O presidente Lula confirmou, nesta quinta-feira (1º), a indicação do ex-advogado dele Cristiano Zanin Martins para o Supremo Tribunal Federal na vaga deixada pelo ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril, um mês antes de ser obrigado pela legislação a deixar a Corte, por completar 75 anos. Zanin será sabatinado pelo Senado e, para assumir o cargo, terá de ter o nome aprovado pelos parlamentares.
A possibilidade da indicação foi tratada publicamente pela primeira vez por Lula na BandNews FM, em entrevista exclusiva ao âncora Reinaldo Azevedo, no O É da Coisa, no início do ano. Na ocasião, sem poupar elogios ao advogado, afirmou que todos entenderiam a escolha e que, mesmo já tendo indicado outros amigos para cargos desse tipo, nunca o fez por esse motivo especificamente.
Zanin, caso seja aprovado, será o terceiro indicado por Lula na atual formação do STF, ao lado dos ministros Cármen Lúcia e Dias Toffoli. Outros quatro foram indicados pela ex-presidente Dilma Rousseff: Luiz Fux, Rosa Weber, Luis Roberto Barroso e Edson Fachin. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o responsável por dois: Nunes Marques e André Mendonça. Há ainda uma indicação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a do ministro Gilmar Mendes, e uma do ex-presidente Michel Temer, a de Alexandre de Moraes.
Formado pela PUC de São Paulo, Cristiano Zanin ficou conhecido pela defesa que fez em uma das ações penais mais comentadas da história do país: aquela que, no âmbito da Operação Lava Jato, condenou e prendeu o presidente da República. Curiosamente, a área não é a formação principal do piracicabano de 47 anos, que é especialista em direito civil e litígios empresariais. Isso, inclusive, foi motivo de críticas de petistas quando ele assumiu os processos penais nos quais Lula era acusado.
Ao lado da esposa, Valeska Zanin, com quem tem três filhos, Zanin administra um escritório de advocacia. O escritório, aliás, é especialista no enfrentamento de lawfare: na prática, um termo que significa manipular leis para intimidar oponentes. Em diversas ocasiões, Zanin criticou abertamente os responsáveis pela Lava Jato e a forma como a investigação era conduzida, nos tribunais, pelo então juiz Sérgio Moro, atualmente senador. Ao longo das audiências na 13ª Vara de Curitiba, o advogado protagonizou muitos embates com Moro.
Por outro lado, desde que teve o nome ventilado para o STF, o advogado recebeu elogios dos atuais integrantes do STF. Os elogios chegaram a ser públicos, inclusive, durante a atuação de Zanin na defesa de Lula, como o que foi feito por Gilmar Mendes. O ministro do STF elogiou o advogado durante o julgamento que reconheceu a suspeição de Moro para julgar o atual Presidente da República.
Zanin foi advogado de Lula por 10 anos. Apesar disso, nunca militou politicamente nem foi filiado a qualquer partido. Porém, a imagem dele, atrelada ao PT, foi mote para a intimidação. Em 2016, durante um evento na escola dos filhos, outros pais fizeram um protesto para constrangê-lo. Mais recentemente, foi ameaçado por um empresário, no banheiro do Aeroporto de Brasília.
O novo indicado ao STF foi professor de Direito Civil e Direito Processual Civil na Faculdade Autônoma de Direito, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros e é fundador do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial.
Se aprovado, ele vai assumir cerca de 760 processos que já tramitam no Supremo e que estavam sob relatoria do ministro Ricardo Lewandowski. Entre eles, a ação em que que o advogado Rodrigo Tacla Duran acusa o senador Sérgio Moro de tentativa de extorsão quando era juiz da Lava Jato.