Caso Moise: guardas municipais não prestaram auxílio, diz testemunha

Congolês Moise Kabagambe foi espancado até a morte em quiosque no RJ enquanto clientes compravam refrigerante

Rádio BandNews FM

No sábado (05), organizações como a Coalizão Negra Por Direitos vão realizar protestos Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
No sábado (05), organizações como a Coalizão Negra Por Direitos vão realizar protestos
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil afirmou à agentes que os homens que agrediram o congolês Moise Kabagambe afirmaram a ela que o jovem estaria recebendo um 'corretivo' por ter assaltado pessoas na praia.

No depoimento prestado na Delegacia de Homicídios da Capital, a mulher, que teve a identidade preservada, contou que viu as agressões quando foi comprar um refrigerante no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o crime ocorreu no último dia 24.

Segundo a testemunha, em determinado momento, os agressores pediram para que ela não olhasse o ataque. A fala teria partido de Aleson Cristiano, o “Dezenove”, um dos presos e indiciados pelo caso. Ainda de acordo com o relato, a atendente do estabelecimento estaria nervosa por já ter pedido o fim das agressões.

A mulher revelou ainda que tentou buscar a ajuda de dois guardas municipais, que não teriam prestado auxílio. Logo depois, acompanhada do marido, ela percebeu que Moise já estava sem vida. Em nota, a Guarda Municipal informou que não recebeu nenhuma notificação em relação ao testemunho relatado, mas enviou um ofício à Polícia Civil solicitando mais detalhes sobre a citação.

Nesta sexta-feira (04), a ONG Rio de Paz estendeu uma faixa no quiosque Tropicália em homenagem a Moise. O cartaz traz a os dizeres ''Fugimos do Congo para que não nos matassem. Mas mataram meu filho aqui", frase dita pela mãe do jovem de 24 anos.

Para o articular social do grupo, João Luís da Silva, casos como o de Moise não podem ser naturalizados. A turista mineira Carmelita de Fátima Muniz participou da ação da Rio de Paz como voluntária. Hospedada na casa da filha, que mora em frente ao local do crime, classificou o caso como uma barbárie. Ela prestou solidariedade a mãe de Moise.

Durante agenda nesta sexta, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, falou sobre a morte do congolês e afirmou que a Prefeitura vem dando todo suporte à família do jovem. O político afirmou que a cidade do Rio está de portas abertas para receber refugiados.

O Ministério Público do Trabalho no Rio instaurou um inquérito para investigar a relação trabalhista entre Moise Kabamgabe e o dono do quiosque. A denúncia aponta para possível trabalho sem reconhecimento de direitos, podendo, segundo o órgão, configurar condições análogas à escravidão, na modalidade de trabalho orçado, de xenofobia e de racismo.

No sábado (05), organizações como a Coalizão Negra Por Direitos vão realizar diferentes protestos no Brasil e no mundo. Um deles vai ocorrer no local do crime. Também foram marcadas manifestações em frente a sede ONU em Nova York, nos Estados Unidos, e na Embaixada Brasileira em Londres, na Inglaterra.

A Coalizão Negra vai entregar uma denúncia sobre o caso para o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU. Na próxima semana, o governador Cláudio Castro deve se encontrar com familiares de Moise.