O presidente da França, Emmanuel Macron, saiu derrotado e enfraquecido das eleições legislativas deste domingo (19). Os franceses foram às urnas para escolher os parlamentares da Assembleia Nacional, que teve todas as 577 cadeiras renovadas. Para atingir maioria absoluta, eram necessários 289 assentos, mas a coligação Juntos!, do presidente reeleito em abril, conseguiu conquistar 245 vagas. A esquerda, os ecologistas e a extrema-direita saíram fortalecidos e devem dificultar a governabilidade na segunda maior economia da Europa.
Sem a maioria no Parlamento, Macron deve enfrentar problemas na aprovação de reformas prometidas durante a campanha. A mudança na idade mínima de aposentadoria, de 62 anos para 65 anos, é rechaçada pela esquerda, segunda maior força na Assembleia Nacional. A Nupes - que reúne esquerdistas da França Insubmissa, Socialistas, Ecologistas e Comunistas - saiu das urnas 131 cadeiras. O bloco pode fazer pressão pela indicação de Jean Luc-Mélenchon, terceiro colocado na disputa presidencial, para o cargo de primeiro-ministro.
O esquerdista afirmou que o partido de Macron teve uma derrota “total” e comemorou ter saído das eleições legislativas com fôlego para propor mudanças. Anteriormente, a esquerda tinha 80 cadeiras na Assembleia Nacional.
Mas a maior conquista foi da extrema-direita. O Reagrupamento Nacional, partido liderado por Marine Le Pen, pulou de sete para 89 cadeiras na legislatura recém-eleita. É a maior bancada já eleita pelo partido em 36 anos de existência. Segunda colocada na eleição presidencial, o RN tem um discurso anti-imigração, contra a União Europeia e protecionista.
Em um discurso após a divulgação das projeções iniciais, que já indicavam o crescimento de 12 vezes no número de parlamentares, Le Pen prometeu oposição “firme, responsável e respeitosa” e atacou Macron. Segundo ela, o atual presidente sai minoritário das urnas e a França conclui uma reorganização política contra a destruição.
Como ultrapassou o mínimo de 15 deputados, o RN conseguirá montar um grupo no Parlamento e terá maior representativa nas discussões propostas.
Analistas políticos preveem dificuldades para o atual presidente com a nova composição do Parlamento. Macron terá que negociar mais com adversários políticos e pode ver a disputa pela sucessão no Palácio do Eliseu, prevista para daqui cinco anos, ser adiantada desde já.
O baixo desempenho de Macron nas urnas pode ter sido influenciado pela alta abstenção neste domingo (19). Segundo o Ministério do Interior, quase 54% dos mais de 30 milhões de eleitores não compareceram. O voto não é obrigatório na França e reflete a falta de motivação da população em dar um um voto de confiança para o atual presidente.
Normalmente, um governante recém-eleito consegue maioria na Assembleia Nacional, visto que teve o seu plano de governo vitorioso na eleição majoritária. Em 2017, no primeiro mandato, Macron conseguiu 308 cadeiras no Parlamento e conseguiu levar adiante um programa de reformas econômicas que foi criticado e alvo de protestos.