Diablo 2: Resurrected e a nossa batalha contra demônios internos

Versão remasterizada de clássico da Blizzard traz nostalgia e questionamentos

Eddy Venino - Equipe BANDx

Diablo 2: Resurrected e a nossa batalha contra demônios internos
Divulgação/Blizzard

Derrotar monstros saídos de pesadelos e se tornar uma lenda numa guerra entre anjos e demônios é algo sedutor. Claro, você terá que se provar digno de tal título. Nada vem de graça! Você tem que começar de baixo, com poucos recursos e ir evoluindo. Ao derrotar pequenos monstros, como esqueletos, zumbis e demônios menores, sua confiança cresce e seus espólios se tornam melhores. Armaduras e armas mágicas, novas habilidades e alianças formadas passam a integrar o repertório do herói. Sua fama se espalha e desafios mais difíceis começam a aparecer. Sua primeira falha acontece. Você continua caminhando e a oscilação entre vitórias e derrotas começa a fazer parte da sua vida de heroísmo. A luta continua, mas percebemos que a guerra tem seu revés e cobra seu preço. Você está disposto a pagá-lo para enfrentar o Senhor do Terror?!

Diablo 2: Resurrected nos apresenta um clássico amado por muitos jogadores, numa nova roupagem, lindíssima. Mas tudo isso vem em um momento muito conturbado para Activision Blizzard, a publicadora do jogo. Enquanto esperamos o lançamento vindouro de Diablo 4, a Blizzard resolveu nos presentear com uma remasterização caprichada de um dos jogos mais importantes de seu catálogo. Todos amamos os jogos da publisher, mas não podemos simplesmente tapar os olhos para o que está acontecendo dentro da empresa. Falei um pouco sobre o assunto no meu texto anterior sobre o BETA de Diablo 2: Resurrected, então não vou me alongar quanto a isso, apenas contextualizar rapidamente: a empresa tem enfrentado processos judiciais movidos pelos seus funcionários (desenvolvedores) referentes a assédio moral, sexual e práticas abusivas no ambiente de trabalho

Partindo deste ponto, refleti sobre o jogo e seu papel neste momento. Tudo isso enquanto jogava Diablo 2: Resurrected e elaborava esse texto para falar sobre o game.

Labuta é nossa espada banhada em sangue

Vicarious Visions, desenvolvedora responsável pelo remaster de Crash Bandicoot N. Sane Trilogy e Tony Hawk’s Pro Skater 1+2, foi quem ficou a cargo de dar “um tapa” em Diablo 2, com Rob Gallerani, diretor de design do estúdio, à frente do projeto. E como vocês podem constatar pelos títulos anteriores (para aqueles que tiveram a oportunidade de jogar), o precedente criado pela desenvolvedora já nos dava indicativos que teríamos um trabalho competente. E, de fato, foi o que experimentei. Mas muito disso será ofuscado pela situação que a Activision Blizzard passa.

Parte da mídia especializada e fãs da da publicadora falam em boicotar o lançamento do jogo - pelos motivos que falei acima. A ação é válida e o próprio Rob Gallerani declarou - em entrevista a VGC - que os consumidores “devem fazer o que acharem correto”. Ele também demonstrou solidariedade para com os desenvolvedores dos outros estúdios que estão batalhando pela aplicação de seus direitos e um ambiente mais saudável para todos.

Existe indignação pela cultura tóxica e tudo o que vem prejudicando os trabalhadores de todos os estúdios da Activision Blizzard. Mas também existe paixão e união entre esses desenvolvedores. Eles trabalham com dedicação e não querem ver o projeto no qual dedicaram anos, afundar. E todo esse barulho, iniciado pelos desenvolvedores, perpetuado pela imprensa e abraçado pela audiência, é um marco importantíssimo. Devemos continuar vigilantes e dando voz a essas pautas para que casos assim sejam extintos e a indústria de games se torne um local mais acolhedor, com pluralidade de ideias e respeito.

E o trabalho da Vicarious Visions já traz um pouco disso. Embora ela não seja citada na ação judicial, os responsáveis pelo estúdio fizeram questão de conversar com seus colaboradores sobre o ambiente da empresa e se havia alguma reclamação acerca disso. O retorno dos funcionários foi positivo e a gestão já deixou claro que indagações quanto às rotinas do estúdio a seus desenvolvedores será algo recorrente para evitar que um ambiente hostil se crie.

Divulgação/Blizzard

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Relacionado ao Diablo 2: Resurrected, foi realizada uma revisão em todo material digital do jogo para buscar algo que poderia ser problemático para os consumidores, mas nada foi encontrado. E um dos pontos de destaque para o remake foi a reformulação dos trajes da Amazona, para que lembrasse aspectos voltados a seu papel como guerreira e não como “se tivesse saído de uma boate”, declarou Rob Gallerani.

Por todas essas questões, Diablo 2: Resurrected acabou se tornando um lançamento importante, mas conturbado. Além de seu valor como jogo, ele também se torna um elefante branco para aqueles que querem jogá-lo ou criar conteúdo a partir dele. Bem, para todos aqueles que ao menos se permitem um momento de reflexão sobre todo o ocorrido.

Aqui a batalha vai além do sangue derramado em forma de pixels na sua tela. Atos heróicos que não se resumem a lançar magias épicas e enfrentar hordas vindas do inferno. Devemos conhecer o campo de batalha para podermos aceitar a missão correta e salvar não apenas um acampamento, mas dar o suporte necessário para que todos possam escolher com mais clareza as masmorras que querem desbravar. Com isso, colaboramos para que jogadores, imprensa, criadores de conteúdo e desenvolvedores possam aproveitar os jogos em sua plenitude.

Lá de volta e outra vez

Estamos de volta ao acampamento 20 anos depois. Refugiados, fugindo de demônios destruidores de vilas e guerreiras corrompidas, que antes os protegiam e agora querem seu sangue. Mas lá estamos nós, mais uma vez, décadas depois nos prostrando entre os sobreviventes dos ataques e as forças do mal.

Diablo 2: Resurrected traz - além do jogo original - a expansão Lords of Destruction, com o acréscimo da Assassina e do Druida, às classes já tradicionais: Amazona, Paladino, Necromante, Bárbaro e Feiticeira. Melodias entoadas há anos atrás, que estavam dormentes em nossa memória, retornam de imediato a consciência, como se estivessem em sua playlist durante todo esse tempo. O ressoar de espadas em batalha, a adição de itens ao seu inventário, o abandono ao se entrar em cavernas escuras, todos são sons familiares para quem já se aventurou em Diablo 2. Mas agora tudo soa mais mágico; e o melhor, em português! Bate uma “saudade daquilo que ainda não vivemos”, como diz um famoso futebolista. É como provar a comida da sua mãe depois de um tempo ausente de casa, mas agora ele adicionou algo novo ao tempero e tudo ficou ainda mais gostoso.

Divulgação/Blizzard

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A mudança gráfica pode ser vista logo que você abre o jogo ao escolher seu personagem. No início já temos uma cutscene, totalmente refeita, assim como todas as outras no decorrer do jogo, e ali já temos o tom de como as coisas serão.

Depois de optar entre a jogatina OFFLINE ou ONLINE, você dá início a sua jornada em Santuário. Para quem já experimentou o clássico muito do que vê será familiar, mas ao invés do 2D, agora temos cenários em 3D e implementações modernas, que deixam o jogo ainda mais profundo e sombrio. 

O time de desenvolvedores usou a versão clássica como base e o que você vê na tela compreende 70% do que o jogo era, somado a 30% de inovações. Mas nada disso muda a experiência para veteranos e novos jogadores de Diablo 2 - pelo menos não negativamente. O respeito pelo que foi realizado no passado e pela comunidade que habita neste game até hoje é enorme e somos impactados por isso a cada nova interação com inimigos, personagens, itens e cenários em Diablo 2: Resurrected.

Minha jornada com a franquia é parecida com a de muitos jogadores que sempre foram fascinados com a saga, mas que não tinham acesso irrestrito a ela. Eu não tinha um PC na época, então jogava na casa de um amigo, o que não permitia que eu me debrussase na jogatina como desejava. Afinal, meu tempo lá era limitado. E explorar cada centímetro deste game, montar a melhor build pro meu personagem e elevar seu nível ao máximo era o que eu mais desejava, mas isso acabou não se concretizando. Nem em Diablo 3 consegui realizar esse feito. Também o joguei, mas como estava em um período conturbado da vida, entre trabalho, sair da casa dos pais e início de casamento, acabei postergando mais uma vez a experiência. Os joguei e aproveitei o que tinham para oferecer, mas nunca participei dos papos sobre o jogo em seu tempo de lançamento.

Meu paralelo com a franquia sempre envolveu essa batalha que é a vida. E hoje, graças a todos os demônios com os quais lutei, aos XPs que adquiri e a build que montei pra mim, finalmente posso jogar um game da franquia Diablo em seu lançamento. E é logo o remaster daquele com o qual eu iniciei a minha jornada há 20 anos atrás.

E é muito bom saber que um título deste tamanho chegará a todas as plataformas, com localização e dublagem em português e com um preço relativamente mais baixo do que os AAA atuais. Outros recursos destacados são:

  • Coleta automática de ouro e atalho para encher o cinto automaticamente a partir do inventário;
  • Roda de emotes para agilizar a comunicação;
  • Legendas opcionais, inclusive para saudações de PNJs;
  • Tamanhos de fonte maiores, modos para daltônicos e opções de legibilidade;
  • Personalização da opacidade do mapa;
  • Ajuste de volume de muitos canais de áudio;
  • Amplas opções de associação de teclas, incluindo novas habilidades associáveis, como "Interagir", e a opção de trocar as funcionalidades dos controles esquerdo e direito;
  • Configurações de sensibilidade do cursor para controles;
  • Organização automática do inventário com controles;
  • Opção de segurar para atacar e ativar/desativar nomes de itens para reduzir o número de cliques repetitivos ou pressionamentos de botões;
  • Progressão multiplataforma e jogabilidade entre gerações: mantenha seu progresso, incluindo personagens e itens, em plataformas diferentes. Se você alternar entre gerações de consoles de uma mesma plataforma, seu progresso também será mantido;
  • Com o toque de um botão, é possível alternar entre os gráficos remasterizados e a experiência "original" do jogo, que é nostálgica. No PC, os jogadores podem aumentar o zoom e explorar o mundo do jogo em ainda mais detalhes;
  • Jogue em qualquer lugar: não é preciso ter uma conexão de Internet constante para jogar no modo de individual.

Para conquistar minha confiança, precisará fazer mais do que matar algumas feras

A franquia Diablo é uma das mais influentes dos jogos e qualquer título que traga seu nome irá despertar sentimentos profundos nos fãs. Recebi uma cópia do jogo para PC, através da assessoria da Blizzard no Brasil, na última terça (21) e pude me refastelar com o jogo durante esse período. Minha jogatina irá continuar por muito tempo ainda após esse texto. Experimentar todas as classes, jogar online com os amigos, caçar itens melhores e aguardar os futuros conteúdos que a Vicarious Visions prometeu. Ou seja: tão cedo não irei largar a jogatina de Diablo 2: Resurrected.

Há muito para se embrenhar e revisitar neste jogo; jogar um game que em sua essência é o mesmo, mas que traz novas perspectivas sobre antigas experiências e até hábitos é algo singular.

Alguns jogarão e outros não; alguns por escolha, para apoiar um ideal; outros por ainda não terem acesso, como eu, no passado. 

Mas lhes digo que Diablo é um jogo grandioso e hoje, mais uma vez, é adicionado a sua história um capítulo histórico, que move toda a comunidade de jogos numa batalha, onde temos que saber quem são os monstros e quem são os heróis e heroínas que batalham para que nosso acampamento continue a salvo.

Isso não é apenas sobre um jogo, mas sim, sobre as vidas que constroem esses universos maravilhosos que escolhemos visitar, habitar e transformar em algo que tenha um significado maior do que apertar botões.

Sendo heróis ou não, na ficção ou realidade, só não deixe de ser impactado por momentos como esse. Jogando ou não, adentre o campo de batalha, porque anjos e demônios já estão decidindo nosso destino, então temos que nos armar para fazer frente ao desafio. Porque o Diablo, aquele demônio abissal vermelho e furioso, eu só quero ver no jogo.

Diablo 2: Resurrected está disponível para Nintendo Switch, Playstation 5, Playstation 4, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.

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