Yakuza Like a Dragon

Aclamada franquia da SEGA mergulha no gênero RPG em seu mais recente título

Eddy Venino - Equipe BANDx

Divulgação
Sega

É curioso como a “colcha de retalhos” que é o Brasil vai sendo costurada. Múltiplos aspectos culturais foram assimilados durante os anos, tornando o nosso país um berço da pluralidade. E isso nos traz vantagens e desvantagens, que acabam se traduzindo numa aceitação maior de costumes; mas também nos faz negar muito das nossas raízes.

Esse termo, colcha de retalhos, foi cunhado por Marcelo Cassaro, na finada revista de RPG Dragon Slayer, onde ele diz:

Dizem que o Brasil não tem tradição, não tem identidade. Isso é errado. Diversidade, variedade, mistura de raças, costumes, crenças… esta é a nossa tradição. Nossa identidade.

E, enquanto eu jogava Yakuza: Like a Dragon, fiquei pensando sobre esse texto do Cassaro. E pude reavivar dentro de mim, parte da minha infância e adolescência que havia relegado ao passado. Com esse jogo, a Sega me deu acesso a um “portal”, no qual eu pude encarar a minha construção como fã brasileiro de animes e videogames.

Venha comigo, vamos adentrar esse portal e descobrir por que Yakuza: Like a Dragon é um jogo que traz tanta nostalgia, reflexão e para o qual você deveria dar uma chance.

 

Série Yakuza

Se você pegou o bonde agora, deixa-me contextualizar: Yakuza é uma franquia de jogos, desenvolvido pela desenvolvedora Ryu Ga Gotoku Studio, do Japão, e publicado pela Sega, inspirado na mítica máfia japonesa de mesmo nome.

A franquia conta com dez jogos lançados ao longo de quinze anos em diversas plataformas. Durante muito tempo o sucesso do jogo ficou restrito ao oriente. Mas há alguns anos, os jogos da série foram ganhando cada vez mais força aqui no ocidente e com Yakuza: Like a Dragon, último jogo da franquia, lançado no final de março, a série ganhou ainda mais destaque. E para os brasileiros existe uma razão ainda mais importante para abraçar esse game: Yakuza: Like a Dragon é o primeiro jogo da série a ter localização total em português brasileiro!

Na verdade, Like a Dragon mudou muita coisa na franquia. Todos os jogos anteriores eram baseados na ação, adotavam o estilo beat ‘em up, em que você socava o botão e executava combos livremente nas batalhas contra os inimigos. Like a Dragon mudou de gênero e é um jogo de RPG, não apenas com poucos elementos deste tipo (como virou moda ultimamente), mas um RPGzão clássico, em turnos, coleta de itens, com classes e aumento de níveis.

Mas se você já é fã da franquia e ainda não jogou Like a Dragon, pode ficar sossegado. Todos os elementos e particularidades que tornaram Yakuza uma grande série de jogos ainda estão lá. E quais são esses elementos? Bem, vamos aprofundar um pouco no que Like a Dragon nos apresenta e relacionar isso à 'colcha de retalhos’ que eu citei lá no início do texto.

 

Crescendo com animes e games

Se você está na casa dos 30 (como eu), deve ter crescido assistindo animes no SBT, na (finada) Manchete e na Band. Neste momento volto aos meus sábados matutinos enrolado no cobertor, acompanhando a richa do Goku e Kuririn, na primeira saga de Dragon Ball, com eles ainda criança; mais tarde os veria novamente, na Band, em DBZ, enfrentando Freeza e Cell; antes disso, em épocas mais distantes me empolgava com um grupo de cavaleiros de bronze, enfrentando batalhas épicas para proteger a humanidade; e ainda me sinto lesado por ter perdido Akira em uma certa madrugada em exibição na Band.

Minha geração e as posteriores cresceram consumindo cultura japonesa, principalmente através de animes, mangás e eventos dedicados, que aconteciam na capital paulista. 

Mas algo ainda mais forte esteve presente durante esses meus anos de desenvolvimento como pessoa: os games. E, principalmente, os jogos de RPG. Final Fantasy, Secret of Mana, Disgaea e Chrono Trigger fizeram parte da formação de muitos jogadores, independente das suas preferências quanto a gêneros de jogos. E isso influenciou de forma agressiva o que era produzido por escritores, quadrinistas, músicos e designers de jogos aqui no Brasil. Tormenta, um dos maiores cenários de RPG de mesa do Brasil, tem fortes influências da cultura oriental; Emicida, Rashid e outros rappers agregam referências em suas letras; muitas HQs e jogos, como 9 Horas e Tropicalia, também trazem elementos que nos remetem ao que o Japão tem exportado como cultura pop no decorrer das últimas décadas.

Nós também temos fortes influências norte-americana e eurocêntrica. E mais recentemente, devido a muitas batalhas da negritude, a cultura africana também tem se mostrado mais presente na construção de conteúdos de entretenimento. Isso tudo é resultado da nossa miscigenação, com seus pontos bons e ruins. Mas, pelo menos na cultura pop, a cultura japonesa ocupa um espaço de privilégio no imaginário brasileiro.

E com isso chegamos a Yakuza: Like a Dragon e suas histórias, que devido a essa construção do brasileiro, acaba nos atingindo em cheio e a paixão pelo jogo vem logo nos primeiros minutos de jogatina.

 

Se tornando um Yakuza

Em Yakuza: Like a Dragon acompanhamos a saga de Ichiban Kasuga, um fiel membro do clã Arakawa. Ele era um órfão que foi criado em uma Casa de Banhos e que acabou sendo aceito em sua adolescência no clã que passaria a chamar de família. Mas, devido a uma guerra entre clãs, ele acaba assumindo a culpa por um assassinato que não cometeu e fica preso durante 18 anos. Após sua saída da prisão, ele tenta reencontrar os membros do seu antigo clã e percebe que muita coisa mudou e que terá que percorrer um longo caminho para reconquistar seu lugar dentro da Yakuza.

Durante o jogo você vai experimentar diversas histórias, além de Kasuga, haverão outros personagens jogáveis que irão integrar o seu time. Mas muitas das histórias mais legais são de personagens que habitam esse mundo, entre combater gangsters, ajudar moradores de rua e gerenciar uma cadeia de restaurantes, você vai se emocionar e rir muito em cada um desses encontros.

O jogo apresenta sistemas bem completos para quem gosta de um bom RPG, mas que são acessíveis para quem não está acostumado. Tudo é muito bem explicado, com tutoriais sucintos e bem ilustrativos.

E aqui acontece o que mais me chama a atenção em Like a Dragon: o encontro entre a narrativa de um anime com gênero de games RPG. O próprio Kasuga, bem no ínicio do jogo, se declara um grande fã de videogame e que toda vez que ele entra numa briga, ele se imagina como um protagonista de Dragon Quest - que é uma clássica franquia de RPG ilustrada por Akira Toriyama (Dragon Ball).

Como disse mais acima, antes a franquia era do gênero beat ‘em up, onde você saia lutando com quem encontrasse, executando ataques e combos apertando uma combinação de botões. Como Like a Dragon é um RPG, os combates passam a ser por turnos, com cada um dos personagens do seu grupo tendo uma função específica, seja sendo mais combativo ou servindo como curandeiro. Você utiliza itens, faz upgrades de armas e armaduras, mas tudo dentro do contexto narrativo do jogo. E aqui vocês podem esperar muitas doideras, como ataques com pombos, cartões de crédito e espumantes. Sabe aquelas cenas bizarras e safadinhas que acontecem em animes? Tudo isso está incluso em Yakuza: Like a Dragon.
 

 

‘Real Yakuza Play Games!’

O jogo é uma viagem à cultura pop oriental da qual eu estava afastado há muito tempo. E também foi a minha reaproximação com os RPGs, dos quais estava afastado, devido às longas horas de jogatina que eu tinha que me dedicar. Mas em Like a Dragon, toda essa familiaridade, o carisma das personagens e a saga tão próxima de um anime, com um protagonista que acredita na amizade e na força da história das pessoas - como em muitos animes -, eu fiquei completamente preso e encantado com o desenrolar da aventura. E, caso você goste dessa pluralidade que nós brasileiros adquirimos graças a essa colcha de retalhos que é nossa cultura, posso te garantir que embarcar nesta aventura oriental e encarar alguns yakuzas malvadões vai te dar uma satisfação imensurável.

Yakuza: Like a Dragon está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Xbox Series X|S e PC.

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