Paulo Pelegrino, paciente de 61 anos em remissão completa de câncer após tratamento inédito no Brasil, falou em entrevista exclusiva à BandNews FM, que ainda não assimilou que a doença tenha reduzido tanto como revelado em imagens feitas antes e depois.
Com o câncer espalhado pelo corpo, o publicitário foi submetido a terapia celular CAR-T, um tratamento pioneiro contra a doença, teve remissão completa do linfoma em um curto período de tempo.
"Eu não tinha ideia de que meu corpo e meu linfoma tinha chegado naquele nível. É um milagre da ciência. Para chegar até aqui, talvez os médicos tenham me poupado de passar a primeira imagem pra mim, para eu não perder minha esperança de vencer o câncer. A ficha não caiu ainda. É absolutamente incrível. É a integração da fé com a ciência", disse o paciente.
Paulo descobriu o primeiro câncer em 2010, e foi curado em 2014, após a retirada completa da próstata. Um linfoma surgiu em 2018, o segundo em 2019, e ele realizou um transplante de medúla óssea. O câncer voltou em 2021, já com uma série de tumores.
O publicitário é um dos 14 pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que foi tratado com a terapia experimental, desenvolvida no Hemocentro de Ribeirão Preto?, em parceria com a Universidade de São Paulo e o Instituto Butantan.
Pelegrino revelou que, desde a primeira descoberta da doença, tratou o enfrentamento da melhor maneira. "Continuei jogando meu vôlei de praia. Eu acredito que você tem que trazer a doença para sua rotina de vida. Levava meu trabalho para os hospitais. Foi muito importante fazer o que eu fazia em casa nos quartos de hospital”, concluiu.
A próxima etapa que Paulo vai seguir é passar por exames e consultas três vezes por semana para acompanhar a remissão completa da doença. Para isso, o fluminense de Niterói, alugou um apartamento em São Paulo, ao lado do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e aguarda as orientações médicas para completar o estado de cura.
O que é a terapia celular CAR-T
É um tratamento avançado contra o câncer. Nele, as células de defesa do paciente são modificadas para aprender a eliminar a doença. Depois, são recolocadas, aumentando o combate do corpo contra o tumor.
Hoje no Brasil, o método é estudado contra dois tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B e linfoma não Hodgkin de células B, ambos relacionados ao sangue.
Coordenador do Centro de Terapia Celular (CEPID-USP) e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, o médico Dimas Covas aponta que o tratamento pode ser estendido para outros cânceres.
Existe a possibilidade que a terapia seja estendida para outros tipos de tumores, do próprio sangue, mas também tumores sólidos, como de mama, do intestino e assim por diante. Ela é muito promissora em termos de cura, disse em entrevista a BandNews FM.
Confira mais no vídeo abaixo.
Covas aponta que esses catorze pacientes que apresentaram remissão de pelo menos 60% fazem parte de um estudo para que a terapia celular seja incluída no SUS.
Para isso, o produto deve ser autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e pelo Ministério da Saúde. A expectativa é que o tratamento chegue ao sistema público até o início de 2024.
Como funciona a terapia CAR-T
O tratamento funciona basicamente em cinco passos:
- Coleta do sangue do paciente para isolar células T - um tipo de célula de defesa do corpo;
- Após coletadas, essas células são modificadas em laboratório - aqui elas viram efetivamente as células CAR-T. Leva cerca de 30 dias;
- Crescimento das células CAR-T em laboratório. Elas são multiplicadas milhões e milhões de vezes;
- Infusão das células no paciente;
- Células CAR-T procuram o câncer no organismo, se ligam a ele e o destroem.