Ao longo dos últimos meses, milhões de fãs de futebol no Brasil e ao redor do mundo aguardaram por um momento: a coroação de Vinícius Júnior como o melhor jogador do planeta. No entanto, a premiação da Bola de Ouro surpreendeu e revoltou boa parte do público ao anunciar o meio-campista espanhol Rodri como o vencedor da noite.
A sensação de injustiça com o brasileiro de 24 anos reacendeu uma discussão já existente há anos: a Bola de Ouro realmente merece toda a credibilidade que possui? Além disso, com as polêmicas recentes, há alguma chance de que o formato da premiação mude? Veja o que sabemos até agora.
Qual a história da “Bola de Ouro”?
O Ballon d’Or, ou Bola de Ouro no Brasil, é uma premiação francesa com quase 70 anos de história, que passou por diferentes fases ao longo do tempo. Idealizada e ainda organizada pela France Football, uma revista francesa focada no esporte, a premiação homenageia os principais jogadores de futebol da temporada.
A primeira edição da Bola de Ouro ocorreu em 1956, com a vitória do inglês Stanley Matthews. Até 1994, apenas jogadores europeus que atuavam na Europa podiam conquistar o prêmio. O argentino Alfredo Di Stéfano, craque do Real Madrid, por exemplo, só recebeu seu Ballon d’Or após naturalizar-se espanhol.
A partir de 1995, a Bola de Ouro passou a premiar jogadores não europeus, ainda que restritos a atuar em clubes europeus. O primeiro vencedor nessa nova fase foi o liberiano George Weah. Somente em 2007 o prêmio foi ampliado para aceitar jogadores de todo o mundo, embora, até hoje, nenhum atleta atuando fora do continente tenha vencido.
Bola de Ouro vs The Best da FIFA
A Bola de Ouro é, de fato, a maior premiação de futebol, mas não é a única, uma vez que existem centenas de outros eventos desse tipo pelo mundo. O que mais se aproxima em termos de repercussão midiática é o The Best, organizado e promovido pela FIFA.
Esse prêmio é bem mais recente, com a primeira edição realizada apenas em 1991. Em 2009, France Football e FIFA uniram-se para promover a Bola de Ouro da FIFA. No entanto, a partir de 2016, encerraram a parceria, oferecendo premiações diferentes, cada uma com seu próprio formato.
A premiação da FIFA não mantém a mesma regularidade anual do Ballon d’Or. Tanto que, para a edição de 2024, ainda não há data marcada, mesmo já estando em novembro. Além disso, a entidade acabou de mudar o nome do prêmio para FIFA Awards, o que torna a valorização da cerimônia um pouco mais difícil.
Como funciona a votação da Bola de Ouro?
A eleição do Bola de Ouro segue os critérios estabelecidos pela France Football e pela UEFA, que começou a participar como coorganizadora em 2024. Em primeiro lugar, é formado um júri com um representante por país dos 100 primeiros colocados no ranking internacional da FIFA.
Os representantes escolhidos são jornalistas especializados em futebol internacional, que recebem o poder de voto. Antes da publicação da lista dos indicados, a France Football revisa as posições do último ranking divulgado pela FIFA. Assim, Brasil e outras dezenas de países sempre votam, mas algumas seleções podem alternar ao longo dos anos.
A France Football envia aos jurados uma lista com 30 nomes de jogadores pré-selecionados pela revista. Para a premiação realizada em outubro de 2024, por exemplo, foi considerado o desempenho dos atletas na temporada europeia de 2023/24, que começou em agosto de 2023 e terminou em junho de 2024.
Cada jornalista elabora seu top 10 em ordem decrescente, do primeiro ao décimo colocado. Os indicados ganham pontos de acordo com a posição estabelecida por cada jurado: o primeiro lugar recebe 15 pontos, o segundo 12, e a sequência de pontuações até o 10º lugar é 10, 8, 7, 5, 4, 3, 2 e 1. O jogador com mais pontos recebe a Bola de Ouro.
A Bola de Ouro também oferece uma premiação feminina, com a participação de jornalistas dos 50 primeiros países do ranking. Além disso, há prêmios para o artilheiro da temporada, para a melhor equipe do ano e até o Prêmio Sócrates, destinado a atletas que, de alguma forma, contribuem para o desenvolvimento social e econômico do planeta.
Qual o impacto da Bola de Ouro no cenário mundial?
Foto: Reprodução Real Madrid
A Bola de Ouro é a maior premiação individual do futebol e, provavelmente, a mais midiática entre todos os esportes. Por isso, é inegável que traz grande repercussão e impacto. Veja uma análise da força do prêmio a partir de diferentes pontos de vista:
Para os atletas
O título de “melhor jogador da temporada” é bastante significativo para os atletas, elevando consideravelmente suas carreiras. A premiação coloca o jogador em um panteão de craques, marcando seu nome na história para a eternidade.
Além disso, a conquista também significa mais dinheiro. De acordo com a revista Placar, o contrato de Vini Jr. com o Real Madrid inclui um bônus milionário em caso de vitória no Ballon d’Or. A valorização do atleta no cenário internacional é outro ponto importante.
Para os clubes
Em geral, quando um atleta ganha um prêmio individual tão grande, isso significa que seu clube teve uma excelente temporada, com bons jogos e títulos. Assim, as grandes equipes da Europa disputam os melhores do mundo, já que esses jogadores trazem troféus.
Ter um Ballon d’Or no elenco gera receitas com patrocínios, vendas de camisas e campanhas publicitárias, movimentando milhões de euros graças ao prêmio da France Football. Além disso, pode garantir cifras ainda mais altas em uma futura venda, visto que se trata de um dos melhores do mundo.
Para a mídia esportiva
O Ballon d’Or rende semanas e semanas de conteúdo para programas esportivos na TV, na internet e na mídia impressa. O Esports Charts, plataforma de análise de audiência online, registrou uma média de 1,5 milhão de pessoas assistindo simultaneamente às transmissões do prêmio pela internet.
O Brasil e muitos outros países também contaram com suas próprias transmissões na TV e em plataformas de streaming. Assim, a Bola de Ouro é uma premiação importante para alavancar a audiência e gerar receitas, algo fundamental para a mídia esportiva.
Para o mercado de apostas esportivas
Quando se fala de futebol em 2024, o mercado de apostas esportivas ganha relevância, afinal, é o principal patrocinador da modalidade no país, estampando a camisa de praticamente todas as equipes do Brasileirão (que, inclusive, leva o nome de uma dessas marcas).
Isso porque a Bola de Ouro é a principal atração fora dos campeonatos de futebol nos maiores sites de apostas do país, que movimentam milhões de reais com a premiação. Tanto é que, nas semanas e até nos dias anteriores ao evento, Vinícius Júnior era o grande favorito para vencer a Bola de Ouro.
Casas como a bet365 indicavam odds de 1.40 para Vini e odds de 34.00 para Rodri. À frente do espanhol estavam nomes como Jude Bellingham, com odds de 10.00, e até seu companheiro de City, Phil Foden, com odds de 29.00.
Além de movimentar a opinião pública, a vitória de Rodri, o "azarão" da noite, também impactou o mercado de apostas esportivas. Afinal, enquanto muitos perderam dinheiro, outros podem ter conquistado um montante significativo.
Para a premiação de 2025, as casas de apostas já estão começando a liberar as odds, e tudo indica que Vinícius seguirá como o grande favorito, trazendo outros nomes como o próprio Raphinha. Nesse sentido, a premiação pode gerar ótimas estratégias, principalmente quando o favorito não vence, como ocorreu em 2024.
Para os torcedores
A premiação da Bola de Ouro é um momento importante para o público, afinal, além de torcerem por clubes, as pessoas também gostam de torcer por atletas! Por isso, a eleição da France Football gera muita repercussão, especialmente quando o resultado é polêmico.
O que sempre se espera do prêmio é um volume gigantesco de comentários na internet, mostrando o quanto a Bola de Ouro é um grande evento para a cultura do futebol no mundo.
As polêmicas “vitória” de Rodri e “derrota” de Vinícius Júnior
A eleição da Bola de Ouro de 2024 teve uma palavra-chave: polêmica. Isso se deve principalmente às questões levantadas sobre a preferência do júri por Rodri em detrimento de Vinícius Júnior. Embora não fosse unânime, a maior expectativa era por um triunfo brasileiro.
A escolha do meio-campista espanhol gerou discussões mundo afora. Em primeiro lugar, foram questionados os critérios de escolha. A UEFA até enumera os principais parâmetros para a eleição, que incluem: desempenho individual, desempenho da equipe, classe e fair play. No entanto, para muitos, o prêmio ainda tem um caráter bastante subjetivo, por levar em conta o gosto pessoal dos eleitores.
Quando os votos e comentários dos jornalistas eleitores começaram a ser publicados, alguns fatos geraram controvérsia. Um profissional da Finlândia chegou a mencionar que “esqueceu” de Vini na hora de votar.
De acordo com a contagem oficial, Rodri recebeu um total de 1.170 pontos, enquanto Vinícius obteve 1.129 pontos. Destaca-se a grande variação nas posições: o brasileiro, por exemplo, ficou fora das três primeiras posições em pelo menos 17 países. Muitos jornalistas já publicaram seus comentários e justificativas sobre a votação.
As maiores críticas ao prêmio atualmente estão justamente ligadas ao caráter subjetivo da eleição, já que o júri pode votar com base em preferências pessoais ou fazer escolhas não relacionadas exclusivamente ao desempenho em campo. Esse tem sido o principal ponto de questionamento sobre a Bola de Ouro.
Polêmicas com outros vencedores da Bola de Ouro
O vencedor da Bola de Ouro está longe de ser uma unanimidade todos os anos. Existem vários exemplos de edições anteriores cujos resultados foram amplamente questionados. O mais recente é o de Lionel Messi, vencedor em 2023, ano em que o período de análise do prêmio foi alterado para incluir a Copa do Mundo.
Em 2018, o croata Luka Modric, apesar de suas boas atuações na Rússia e do título da Champions League, gerou controvérsias e críticas ao receber o prêmio. Já em 2013, a vitória de Cristiano Ronaldo foi bastante questionada após uma temporada excepcional do francês Ribery.
Portanto, o resultado da Bola de Ouro sempre gera polêmica. O que mudou em 2024 foi a associação entre a não premiação de Vinícius Júnior e os posicionamentos do jogador contra o racismo no futebol espanhol. Para a opinião pública, a vitória de Rodri seria uma espécie de retaliação à atuação do brasileiro, trazendo novos contornos para a polêmica.
O impacto da ausência do Real Madrid na premiação
Foto: Reprodução Real Madrid
As opiniões de torcedores e jornalistas sempre marcaram presença nas premiações, mas o que realmente movimentou o cenário foi a ausência do Real Madrid. O clube merengue, ao saber horas antes que Vini não levaria o prêmio (sabe-se lá como!), decidiu não enviar nenhum representante para a cerimônia em Paris.
Em nota oficial à empresa, o Real Madrid questionou a clareza dos critérios. Na visão do clube espanhol, caso Vini não vencesse o prêmio, o caminho natural segundo os critérios seria entregá-lo a Carvajal. Isso porque uma das justificativas para a nomeação de Rodri foi seu desempenho com a seleção espanhola, campeã da Eurocopa.
Por mais que o resultado da eleição seja relevante, não se pode ignorar outros fatores que podem ter motivado a ausência do Real Madrid. Desde 2021, o clube vem travando uma espécie de 'Guerra Fria' com a UEFA, e 2024 foi justamente o primeiro ano em que a entidade assumiu como coorganizadora do evento.
Essa tensão começou quando os espanhóis lideraram a criação da Superliga Europeia, uma competição planejada para rivalizar diretamente com a Champions League. Ainda em 2024, o técnico Carlo Ancelotti questionou a participação do clube no novo Mundial da FIFA, acirrando ainda mais os ânimos.
Portanto, embora o protesto tenha caráter de defesa de seus jogadores, a ausência do Real Madrid na premiação — agora também organizada pela UEFA — é mais um capítulo da disputa entre o maior clube do mundo em termos de títulos e a principal federação continental, um embate que ainda deve ir longe.
Os impactos do “pós-Bola de Ouro” no mercado europeu
O que o resultado da Bola de Ouro mudou nos prognósticos e previsões para o futebol europeu? Tudo indica que pouca coisa. A disputa pelo favoritismo no principal campeonato do continente, a UEFA Champions League, segue com os mesmos protagonistas: Manchester City e Real Madrid, alternando o favoritismo. Isso fica evidente no mercado de apostas.
Casas como a bet365 oferecem odds de 5.50 para mais um título dos espanhóis a longo prazo, enquanto na Novibet, a cotação para o título do City é de 4.50. A questão é tão parelha que apenas dois jogos já podem alterar o cenário, evidenciando o equilíbrio das forças.
Quando se trata de seleções, na disputa entre Vini e Rodri, a Espanha ganhou uma leve vantagem no favoritismo para a Copa do Mundo de 2026. Na Novibet, por exemplo, as odds para o título dos europeus são de 8.00, enquanto para a sexta taça dos brasileiros são de 9.00.
No entanto, não se pode dizer que a Bola de Ouro foi determinante para essa mudança de cenário, até porque a Espanha venceu a Eurocopa, enquanto o Brasil teve um desempenho abaixo do esperado na Copa América. A disputa por títulos, tanto a nível de clubes quanto de seleções, está tão concentrada em poucas equipes que a premiação individual não altera significativamente as cotações finais.
Então, a premiação da Bola de Ouro pode ter mudanças?
Na verdade, a France Football já anunciou uma mudança recente, antes mesmo da premiação de 2024, que foi justamente a participação da UEFA no prêmio. A questão dos resultados, no entanto, é mais complexa. Em notas oficiais e nas palavras de seu editor-chefe, Vincent Garcia, a France Football defendeu o resultado e a integridade da eleição.
A revista, inclusive, criticou o Real Madrid, argumentando que o clube não aceitou uma eleição democrática. O grande problema do resultado em si é que ele envolve múltiplas discussões permeadas pela paixão.
Para os torcedores de Vinícius Júnior, o esquecimento do jogador em alguns países e sua colocação baixa em outros traduzem claramente um boicote. Já para os defensores de Rodri e do prêmio em si, a alternância de votos representa justamente a competitividade que uma eleição dessa magnitude exige.
Por conta dos critérios subjetivos, a discussão sempre recai sobre preferências pessoais. E justamente devido ao caráter eleitoral do prêmio, é pouco provável que a France Football anuncie grandes mudanças para as próximas edições. Até o momento, não há indícios de que o prêmio de 2025 será alterado ou que novos formatos serão introduzidos.
Embora a filosofia do prêmio provavelmente permaneça a mesma, o mundo do futebol espera que os organizadores transmitam maior clareza sobre os critérios. O que pesa mais: os feitos pelos clubes ou pelas seleções? O Mundial de Clubes será considerado com a mesma importância da UEFA Champions League?
Há ainda muitas perguntas que os fãs de futebol e da própria Bola de Ouro desejam ver respondidas. O esperado é que, para manter a relevância do prêmio, os responsáveis abordem esses questionamentos. No entanto, resta aguardar os próximos passos até a nova corrida pela premiação no segundo semestre de 2025!