"Falo que é barulho de festa", diz pai de brasileiras sobre bombas em Gaza

Em entrevista à BandNews FM, palestino Hasan Said pede ajuda do governo brasileiro para que família seja resgatada

Ivan Brandão

"Eu não sei se estarei vivo daqui uma hora". É com essa frase que Hasan Said define o que está vivendo ao ser questionado sobre o que pensa para o futuro. O palestino morou no Brasil por dez anos, onde teve duas filhas, de 3 e 5 anos de idade e está na Faixa de Gaza há dez dias com a mãe, a esposa e suas irmãs. Desde sábado, tenta - sem sucesso - contato com o Itamaraty para sair da zona de conflito.

Sem luz e sem água, Hasan descreve a situação como "muito delicada" e afirma conhecer entre 20 e 30 brasileiros que estão na mesma situação que ele: "não existe abrigo em Gaza, todas as centrais de comunicação foram destruídas por Israel", conta. "você está sentado e escuta 'tal lugar foi destruído', 'esse lugar foi destruído' e a cada bomba são mais dezenas de pessoas que morrem. Crianças... civis. Eu tenho notícia de que pessoas foram na rua comprar pão e frutas e foram mortos. Eu não posso sair de casa", lamenta Hasan.

O mais duro, segundo ele, é ter que lidar com as filhas, que choram muito a cada bombardeio ou avião que passa. A forma que ele consegue lidar com a situação é mentindo: "a cada avião que sai, a cada bomba, elas choram e a gente fala que é uma festa, que já vai acabar. É muito horrível", afirma.

Hasan diz entender o que faz o Hamas e que, na condição em que se encontra, não pode dizer que eles são terroristas, lembrando que o conflito não começou agora: "cada um deles perdeu parentes, tiveram casas destruídas e invadidas. Eles são um grupo de palestinos que resistem na Faixa de Gaza", diz.

Emocionado, fez um apelo ao governo brasileiro: "desde o primeiro dia entramos em contato com a embaixada e eles só respondem que estão aguardando orientações, aguardando orientações. A gente está precisando muito da ajuda do governo do Brasil, do Itamaraty para ser resgatado".

Segundo o governo brasileiro, o Escritório de Representação em Ramala, na Cisjordânia, segue em contato com os brasileiros na Faixa de Gaza mas, como não existe segurança na região, está tentando implementar um plano de retirada em coordenação com a Embaixada do Brasil no Cairo, no Egito.