Máscaras protegem contra epidemia de H3N2

Publicação no Twitter questiona eficácia de máscaras mas especialistas apontam flexibilização de medidas sanitárias como principal causa da epidemia de gripe

BandNewsFM

Higiene das mãos e distanciamento social também são métodos eficazes
Foto: Reuters
  • Conteúdo analisado: Post no Twitter de mulher que se identifica como jornalista levanta a dúvida: “Rio e São Paulo com epidemia de Influenza. As máscaras servem para quê?”. O Comprova preparou conteúdo explicativo sobre a eficácia dos equipamentos de biossegurança, já que a publicação teve 7,2 mil interações.

A epidemia da cepa H3N2, da Influenza A, tem gerado comentários que questionam a utilidade de vacinas e métodos preventivos, capazes de combater vírus como o da covid-19 e o do próprio Influenza, conhecido por ser uma gripe sazonal.

Exemplo disso é uma publicação no Twitter que questiona a serventia das máscaras de proteção usadas contra o novo coronavírus se o Rio de Janeiro e São Paulo estão com epidemia de influenza, vírus causador da gripe.

Diante dos questionamentos, o Comprova decidiu explicar por quais razões as máscaras seguem como eficazes no combate de ambos os vírus que se enquadram como epidemias no país.

Epidemia da influenza está ligada às flexibilizações e falta de vacinação

O aumento de casos está realmente acontecendo – e se espalhou para outros locais, como o estado do Espírito Santo e as cidades de Salvador, na Bahia, e Porto Velho, em Rondônia –, mas esse cenário não invalida a importância das máscaras, segundo especialistas.

Como o vacinologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Odir Dellagostin explicou ao Comprova, a vacina contra a gripe oferecida neste ano “tem uma baixa proteção contra a Darwin, cepa do vírus influenza A H3N2, que está provocando o surto”. E, para piorar o cenário, diz ele, o uso de máscaras está diminuindo. “As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, sem máscara, o que reduz a efetividade dela.”

Ainda de acordo com ele, “a solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto da máscara, o distanciamento e o uso de álcool em gel”.

O mesmo disse à Folha Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC): “Agora, (para nos proteger,) são as medidas preventivas, como uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações”.

Epidemia

No dia 9 de dezembro, quando o post verificado aqui foi publicado, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro confirmou em redes sociais que a capital vive uma epidemia de influenza. “Será que estamos enfrentando uma epidemia de influenza? A epidemia está localizada no município do Rio e já há aumento do número de casos em outros municípios da região metropolitana”, escreveu o órgão no Twitter.

Em nota publicada no UOL, a secretaria afirmou: “Esse crescimento repentino, verificado a partir de 22 de novembro, quando foram registrados 505 atendimentos, atingiu quase 6 mil atendimentos no último dia 6. Trata-se do maior número de atendimentos por uma única doença realizados nas UPAs estaduais em um único dia desde o início da pandemia”.

Na capital fluminense, a prefeitura está instalando cinco centros de atendimento e testagem de pessoas com síndrome gripal “para reforçar a assistência à população durante o surto de influenza”. A estratégia é semelhante à adotada em 2009, durante o surto de H1N1.

Em São Paulo, segundo e-mail da Secretaria Municipal de Saúde enviado ao Comprova, “houve um aumento significativo de pessoas com síndrome gripal” na última semana. O órgão informou ainda que, em novembro, houve 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de covid-19 e, agora na primeira quinzena de dezembro, já foram 91.882 atendimentos com quadro respiratório (45.325 suspeitos de covid-19).

Em 15 de dezembro, o surto da doença já atingia outros locais, como Espírito Santo e as cidades de Salvador e Porto Velho. Só na capital baiana, de acordo com a Folha, a Secretaria Municipal de Saúde “registrou 109 casos da doença em 2021, sendo que 106 deles foram notificados entre o final de novembro e início de dezembro”.

Rio e SP seguem recomendando máscaras em ambientes de maior risco

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), determinou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre. A medida foi definida por meio de um decreto, publicado em 27 de outubro deste ano.

O anúncio da mudança aconteceu em transmissão ao vivo, com a presença do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, que lembrou a necessidade de pessoas com sintomas gripais continuarem usando a proteção. A medida também previu a liberação do uso de máscaras em locais com pista de dança, com capacidade de público de até 50%.

Junto à decisão sobre as máscaras, o Rio suspendeu todas as demais regras estabelecidas para combater a covid-19 no município, em um segundo decreto, publicado no dia 12 de novembro no Diário Oficial. Este mesmo decreto manteve o uso obrigatório de máscaras em locais fechados e transportes públicos.

Já em São Paulo, a variante ômicron levou o governo e a prefeitura da capital a manterem o uso obrigatório de máscaras em espaços abertos e fechados.

A suspensão do uso obrigatório de máscaras estava prevista para ocorrer no estado em 11 de dezembro, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), havia declarado que pretendia seguir as medidas determinadas pela gestão de João Doria (PSDB).

Com o avanço da nova variante da covid-19, a Vigilância Sanitária recomendou o cancelamento da flexibilização de máscaras. O órgão elaborou um estudo com indicadores epidemiológicos e assistenciais.

Máscaras são importantes contra a covid e a influenza

Ainda que a vacina contra a gripe usada no país tenha a mutação H3N2 em sua composição, a variante não é a mesma que circula agora no Rio e em São Paulo. A nova cepa, titulada Darwin — cidade na Austrália onde ela foi identificada pela primeira vez —, não está coberta pela atual vacina.

O vacinologista Odir Dellagostin detalhou que a cepa não faz parte da formulação que a OMS recomendou para ser utilizada na vacina deste ano. “Portanto, a vacina tem uma baixa proteção contra esta cepa, ainda mais reduzida pelo timing em que está ocorrendo o surto: mais de 6 meses após a campanha de vacinação”, explica.

Na visão de Dellagostin, o uso de máscara está diminuindo e isso representa um risco de exposição tanto para a covid-19 quanto para a nova mutação do vírus da gripe comum.

“As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, portanto, sem máscara. Isso está reduzindo a efetividade”.

Ainda de acordo com o vacinologista, o caminho para contornar a epidemia de H3N2 tem que se basear em medidas de prevenção. “A solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto de máscara — cobrindo boca e nariz —, o distanciamento, o uso de álcool gel”, finaliza.

O médico infectologista Rodrigo Nascimento explicou que, para que as máscaras consigam filtrar adequadamente o ar das partículas infecciosas, é preciso que sejam fabricadas de maneira adequada e recebam o selo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os modelos mais indicados, de acordo com o profissional, são as máscaras PFF2 (peça facial filtrante) ou N95 –que trata do mesmo modelo, mas a primeira é certificada no Brasil e a segunda, nos Estados Unidos. “Mas as máscaras simples, cirúrgicas, são eficazes também, em torno de 30% a 40% menos do que as N95 e PFF2”.

Apesar da eficiência das máscaras contra a disseminação dos vírus, seu uso deve ser aliado a outras medidas para melhor efetividade. Os métodos de prevenção contra a doença seguem as mesmas regras de outras doenças virais, assim como a covid-19, incluindo higienização correta das mãos; evitar contato com pessoas infectadas; não compartilhar objetos pessoais, como copos, talheres, toalhas; evitar locais de grande aglomeração e pouco arejado; manter hábitos saudáveis.

Além disso, os governos estaduais realizam anualmente, de forma gratuita, campanhas de vacinação contra a Influenza.

“As vacinas contra influenza são muito eficazes, elas são revisadas anualmente. Através da cepa anterior, é produzida novas vacinas e após 14 dias aproximadamente, ela já produz anticorpos nas pessoas”, relatou o médico.

O público prioritário para receber os imunizantes são idosos, crianças e pessoas com imunossupressão, por serem mais suscetíveis ao vírus e assim, possuírem mais chances de evolução para quadros graves que um jovem saudável, por exemplo.

“Claro que dependem do organismo de cada pessoa, da capacidade que cada pessoa tem de produzir anticorpos. São características individuais imunológicas, por isso que a vacina é prioritariamente indicada para pessoas idosas e pessoas imunossuprimidas, que têm baixa capacidade de se defender de microorganismos”, pontuou.

Questionamento

O tuíte que questiona a eficácia das máscaras e mencionado aqui foi publicado por Flavia Ferronato (@flferronato). Na sequência do post checado agora, ela escreve: “E antes que venham torrar a paciência, eu realmente estou tentando entender como isso é possível, tá ok?”, o que não impediu que seguidores tenham interpretado a publicação como uma forma de descredibilizar as máscaras e outras medidas de combate contra a covid.

Um seguidor comenta: “Será uma epidemia dos vacinados? Por baixa imunidade?”; outro escreve: “Pois é! Inclusive na minha casa todos com a influenza, por enquanto menos eu que não vacinei”; e, mais um: “As máscaras são super eficazes contra doenças respiratórias, o que não é o caso do infl… não, pera…”.

Ferronato já apareceu em uma verificação do Comprova, em novembro de 2020, quando fez um post enganoso no site Jornal da Cidade Online – alvo de algumas checagens do projeto – e em seu perfil no Twitter sugerindo que o Instituto Butantan não havia informado sobre morte de voluntário da vacina Coronavac.

À época, após ser contatada pela reportagem, ela fez publicações em suas redes sociais criticando o trabalho de agências de checagem e procurando intimidar a verificadora que a contatou.

Desta vez, ela respondeu a reportagem dizendo que escreveu o tuíte porque queria “entender por que as máscaras não conseguiram segurar o influenza”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo verificado aqui teve mais de 6,6 mil curtidas e foi compartilhado 1,2 mil vezes até 17 de dezembro.

Máscaras seguem como proteção fundamental para evitar a contaminação e disseminação de vírus como a H3N2 e a covid-19, principalmente em ambientes fechados e sem ventilação. Pouco usada antes da pandemia no Brasil, a proteção facial é uma das principais medidas contra a covid-19 e, consequentemente, contra outros vírus que se disseminam pelo ar, como o influenza. Sem as máscaras, os cidadãos ficam mais vulneráveis a esses vírus.

O Comprova checa peças de desinformação sobre as máscaras desde o ano passado. Alguns exemplos de verificação são o do influenciador que dizia que a proteção facial não era eficiente contra a covid-19 e o de estudo sem revisão usado também para desacreditar o uso do equipamento.

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