O ex-CEO da Americanas afirma que os chamados acionistas de referência da empresa - o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira - participavam ativamente do cotidiano da companhia e que a atuação deles era ainda mais forte na área financeira.

As declarações foram dadas por Miguel Gutierrez em depoimento por escrito à CPI aberta na Câmara para investigar a fraude contábil de mais R$ 20 bilhões, revelada no início do ano.

Segundo ele, durante todos os anos em que esteve na empresa e em todos os cargos, se reportou sobretudo a Carlos Alberto Sicupira - a quem chamou de principal acionista.

De acordo com Miguel Gutierrez, a participação do trio se dava por meio da presença no conselho de administração ou no comitê financeiro e por meio da holding mantida pelos bilionários, a LTS Investments. 

O ex-CEO afirma que os três, mesmo sem cargos oficiais na companhia, conversavam de forma direta e frequente com o responsável pelas contas e balanços da varejista.

E diz que “todas as decisões estratégicas na história do grupo - inclusive nos últimos anos - foram tomadas pelos controladores”.

No depoimento, Miguel Gutierrez alega ainda que se tornou um “bode expiatório” para ser “sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas no capitalismo brasileiro”.

O ex-CEO - que atualmente vive na Espanha - também se manifestou na Justiça de São Paulo, no processo em que o Banco Bradesco tenta antecipar a produção de provas, e reiterou as declarações, citando, principalmente, Carlos Alberto Sicupira.

Em nota, a LTS disse que as palavras de Miguel Gutierrez não trazem qualquer prova nem refutam as evidências da participação dele na fraude” e que as “ilações de uma pessoa que deixou o país não tem coerência com os fatos expostos até agora pelas autoridades.

Procurado, Carlos Alberto Sicupira disse refutar “veementemente as declarações de Miguel Gutierrez” .

A Americanas, por sua vez, afirmou que o ex-dirigente não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à CPI, que demonstram a participação dele nas fraudes e que confia na competência de todas as autoridades que atuam investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.

Nesta segunda-feira (4), o relator da CPI da Americanas, deputado Carlos Chiodini, entregou o relatório final, admitiu as fraudes contábeis e o envolvimento de ex-executivos, mas não apontou responsáveis.

De acordo com o documento, a comissão também não conseguiu apurar se o trio de acionistas tinha ou não conhecimento das fraudes.