Cessar-fogo em Gaza é 'significativo, mas não definitivo", diz especialista

Professor de relações internacionais Sidney Ferreira Leite vê uma vitória diplomática com o acordo, mas ainda há incertezas sobre o futuro no Oriente Médio

Cessar-fogo em Gaza é 'significativo, mas não definitivo", diz especialista
Cidadãos celebram notícia de cessar-fogo entre Israel e Hamas
Reuters

O governo de Israel e o grupo terrorista Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo na Palestina nesta quarta-feira (15), mas isso não significa paz na região. 

Segundo o professor de relações internacionais Sidney Ferreira Leite, em entrevista para a Rádio BandNews FM, por mais que o acordo seja uma vitória diplomática, ainda traz dúvidas para o futuro em Gaza. 

É sem dúvida algo muito importante, muito significativo, mas não é algo é definitivo

“O cessar-fogo é uma segurança. Ele não ele não é definitivo, ele é um cessar-fogo provisório, mas é ele é uma vitória para os diplomatas que se envolveram numa negociação extremamente difícil”, completou. 

Israel e o grupo armado Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo nesta quarta-feira (15). O acordo, segundo a agência de notícias Reuters, prevê que os combates na Faixa de Gaza, na Palestina, parem o conflito que já dura 15 meses e troquem reféns israelenses por prisioneiros palestinos. 

A reunião ocorreu após meses de negociações mediadas por egípcios e catarinos, com apoio dos Estados Unidos.

 “Não houve uma negociação direta entre o governo de Israel e o Hamas, isso foi feito por mediação. E aí um papel muito importante do Egito, muito importante do Catar,  num segundo planos Emirados Árabes e também os diplomatas norte-americanos”, disse o professor. 

O acordo prevê um cessar-fogo de seis semanas e inclui retirada gradual de forças israelenses de Gaza e libertação de reféns. 

“O que o Hamas conquistou nesse cessar-fogo, além do próprio cessar-fogo, é a possibilidade de se iniciar, não só pelo Hamas, mas também pela autoridade Palestina de tentar reconstruir o que sobrou da Faixa de Gaza.”, explicou. 

Biden x Trump 

Antes mesmo do cessar-fogo ser oficializado, já há uma guerra política sobre a conquista. Joe Biden tem a chance de anunciá-lo na sua última semana como presidente dos EUA, enquanto Donald Trump dá a entender que a pressão da sua equipe durante a transição é que acelerou o processo. 

Para Leite, a pressão de Trump provavelmente pouco influenciou no acordo final. 

“Há muitos aspectos, envolvidos, uma história que remonta a mais de 80 anos. Então atribuir a uma ação eh do Trump de pressão sobre o primeiro-ministro eh de Israel parece-me um epifenômeno de um contexto muito mais complexo”, afirmou o especialista. 

O futuro de Israel e Palestina

Se é debatível a influência de Trump no cessar-fogo, o poder que terá assim que assumir o posto de presidente dos EUA é inegável. O seu plano de governo tem planos muito definidos para a região. 

“O Trump tem um projeto para o Oriente Médio que é diferente do é de Biden. Um projeto bem mais até detalhado de trocar terras palestinas pela paz com Israel, neutralizar é o Hamas e levar a cabo os famosos acordos de Abraão que é a aproximação de Israel com países em países árabes do Oriente Médio, principalmente a Arábia Saudita”, explicou Sidney ferreira Leite 

O cenário é a longo prazo é muito desfavorável para causa Palestina

Já o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu perde uma plataforma de campanha com o fim do conflito. Condenado por corrupção, ele corre o risco de ser preso caso deixe o poder, mas se apoia nos diversos conflitos em que o exército israelense está envolvido para evitar uma moção de censura.  

“Ele teve uma série de vitórias nos últimos meses, mas essas vitórias, não foram definitivas. Nós temos um Irã muito enfraquecido, mas ainda é uma um estado líder com uma força militar bastante significativa. Nós temos um cenário com interrogações no que vai acontecer na Síria, que é um estado também estratégico para segurança de Israel. O Hezbollah está debilitado, mas não está completamente derrotado. Se e o Hamas está negociando, ainda é existe, ainda é uma força”, disse o professor. 

Acordo de cessar-fogo tem três fases

O acordo, segundo pessoas próximas das negociações, possui três fases:  

  • Primeira fase: liberação de reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos, além da saída parcial das tropas israelenses da Faixa de Gaza.
  • Segunda fase: liberação de reféns militares em troca da soltura de presos palestinos
  • Terceira fase: reconstrução da Faixa de Gaza.

Durante esta primeira fase de 42 dias, as forças israelenses se retirariam dos centros populacionais de Gaza, os palestinos seriam autorizados a começar a retornar para suas casas no norte do enclave. Além disso, haveria um aumento na ajuda humanitária, com cerca de 600 caminhões entrando a cada dia no enclave.

Os detalhes da segunda fase ainda devem ser negociados durante a primeira fase. Esses detalhes continuam difíceis de resolver - e o acordo não inclui garantias por escrito de que o cessar-fogo continuará até que um acordo seja alcançado, sinalizando que Israel poderia retomar sua campanha militar após o término da primeira fase.

Os Estados Unidos pressionaram para que, dessa vez, o acordo saia do papel. Na Faixa de Gaza, 9 em cada 10 palestinos estão desabrigados e vivem em tendas improvisadas. 

Para o acordo passar a valer é necessário aprovação do gabinete de Benjamin Netanyahu.  

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