Covid-19: Veja o que mudou no Vale do Paraíba um ano após primeiro caso

Caroline Corrêa

Homem é vacinado contra Covid-19 no Galo Branco, em São José dos Campos
Charles de Moura/PMSJC

Foi há exatamente um ano que o primeiro caso de contaminação pelo coronavírus chegada à Região Metropolitana do Vale do Paraíba. Em 18 de março de 2020, São José confirmava que uma enfermeira da rede particular de saúde, de 21 anos, contraíra a Covid-19. À época, o vírus já era responsável por milhares de mortes na Europa e na Ásia. No Brasil, o contato com o coronavírus era por quem havia saído do país, o que não era o caso da profissional joseense.

Não demorou para que cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira confirmassem casos positivos da Covid-19. A doença foi se espalhando e chegou numa explosão de casos da doença. Jecerli Sanches de Carvalho, de 55 anos, foi uma das pessoas que contraiu a Covid-19 no pico da primeira onda que assombrava a região.

“O maqueiro foi me levando e as portas se fechando atrás de mim. É uma situação muito difícil porque vê ficou para fora. De repente, você entra em um quarto de hospital e está ali sozinha, sem ninguém”, relembrou emocionada.

A professora aposentada teve câncer em um dos rins e ficou internada por oito dias na enfermaria da Santa Casa de São José dos Campos. Deitada na maca, ela gravava vídeos para enviar aos familiares e amigos como um diário de internação. Daí, surgiu a ideia de compartilhar isso com o mundo através de um canal no youtube que leva o nome dela.

Jerceli é umas das mais de 143 mil pessoas recuperadas da doença na região, mas ela conta que ainda tem sequelas da Covid-19. “Tenho fraquezas até hoje. A gente tem que se proteger”, comenta.

Medidas

De um ano para cá, a evolução da pandemia mexeu com a rotina da população e desafiou as autoridades. O Governo do Estado anuncia medidas para manter as pessoas em casa; a partir de agora, supermercados, farmácias, hospitais e transporte público são considerados serviços essenciais e podem continuar funcionando normalmente. Medidas sanitárias também são adotadas para ajudar no combate do vírus, que ainda era tão desconhecido.

Em maio de 2020, o uso de máscara se tornou obrigatório em todo território paulista e os comerciantes tiveram que se adaptar aos protocolos sanitários. Foi ainda neste mês que o Governo Estadual anunciou o Plano São Paulo e a RMVale foi classificada na fase laranja.

À medida que o coronavírus avançava, os casos e as mortes subiam dia a dia. Na maior cidade da região, a preocupação aumentava.

“A gente já estava acompanhando por algumas epidemias, mas essa era bem diferente. A gente viu todo o estrago que fez na China e na Europa”, diz o ex-secretário de saúde, Danilo Stanzani.

A superlotação nos hospitais com as explosões de casos também foi outra preocupação. Em São José dos Campos, a alternativa encontrada pela prefeitura foi criar um hospital de retaguarda, construído em 35 dias e inaugurado em junho. A ideia era transferir a ala pediátrica da rede municipal para o novo centro de saúde e dar mais espaço ao hospital municipal, onde são tratados os casos de covid-19 na cidade.

“Funcionou bem, mas a gente precisou fazer algumas adaptações. Mas está estrutura é permanente, passando a pandemia, este lugar passa a ser o Pronto Socorro do Hospital Municipal”, explicou Stanzani.

Ocupação de leitos

A cidade de Taubaté, a segunda maior do Vale do Paraíba, chegou a ocupar 100% dos leitos de tratamento para pacientes com Covid-19 em janeiro deste ano. A região atingia pico histórico de internações com a doença.

A UPA Central e o Hospital Universitário de Taubaté (HMUT) aumentaram a quantidade de leitos e, consequentemente, de profissionais. O médico neuro intensivista, Marcos Paulo Nanci, foi um desses reforços da equipe da UTI do HMUT há exatamente um ano. Já são 12 meses lutando para salvar a vida de pacientes com quadro grave de Covid-19.

“É diferente de uma UTI geral, onde você tem 10 pacientes, mas três são realmente graves. Na UTI do Covid, os 10 pacientes que estão lá são muito graves”, desabafa Nanci.

Com o pico da doença causando superlotação nos hospitais, o médico diz que o desgaste de horas trabalhando num ritmo frenético não é apenas físico, mas, às vezes, emocional.

“Ver uma família ali morrendo, a parte emocional não aguenta, a gente chora junto com os pacientes. O emocional vai embora e o físico vai embora, o corpo não aguenta”, conta o médico.  

Economia

O caos vivenciado na área da saúde também chegou na economia. Para tentar conter a transmissão da doença, o Governo do Estado implementou o Plano São Paulo, já citado anteriormente. O funcionamento do comércio, que por diversas vezes, teve que fechar as portas, foram considerados não essenciais.

Sem atendimento presencial, muitos lojistas não tiveram outra escolha a não ser a demissão. Outros tiveram que fechar as portas, já que não aguentaram a crise. São José dos Campos, por exemplo, encerrou 2020 com saldo negativo de 4.438 postos de trabalho.

A Embraer, maior empresa da região, desligou 2.500 funcionários. Logo no início do mês de setembro de 2020, foi anunciado um Plano de Demissão Voluntários, que deve adesão de 1,6 mil trabalhadores e mais 900 dispensados por ajuste no quadro de funcionário.

A Ford anunciou, em janeiro de 2021, o fim das atividades no Brasil. A montadora atua em Taubaté e emprega 830 pessoas na cidade.

O auxílio emergencial do Governo para redução da jornada ou suspensão de contratos amenizaram a situação, mas as medidas não foram suficientes para evitar as demissões.

“Diminuiu bastante o consumo, as empresas passaram a vender menos, as indústrias a produzir. Ai chega um momento que você tem que demitir e a taxa de desemprego, que já era alta, começou a piorar e a gente está neste momento realmente ruim”, explica o economista, Laureano da Rosa.

Esperança

O ano de 2021 chegou com a esperança que todos aguardavam: o início da vacinação. Na região, São José dos Campos foi a primeira cidade a aplicar a dose da coronavac em uma técnica de enfermagem. Juliana Santos, de 33 anos, trabalha no Hospital Regional e foi escolhida para um ato simbólico. Ela fez aniversário no dia em que recebeu a vacina, 20 de janeiro de 2021.

O médico Lafayete de Almeida Neto, de 71 anos, foi o primeiro profissional do Hospital Municipal a receber a vacina. “Considero o fato de ser o primeiro a ser vacinado como oportunidade de transmitir uma mensagem para as pessoas não se afastarem da vacina. Porque, no momento, não há nenhuma perspectiva de ficar imune a esse tipo de doença se não for vacinado”, afirmou.

A cidade já vacinou mais de 70 mil pessoas, que corresponde a 10% da população total de São José dos Campos.

“É a maneira da gente evitar que mais mortes aconteça”, afirma a atual secretária de Saúde de São José, Margarete Corrêa, sobre a importância da imunização.

Em Taubaté, o momento histórico foi protagonizado por Maria Auxiliadora Alves do Nascimento, de 55 anos. Ela foi a primeira profissional de saúde a receber a dose na cidade no dia 21 de janeiro.

“O sentimento é de gratidão por ter sido a escolhida. Eu representei cada taubateano, a cada profissional de saúde. É um início de um recomeço, a gente não tem vivido nada normal. É uma forma de ter um futuro melhor”, contou.

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