Clientes endividados que tentam acertar as contas por meio do programa Desenrola Brasil, do governo federal, têm enfrentado dificuldades para resolver débitos vendidos pelos bancos a empresas de cobrança. Isso porque, nesta primeira etapa, só é possível renegociar atrasos com instituições financeiras, categoria que não engloba essas companhias. Em uma segunda fase, o programa deve incluir outros credores, mas não há prazo para que isso ocorra.

Os dados mais recentes do Serasa indicam que o Brasil contava com 72 milhões de pessoas inadimplentes. Isso significa que 44% da população tinha contas atrasadas.

O ouvinte da BandNews FM Hernesto Augusto está nesse grupo e teve um susto quando foi tentar renegociar a dívida. "Eu tinha um débito referente a dois cartões de crédito. Quando eu entrei na plataforma de renegociações do banco ontem, constava que eu não tinha esses dois débitos com eles. Quando eu fui mais a fundo para verificar, eles tinham cedido os débitos desses dois cartões para uma empresa de cobrança. Ou seja, eles venderam minha dívida. Quando eu entrei em contato com a empresa de cobrança, ela falou que, como a dívida não era bancária mais, eu não me enquadrava no Desenrola", relatou.

As dívidas do Hernesto são do ano passado, período considerado pelo programa do governo federal, mas foram negociadas sem o conhecimento dele.  A situação só poderá ser resolvida se o credor – a empresa de cobrança – se cadastrar no programa em uma nova etapa.

Em entrevista à BandNews FM, o coordenador-geral de economia e legislação da Secretaria de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Alexandre Ferreira, afirmou que mais detalhes sobre a próxima fase do Desenrola devem ser divulgados nas próximas semanas. "É importante que o credor que tem a dívida hoje entre no programa. Como é um programa voluntário, a gente depende que os credores entrem na plataforma em um processo que muito em breve a gente vai abrir. A gente pede para o pessoal aguardar mais notícias nas próximas semanas sobre essa próxima fase", afirmou.

Enquanto isso, o ouvinte da BandNews FM Hernesto Augusto só pode torcer para que a empresa se cadastre no programa. "A empresa de cobrança está confortável até porque pagou um valor para assumir a dívida e, hoje, talvez, se ela entrar no programa, vai precisar me oferecer um valor inferior ao que cobrou do banco. E eu não sei o que eu faço", desabafou.

A média das dívidas no país é de R$ 4,8 mil por pessoa. Mais da metade contraiu os débitos no cartão de crédito. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia que o programa consiga limpar o nome de um total entre 1,5 milhão e 2,5 milhões de pessoas com dívidas de até R$ 100 com bancos.