Abaixo-assinado pede revisão de notas do Enem

Resultados são diferentes dos obtidos em revisões e conferências de gabarito

Narley Resende

Ministro da Educação, Milton Ribeiro e o presidente do INEP, Danilo Dupas Valter Campanato / Agência Brasil
Ministro da Educação, Milton Ribeiro e o presidente do INEP, Danilo Dupas
Valter Campanato / Agência Brasil

Milhares de estudantes de todo o País reclamam de incoerência na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  

Os resultados divulgados no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) são diferentes dos obtidos em revisões e conferências de gabarito.  

Mais de 2,6 mil estudantes já assinaram um abaixo-assinado pedindo providências do Ministério da Educação (MEC).  

A maioria reclama de falta de resposta do MEC pelos canais oficiais.  

Nesta segunda-feira (14), a Universidade Federal do Pará (UFPA) divulgou uma nota dizendo que ainda não recebeu as notas do Enem.  

Na internet, os estudantes passaram a cobrar o ministro Milton Ribeiro, que bloqueou os perfis das pessoas que se queixaram da nota.  

A estudante Raquel Guimarães conta que as notas são completamente incoerentes com resultados anteriores.  

"Nas outras edições os estudantes que tiraram mais de 900 neste ano estão com 430, 480. São notas ridículas, até”, reclama.  

Alguns estudantes que enviaram solicitações pelo site do Inep foram informados de que o prazo de resposta é de 60 dias.  

Eles estão preocupados, já que o Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que usa notas do Enem, abre inscrições nesta terça-feira (15).  

Sem a nota correta a estudante Letícia de Sousa afirma que não conseguirá concorrer a uma vaga.  

"Eu estudava de 12 a 18 por dias, para fazer Medicina. Estou tentando desde 2017. E esse ano eu tinha certeza que conseguiria. Cheguei em casa e conferi o gabarito. Quando saiu a nota, assim que vi o resultado, comecei a chorar. Essa nota não é minha”, afirma.  

Além de erros em notas de provas objetivas, problemas em notas de Redação foram relatados.  

A estudante Laila Baquião, que fez o Enem pela terceira vez, afirma que é improvável ter tirado uma nota tão baixa nessa edição do exame.  

"Quem já está acostumada a estudar para o Enem sabe que tem uma estrutura de redação. Por mais que a gente possa tangenciar o tema, é muito difícil tirar uma nota de 480”, aponta.  

A União Brasileiras dos Estudantes Secundaristas está reunindo reclamações para viabilizar uma eventual ação coletiva.  

A presidente da Ubes, Rozana Barroso, afirma que os estudantes tentam há 420 dias uma reunião com representante do Ministério da Educação para tratar de problemas do Enem, principalmente durante a pandemia.  

“Estamos recolhendo essas denúncias e avaliando com advogados para saber da possibilidade de entrar com ação judicial. Também articulamos com deputados para que o ministro e o presidente do Inep compareçam e expliquem para os estudantes esses possíveis erros”, afirma.  

Em ofício enviado ao Ministério da Educação, os deputados Tabata Amaral, do PSB; Felipe Rigoni, do PSL; e o senador Alessandro Vieira, do Cidadania; apontam possíveis falhas na divulgação.

Nas redes sociais, alguns estudantes afirmam que tiveram divulgadas neste ano as mesmas notas que obtiveram no ano passado.  

Na véspera do Enem, mais de 30 servidores do Inep entregaram os cargos.  

Eles assinaram carta conjunta citando "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão".

Procurados, o MEC e o Inep não responderam aos pedidos da reportagem.  

De São Paulo, Narley Resende