A cada seis doses de vacinas aplicadas contra a Covid-19 no país, uma foi tomada por alguém que se deslocou a outra cidade para se imunizar, o que equivale a 15% do total de doses disponibilizadas. Essa é a conclusão oriunda de um levantamento divulgado nesta quarta-feira (23) pela Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa mostra que, das categorias consideradas, os maiores percentuais foram observados entre os trabalhadores da Saúde.
A distância percorrida para esse “turismo da vacina” não é pequena. De acordo a Fiocruz, o caminho trilhado por quem opta se imunizar em outro município é de 252 quilômetros em média (o equivalente a viajar da cidade de São Paulo até o município mineiro de Ouro Fino, por exemplo), podendo se estender até 3 mil quilômetros em alguns casos. Entre os estados que lideram o ranking está o Rio de Janeiro, com 362 quilômetro. O levantamento aponta que municípios da mesma região metropolitana podem ser sobrecarregados pela procura por vacinas de outras cidades. É o caso do Rio de Janeiro, que aplicou cerca de 47 mil doses em moradores de Duque de Caxias.
O estudo reforça que o Brasil tem uma população alvo para imunização contra a Covid-19 de cerca de 160 milhões de pessoas, o que demanda mais de 320 milhões de doses de vacinas. Cerca de 23% do total de doses necessárias foram aplicadas até 16 de junho. Ainda segundo os dados da Fiocruz, 51% dos municípios do país estão abaixo da média nacional de aplicação. Os números sobre imunizações disponíveis são de responsabilidade do Sistema de Informações do PNI.
Disputa por quem vacina primeiro incentiva o deslocamento
Em entrevista ao BandNews São Paulo 1ª Edição desta quinta-feira (24), o pesquisador de saúde pública da Fiocruz Diego Xavier observou que o deslocamento das pessoas acontece principalmente em decorrência das alterações nos calendários de vacinação, como a diminuição da faixa etária a ser imunizada. "Essa disputa desenfreada, sem estratégia, sem planejamento e principalmente, sem o compartilhamento de decisões nessa corrida pela vacinação para se chegar à faixa etária de 18 anos tem contribuído com os números que temos observado de deslocamento da população”, afirma Xavier.
Segundo o infectologista, a tendência observada entre brasileiros de se escolher por fabricantes de vacinas – rejeitando aquelas que consideram “menos eficazes” ou “mais perigosas” – também tem contribuído para a decisão de se fazer viagens até outros municípios para se vacinar, afim de se garantir o imunizante preferido. O pesquisador destaca que tal comportamento não tem o menor sentido diante do momento epidêmico em que vivemos.
A falta de planejamento e o atraso da segunda dose
Diante do que se observa em municípios como São Paulo, que passou a utilizar até mesmo as vacinas reservadas para a segunda dose como garantia do cumprimento do calendário de imunização, o integrante do grupo MonitoraCovid-19 reforça também a necessidade de um planejamento por parte de gestores, para que se cumpra o prazo estipulado pelo fabricante entre a aplicação de uma dose e outra, o que garante uma real proteção contra a doença. “Sem estratégia, continuaremos perdendo para o vírus”, destaca Xavier.
Acompanhe o bate-papo completo: