A cada quatro horas, uma pessoa negra é morta em ações policiais em seis estados brasileiros, segundo dados do novo boletim da Rede de Observatórios da Segurança, divulgado nesta terça-feira (14).
O estudo "Pele alvo: a cor da violência policial" apontou que, só em 2020, das mais de 2.650 mortes provocadas pela polícia nesses locais, 82,7% foram de pessoas negras.
O levantamento levou em conta as ocorrências com informação racial no Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco e São Paulo e tem como base os dados repassados pela Lei de Acesso à Informação.
O Rio de Janeiro é o estado que mais produz mortes em ações e intervenções policiais: dos 1.245 mortos que tiveram a raça informada, 86% eram negros.
Esse é o terceiro maior registro de toda a série histórica. A capital fluminense também é a que registrou o maior número total de mortes, com 415 registros.
No município do Rio, os negros são 90% dos mortos em ações policiais.
Uma pessoa negra é morta pela polícia a cada quatro horas.
O historiador e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro, diz que os números traduzem as desigualdades raciais existentes no Brasil.
A Bahia apresenta a maior porcentagem de mortes de pessoas negras. A cada 100 óbitos registrados em ações realizadas pelas forças de segurança pública, 98 foram de pessoas pretas ou pardas.
Índice muito maior que a proporção de negros na população em geral, que de acordo com o IBGE, é 76,5%.
Em 2020, seiscentas e sete pessoas morreram em ações policiais na Bahia. Uma delas foi o barbeiro Davi Pereira Santos Oliveira, de 22 anos.
A família alega que ele foi morto durante uma ação da Polícia Militar, na cidade de São Félix, no Recôncavo Baiano.
A mãe de Davi, Simone Pereira, disse que o filho foi baleado quando deixava o trabalho. O jovem foi morto em dezembro de 2020 e até hoje a família não teve um retorno sobre as investigações realizadas pela Corregedoria da Polícia Militar da Bahia.
A reportagem da BandNews FM entrou em contato com a Polícia Militar para ter detalhes sobre as investigações em relação às condutas dos policiais envolvidos no caso, mas não obteve retorno.
O levantamento da Rede de Observatórios da Segurança mostrou também que no Ceará negros têm sete vezes mais chances de serem mortos do que pessoas brancas.
No Piauí, 91% das vítimas nas ações policiais são negras.
O porcentual chegou a 97,3% em Pernambuco.
Já em São Paulo, foram 814 mortos e em 63% dos casos, as vítimas eram negras. Todos os dados são de 2020.
Dudu Ribeiro diz que é preciso mudar a forma de pensar a política de segurança pública para que a realidade se transforme.
A BandNews FM entrou em contato com todas as seis secretarias de segurança pública que forneceram dados raciais sobre as mortes em ações da polícia.
Por nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que os casos de morte decorrente de intervenção policial estão em queda no estado e ao longo dos últimos 15 meses a redução foi de 37%.
Já o governo do Ceará afirmou que os profissionais de segurança pública possuem disciplinas na Academia Estadual de Segurança Pública que proporcionam uma formação humanizada e de intervenções técnicas, o que resulta em profissionais preocupados com as questões sociais e a resolução de conflitos.
Pernambuco afirmou que todas as ocorrências de morte em decorrência de intervenção policial em que há indício de imprudência, imperícia ou dolo por parte do servidor público são investigadas com rigor.
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia disse que a polícia é treinada para usar armas letais somente em situações de legítima defesa, após esgotar todas as tentativas de prender os suspeitos.
Por fim, a assessoria da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que "estes dados refletem um quadro histórico de desigualdade social, no qual os afrodescendentes têm ocupado a maior parcela da população vulnerável e, consequentemente, mais propensa a ser cooptada pelo crime organizado".
O governo do Piauí não respondeu aos nossos questionamentos.