Nove anos. Esse foi o tempo entre o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, e o maior julgamento da história brasileira em número de vítimas.
Em Porto Alegre, o Tribunal do Júri ouviu dois sobreviventes, 16 testemunhas, um informante e quatro réus.
Foram dez dias de depoimentos marcados pela emoção de quem precisou lembrar do dia da tragédia.
Esse foi o caso de Kelen Leite Ferreira, de 28 anos. Ela teve 18% do corpo queimado e perdeu um pé na tragédia.
Jéssica Rosado compareceu ao júri vestida com uma camiseta com a foto do irmão Vinicius, uma das vítimas do incêndio.
Ele voltou várias vezes para tentar encontrar sobreviventes dentro da boate, mas acabou não resistindo aos efeitos da fumaça
Lucas Cauduro Peranzoni, de 40 anos, era o DJ no dia da tragédia. Ele contou que, antes de conseguir sair, acabou desmaiando, foi pisoteado e depois retirado do local.
Venâncio da Silva Anschau é ex-operador de áudio da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava no momento do incêndio.
Durante depoimento, ele disse que errou ao desligar o som dos microfones, impedindo que fosse anunciado o fogo.
O julgamento também foi marcado por momentos de exaltação e até discussão entre o juiz Orlando Faccini Neto e o advogado Jean de Menezes Severo, que defende o réu Luciano Bonilha Leão.
O bate-boca ocorreu durante depoimento de Daniel Rodrigues, gerente da loja que vendeu o artefato pirotécnico causador do incêndio na boate.
Sobreviventes e familiares de vítimas cobraram que entes públicos também fossem responsabilizados pelo ocorrido.
O ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, foi convocado para prestar depoimento, mas na condição de testemunha. Ele garantiu que nenhum servidor da prefeitura contribuiu para a tragédia.
Já o promotor de Justiça em Santa Maria, Ricardo Lozza, destacou que o Ministério Público realizou todas as fiscalizações necessárias na Boate Kiss.
O promotor David Medina da Silva foi um dos representantes do Ministério Público no julgamento.
Na sequência, foi a vez dos quatro réus se manifestarem.
Elissandro Spohr, sócio proprietário da boate Kiss, foi o primeiro. Ele relembrou o momento em que ficou sabendo da tragédia:
Luciano Bonilha Leão, auxiliar da banda Gurizada Fandangueira, disse que é uma vítima e não responsável pelo incêndio, mas que aceitaria ser condenado se isso tirasse a dor dos pais dos mortos na tragédia.
Mauro Hoffman, sócio da Boate Kiss, lembrou do período em que ficou na cadeia, nos dias seguintes ao incêndio. Ele ainda disse que há uma narrativa contra os réus.
Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da Gurizada Fandangueira, contou que tentou usar o extintor para apagar o fogo. O aparelho, no entanto, não funcionou.
242 pessoas morreram e 636 ficaram feridas na tragédia, no dia 27 de janeiro de 2013.