O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, fala nesta terça-feira (18) na CPI da Pandemia no Senado Federal.
A comissão investiga as ações do governo federal durante a pandemia da Covid-19. Uma das principais funções da CPI é apurar os atos do governo incentivando o uso da cloroquina, um remédio que é cientificamente ineficaz para combater ao coronavírus.
Este é o sétimo depoimento da CPI, Araújo foi chamado na condição de testemunha e, por isso, se compromete a dizer a verdade, sob o risco de cometer crime de falso testemunho.
O ex-chefe do Itamaraty afirmou que jamais promoveu atrito com a China, nem antes, nem durante a pandemia. Ele afirmou que nenhuma ação pessoal determinou o atraso de vacinas vindas da China.
O presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz, do PSD do Amazonas, chamou a atenção de Araújo, lembrando que ele está sob juramento e destacou diversas falas do ex-ministro contra o país asiático, inclusive se dispôs a ler alguns dos ataques feitos ao embaixador chinês.
O ex-chanceler insistiu que nunca ofendeu o embaixador da China pelas redes sociais e que termo comunavírus, uso em um artigo do chanceler, não foi uma referência ao coronavirus, mas a um vírus ideológico.
Aziz ironizou que a demissão dele não deveria ter ocorrido então, já que ele alega ter um ótimo relacionamento com o maior parceiro comercial do Brasil. Araújo saiu do Itamaraty por pressão de deputados e senadores que reclamavam do comportamento belicoso do ex-ministro e da inação na busca por vacinas no exterior.
O ex-ministro afirmou ainda que a demissão dele não esteve relacionada à questão de vacinas, mas sim a uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro sobre dificuldades no relacionamento com o Senado.
Durante a CPI, o ex-ministro admitiu que a comitiva brasileira que viajou a Israel para obter informações sobre o spray que supostamente cura o coronavírus teve apenas uma reunião para discutir o processo de imunização local.
Araújo também disse ter tomado conhecimento da carta enviada pela Pfizer ao governo brasileiro em setembro do ano passado. Ele pontuou que não tomou providências sobre a oferta porque cabia ao Ministério da Saúde definir a estratégia de imunização.
O chanceler afirmou ainda que o próprio presidente Jair Bolsonaro solicitou ao Itamaraty um telefonema com o primeiro-ministro da Índia para viabilizar a importação de cloroquina e o ministério da saúde na época também solicitou apoio para realizar a ação.
A senadora Kátia Abreu pediu à CPI a quebra de sigilo de correspondências do Itamaraty com outros ministérios e também com a Presidência da República.
A parlamentar fez críticas ao ex-chanceler, dizendo que ele tem uma memória seletiva, para não dizer leviana, após eles negar ataques à China.
Segundo a senadora, Araújo não ajudou no processo de obtenção de IFA para a CoronaVac.
Katia Abreu ainda destacou que Araújo deve desculpas ao Brasil, por ser um negacionista compulsivo e omisso, como classificou a senadores. De acordo com ela, a condução do ex-ministro levou o Brasil para o naufrágio.
AMEAÇAS AOS SENADORES
Durante a sessão desta terça-feira (18), o presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz, declarou que vai pedir à Polícia Federal que investigue mensagens com ameaças que membros da comissão estão recebendo.
Os registros mostram mensagens como por exemplo "vocês irão se arrepender, para de prejudicar o brasil, nesta vida tudo tem retorno". Outras chamam Renan Calheiros de bandido e ladrão. As mensagens são enviadas por um aplicativo de mensagem para parlamentares e assessores dos políticos.
Algumas das mensagens terminam com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro em 2018: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.