. A cerimônia foi uma celebração das artes – com show de Marina Lima, Daniela Mercury.