A condenação da ex-presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, a dez anos de prisão não é um atestado de que as práticas cometidas por Evo Morales antes da tentativa de golpe sejam chanceladas.
A avaliação é do Professor de Relações Internacionais e pesquisador da USP, Pedro Costa Júnior.
Em entrevista à BandNews FM ele disse que é preciso separar as coisas e que, apesar do "fla x flu" nas redes sociais envolvendo o caso, aqui, não se trata de um duelo de narrativas e, sim, de fatos consumados, investigados e julgados pela justiça boliviana.
A cronologia da crise na Bolívia começa com a tentativa de manobra de Evo Morales para tentar ficar no poder por um quarto mandato.
Diante de protestos populares e de uma enorme pressão das forças armadas do país, ele acabou renunciando.
Jeanine Añez autodeclarou-se presidente do país, em 2019, e passou a reprimir a oposição de movimentos sociais e camponeses ligados a Morales.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos constatou que nos primeiros meses do governo dela houve, ao menos, 35 mortes em manifestações. Para Pedro Costa Júnior, a condenação é branda e chega tarde.
Importante lembrar que essa condenação, por conspiração, está relacionada a atos cometidos por Jeanine Añez enquanto ela ainda era senadora.
Ela, que está presa há 15 meses, ainda responde a outros dois processos, um por genocídio e outro por sedição e terrorismo. Também foram condenados a 10 anos de prisão o ex-comandante das Forças Armadas William Kalimán e o ex-chefe de polícia Yuri Calderón, ambos foragidos.
A defesa da ex-presidente diz que vai recorrer a órgãos internacionais para tentar reverter a decisão e alega que Jeanine Añez é uma presa política.