Facebook não restringiu compartilhamento de conteúdo pró-Bolsonaro

É enganoso vídeo em que um homem alega que o Facebook não permite o compartilhamento de uma gravação que mostra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Pará

Vídeo engana ao dizer que Facebook restringiu compartilhamento de conteúdo pró-Bolsonaro Foto: Comprova
Vídeo engana ao dizer que Facebook restringiu compartilhamento de conteúdo pró-Bolsonaro
Foto: Comprova
  • Conteúdo verificado: Um vídeo no qual um homem alega que o Facebook não permite o compartilhamento de uma gravação mostrando o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma visita a Belém do Pará. No vídeo, o homem filma a tela de um celular e mostra uma publicação na linha do tempo do Facebook sem o botão de compartilhamento. O conteúdo circula no TikTok.
  •  

É enganosa a afirmação feita em vídeo que viralizou no TikTok, em que o autor diz que o Facebook censurou o compartilhamento de imagens que mostram o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), cumprimentando apoiadores durante uma visita a Belém do Pará no dia 13 de agosto de 2020. O vídeo segue circulando nas redes sociais até hoje.

O autor grava a tela de um celular e mostra um vídeo publicado na linha do tempo do Facebook, destacando que não há botão de compartilhamento. Então, ele copia o link da publicação, afirmando que esta é uma outra forma de divulgar a postagem. Neste ponto, é possível perceber – por causa dos ícones que aparecem abaixo do nome dos donos dos perfis – que o vídeo que o autor tenta compartilhar foi publicado de forma restrita a amigos (por isso, a ausência da opção direta de compartilhamento).

Em seguida, ainda gravando a tela do celular, ele mostra ter compartilhado a postagem (de forma pública, modalidade que confere acesso a todos os usuários do Facebook) usando o link para o conteúdo. Então, o autor grava a tela de outro celular, que estaria, supostamente, logado no perfil do Facebook de sua esposa, e diz que não consegue abrir o mesmo conteúdo neste aparelho.

Vale lembrar que o vídeo compartilhado estava disponível apenas para amigos do responsável pela primeira publicação. Ou seja, não estará disponível caso pessoas que não estejam nesta lista tentem clicar.

No vídeo, é possível ver apenas a mão do autor e ouvir sua voz. Além disso, a imagem não permite confirmar que o link do vídeo compartilhado em seu celular é o mesmo que ele tenta abrir no aparelho da suposta esposa.

Pela imagem, não é possível ter certeza sobre quais perfis são responsáveis pelas postagens. A equipe entrou em contato com páginas semelhantes (nome e foto) às que aparecem no vídeo, mas os donos não responderam ou afirmaram não conhecer o conteúdo. Em nota, o Facebook informou que o vídeo da visita de Bolsonaro ao Pará está disponível na rede social e pode ser compartilhado.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Inicialmente, a equipe do Comprova tentou localizar a publicação citada pelo autor do vídeo no Facebook. Isso foi feito por meio de busca na própria rede social e também escrevendo a URL que aparece na filmagem. No entanto, por causa da falta de qualidade da imagem, a URL não está completamente legível.

No vídeo é possível ver o nome de três pessoas — autor do vídeo, sua esposa e a pessoa que fez a publicação original. O Comprova tentou localizar as três.

Na sequência, a equipe analisou o vídeo e conferiu o que diz a Política de Conteúdo da rede social para verificar quando uma publicação pode ter o compartilhamento limitado.

Outra ação foi compartilhar uma publicação no Facebook para verificar se algo semelhante ao mostrado no vídeo acontece.

A equipe também questionou o Facebook sobre a publicação citada no vídeo. Em paralelo, confirmou com base na agenda oficial e em imagens publicadas por veículos de imprensa (aqui) que o presidente Jair Bolsonaro de fato esteve no Pará na data citada.

Verificação

O vídeo

Na gravação aqui verificada, é possível identificar no Facebook algumas informações da publicação original do vídeo em que Bolsonaro aparece. A postagem contém, por exemplo, a legenda “Chupa Petralhas e Globolixo… O Mito em Belém”. O Comprova tentou localizar o conteúdo por meio da busca pela palavra “Globolixo” no perfil identificado pela equipe como possível responsável pela publicação e também escrevendo o que parece ser a URL que aparece na filmagem, mas não encontrou nenhum resultado. A URL, inclusive, não está completamente legível.

Seleção de público

A postagem inicial que divulga a filmagem do presidente está com o marcador “seus amigos”, identificado pelo ícone de duas figuras humanas em preto (veja abaixo). Isso significa que a publicação só está disponível para ser compartilhada por pessoas que estão adicionadas na rede do perfil responsável pelo post.

Depois de mostrar a publicação sem a opção do botão compartilhar, o autor do vídeo aqui verificado exibe a postagem anterior feita pelo perfil que divulgou a gravação de Bolsonaro no Pará. Esta, ao contrário da filmagem do presidente, mostra a opção de compartilhamento porque está com o marcador “público”, identificado pelo ícone de um globo terrestre, significando estar disponível para qualquer pessoa dentro ou fora do Facebook.

| A publicação original do vídeo tem visualização restrita aos amigos do usuário. Já o compartilhamento, feito pelo autor do vídeo, tem permissão de visualização para todos.

Publicações diferentes

Sem a opção de compartilhar o vídeo de Bolsonaro diretamente, o autor opta por copiar o link da publicação original e postar em sua timeline. Ao fazer isso, o homem mostra o post com o link e o marcador “público”. O Comprova tentou encontrar a postagem pela URL, mas ela não estava completamente legível por causa da qualidade do vídeo.

Em seguida, o autor desbloqueia o segundo celular — também com sistema operacional Android — e abre a conta do Facebook da suposta esposa. O homem então expõe uma publicação diferente daquela mostrada no primeiro aparelho.

Essa segunda postagem é uma publicação feita pelo autor do vídeo na timeline da esposa, e não um compartilhamento de vídeo em seu próprio perfil. É possível ver que o marcador desta segunda publicação é o de “seus amigos”, limitando assim quem pode ter acesso ao conteúdo.

Além disso, essas duas postagens, que o homem cita como sendo a mesma, têm horários de publicação diferentes. A primeira é mostrada como compartilhada há quatro minutos. Já a segunda, na timeline da esposa, foi publicada 12 minutos antes da gravação dele.

| As publicações têm horários diferentes. Na imagem da esquerda, o conteúdo aparece como publicado há 4 minutos. Já a da direita, aparece como publicada há 12 minutos.

Sendo assim, não é possível afirmar que o conteúdo que o homem mostra no celular da esposa é de fato o vídeo de Bolsonaro no Pará.

O Comprova também fez um teste de compartilhamento público no Facebook de um outro vídeo da visita de Bolsonaro ao Pará na mesma data e não encontrou obstáculos para finalizar o processo ou visualizar a postagem.

Os perfis

No vídeo são reconhecidos nomes de três pessoas: o autor do vídeo aqui verificado, sua suposta esposa e a pessoa que fez a publicação original. Fazendo uma busca na rede social, o Comprova localizou perfis de pessoas com os mesmos nomes e fotos semelhantes às que aparecem no vídeo, mas não é possível confirmar que são as mesmas páginas que aparecem no conteúdo aqui verificado.

A equipe entrou em contato com os perfis encontrados, mas os donos das páginas não responderam ou afirmaram não conhecer o conteúdo.

O que diz o Facebook

Procurado pelo Comprova, o Facebook afirmou que um vídeo do presidente Bolsonaro em Belém do Pará está disponível e pode ser compartilhado na rede.

A postagem a que a rede se refere é de outro perfil, este não mencionado no vídeo do TikTok. A data de publicação é do dia 13 de agosto de 2020.

Questionado sobre a publicação citada no vídeo do TikTok, a empresa americana afirmou que, por questões de privacidade, não poderia comentar ou dar detalhes. Ou seja, não é possível dizer se a postagem original do vídeo em que Bolsonaro aparece foi deletada pelo perfil responsável, se está restrita a amigos ou se o Facebook a removeu por alguma razão.

Bolsonaro no Pará

O presidente Bolsonaro de fato esteve em Belém do Pará no dia 13 de agosto de 2020. Ele participou da inauguração do Parque Urbano Belém Porto Futuro e aparece discursando em um vídeo publicado no canal do Poder 360 no YouTube. A visita também consta na agenda oficial do presidente e reportagem publicada pelo portal G1 Pará registrou a passagem do presidente pelo estado.

Limitação de conteúdo no Facebook

O Facebook tem uma série de regras a respeito da limitação de conteúdos que circulam na rede social. De acordo com os “Padrões da Comunidade”, as publicações que podem sofrer limitação devem se enquadrar em uma das seguintes categorias: conteúdos que não são permitidos; que requerem mais informação ou contexto para a tomada de providências (que passam a conter um aviso); ou que são permitidos, mas apenas maiores de 18 anos de idade podem vê-los.

Segundo a política do Facebook, conteúdos podem violar as normas da rede social se inseridos em cinco principais temas: violência e comportamento criminoso; segurança; conteúdo questionável; integridade e autenticidade, e respeito à propriedade intelectual.

Caso o conteúdo publicado na rede se enquadre em uma dessas violações, o Facebook toma providências, que, a depender do caso, podem ser: remoção do conteúdo; contabilização de advertências; restrição da conta; restrição da conta de uma figura pública durante agitações civis; desativação da conta e remoção de página e/ou grupo.

Nas regras da rede, no entanto, não há menção à uma restrição somente do compartilhamento de conteúdo.

Por que investigamos?

O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham viralizado na internet sobre pandemia, políticas públicas e eleições. Neste caso, o post teve mais de 10,1 mil interações no TikTok, entre curtidas e comentários. Além disso, o conteúdo foi compartilhado 3,2 mil vezes para outras redes sociais e aplicativos de mensagens como Twitter, Facebook e WhatsApp.

Jair Bolsonaro é pré-candidato à reeleição. Publicações enganosas relacionadas a política prejudicam a democracia. Os eleitores não devem tomar decisões sobre em quem votar com base em conteúdo de desinformação.

O Comprova também verificou outras postagens relacionadas à eleição, como sobre uma enquete popular que não oficializou Bolsonaro como Personalidade do Ano da Time e outra sobre o caso de músicos que não ofenderam Lula ao recebê-lo em uma instituição francesa.

Para o Comprova, enganoso é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.