Um deputado da Assembleia Legislativa do Rio gastou no ano passado combustível suficiente para fazer o trajeto Rio-São Paulo cinco vezes por semana ou dar três voltas completas em torno da Terra em um ano. É o que aponta um levantamento da BandNews FM com base nas informações do Portal da Transparência da Alerj.
O parlamentar com mais despesas com combustível em 2021, Pedro Brazão, do União Brasil, usou R$ 57 mil da verba de gabinete na compra de 9.426 litros de gasolina. Todas as notas fiscais são do Posto Leiroz, de Jardim Sulacap, na Zona Oeste do Rio.
O estabelecimento pertence a sócios dele em outro posto, do qual também são sócios os irmãos de Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do TCE Domingos Brazão, suspeito de obstruir as investigações do caso Marielle Franco e um dos presos na Operação Quinto do Ouro.
Os três irmãos constam na Receita Federal como sócios de Albano Lemos da Silva e Albano Gonçalves Marinho em um posto de Campo Grande, também na Zona Oeste. Segundo os dados da Câmara dos Deputados, Chiquinho também abastece no mesmo estabelecimento com a cota parlamentar. Os três ainda declararam gastos no posto com a verba de campanha das eleições de 2014 e 2018.
O segundo deputado com mais gastos em postos de gasolina no ano passado foi Samuel Malafaia, do PL, irmão do pastor Silas Malafaia. Ele usou R$ 56 mil da verba de gabinete com o serviço. Em seguida, aparece Marcos Abrahão, do Avante, que abasteceu o equivalente a R$ 55 mil em um único posto de Rio Bonito.
Outros 59 deputados também gastaram com combustível, totalizando quase R$ 1,7 milhão em 2021, cerca de R$ 500 mil a mais que em 2020.
Na avaliação do cientista político e social Guilherme Carvalhido, apesar de haver indícios de uso desproporcional do dinheiro público, os gastos não podem ser considerados ilegais, já que estão dentro do limite previsto pela norma. Para ele, a pressão da sociedade é a melhor maneira de combater possíveis excessos.
A cada mês, os parlamentares têm direito a usar até R$ 5.364 cada em combustível, o equivalente a 20% da verba de gabinete de R$ 26.819. A cota parlamentar ainda custeia as despesas com táxis, aplicativos de transporte, pedágios e estacionamentos, que somaram mais de R$ 248 mil no ano passado.
O deputado Marcos Abrahão foi o que mais usou a verba com esses serviços: cerca de R$ 23 mil. Os gastos incluem até o estacionamento em shoppings durante fins de semana.
Mas as despesas dos deputados com locomoção não se limitaram ao transporte por terra. Trinta e três deles também adquiriram passagens aéreas, que juntas custaram R$ 220 mil.
André Correa, do Progressistas, foi o menos moderado: destinou R$ 36 mil em viagens para Brasília, São Paulo e para a Europa, quando acompanhou a comitiva do governador Cláudio Castro na Espanha, na Itália e na França. Em 2019, tanto Marcos Abrahão quanto André Correa tomaram posse como deputados enquanto estavam presos no Complexo Penitenciário de Bangu.
Em nota, André Correa afirmou que não há nada de irregular nos gastos e que, além da missão oficial de atração de investimentos liderada pelo governador, fez viagens para tratar de assuntos de interesse do estado. Já a Alerj destacou que, nos últimos três anos, economizou quase R$ 1,5 bilhão e devolveu recursos aos cofres do estado.
A BandNews FM aguarda resposta dos outros citados.