A atriz Klara Castanho relatou na noite deste sábado (25) ter sido vítima de estupro e ter tido a privacidade violada, ao decidir entregar, de forma legal, um bebê para adoção. A gestação foi consequência da violência sexual. A jovem, de 21 anos, explicou ter descoberto que estava grávida pouco tempo antes do parto. A artista compartilhou a história em uma carta aberta divulgada em seu perfil no instagram e falou sobre a sequência de violações de que foi vítima. Castanho escreveu ainda sobre o trauma de ter a história exposta de forma distorcida e sem seu consentimento.
Klara Castanho abre o pronunciamento explicando o motivo que a levou a se manifestar.
“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la dessa maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos”
As conspirações e versões que Castanho cita fazem referência a insinuações que se espalharam pela internet.
"Uma tristeza infinita que eu nunca tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido", relatou a atriz.
Klara Castanho descreveu o momento em que descobriu a gravidez, que já estava em estágio avançado. “Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando eu soube. Foi um choque. Meu mundo caiu...O médico não teve nenhuma empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade ou desejo, eu tinha sofrido uma violência.”
A atriz contou que não denunciou o estupro por ter se sentido envergonha e culpada. O Anuário de Segurança Pública de 2020 aponta que o Brasil registra um estupro a cada 8 minutos. Dados anteriores estimam uma subnotificação de 35% neste tipo de violência, justamente porque muitas vítimas sentem medo, vergonha e culpa.
Na carta aberta, Klara Castanho falou da insegurança e da decisão de encaminhar a criança para adoção, e descreveu os trâmites formais que percorreu para garantir a legalidade do processo.
“Eu procurei uma advogada e conhecendo o processo, tomei a decisão de fazer uma entrega direta para adoção. Passei por todos os trâmites: psicóloga, ministério público, juíza, audiência – todas as etapas obrigatórias. Um processo que, pela própria lei, garante sigilo para mim e para a criança. A entrega foi protegida e em sigilo".
Castanho finaliza a carta dizendo que “A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige.”
Artistas e colegas manifestaram solidariedade à atriz e compartilharam mensagens de apoio nas redes sociais.