
A acupuntura, terapia originária da medicina tradicional chinesa, consolidou-se nas últimas décadas como uma especialidade médica moderna e fundamentada em ciência no Brasil. Reconhecida oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1995, a prática médica da acupuntura deixou de ser vista apenas como empírica ou alternativa para se firmar como uma modalidade terapêutica integrada à medicina contemporânea. Hoje, milhares de médicos utilizam agulhas terapêuticas de forma segura e eficaz no tratamento de diversas condições de saúde, unindo a sabedoria ancestral à rigorosidade científica.
O reconhecimento da acupuntura como especialidade há quase 30 anos trouxe parâmetros claros de formação e atuação. “A acupuntura somente foi reconhecida como especialidade médica quando sua base científica, dentro da medicina ocidental, ficou demonstrada. Isso funciona como um selo de garantia de que temos uma acupuntura de qualidade no Brasil”, ressalta o Dr. Adriano Hohl, diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA). Para obter o título de especialista e o Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em Acupuntura, o médico deve passar por uma formação aprofundada e ser aprovado em exame de título promovido pelo CMBA e Associação Médica Brasileira (AMB). Ou seja, a acupuntura deve ser exercida por médicos devidamente habilitados – profissionais que, além dos conhecimentos da técnica, possuem treinamento completo em diagnóstico e fisiologia humana.
A exigência da formação médica especializada visa proteger a segurança do paciente. Diferentemente do que muitos podem imaginar, a aplicação das finas agulhas de acupuntura é um procedimento invasivo que requer conhecimento detalhado de anatomia e clínica. “Como é possível tratar uma dor abdominal ou lombar sem antes ter um diagnóstico?”, questiona o Dr. Luciano Curuci, diretor do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo, enfatizando a importância da avaliação médica prévia. Apenas médicos têm respaldo legal para diagnosticar doenças no Brasil – um passo fundamental para definir se a acupuntura é indicada e como deve ser aplicada em cada caso. O desconhecimento anatômico e a falta de treinamento adequado podem levar a complicações graves, como perfuração de pulmão (pneumotórax), dano a nervos ou infecções severas – chegando a risco de óbito em casos extremos. Por isso, órgãos como o CFM e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) alertam que a acupuntura é um ato médico e deve permanecer restrita a profissionais qualificados, em prol da segurança do paciente.
Quando realizada por especialistas, a acupuntura é uma prática segura, com baixo índice de efeitos adversos, e pode trazer benefícios significativos. Ela é utilizada como parte de tratamentos em diversas áreas – do alívio de dores crônicas musculoesqueléticas ao auxílio no controle da ansiedade, insônia e outros distúrbios. Hospitais e ambulatórios públicos já incorporaram a técnica, inclusive em unidades de terapia intensiva, mostrando sua versatilidade como complemento aos cuidados convencionais. Estudos em neurociência ajudam a explicar os efeitos da acupuntura, mostrando que as agulhas estimulam o sistema nervoso e modulam a liberação de substâncias analgésicas e anti-inflamatórias pelo organismo. Com isso, a acupuntura médica ganha cada vez mais embasamento em evidências, integrando protocolos clínicos modernos – sem perder de vista a visão holística do paciente, característica da medicina oriental.
O acesso da população a essa terapia também se ampliou graças ao suporte institucional. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a acupuntura está disponível gratuitamente há décadas. Hoje, serviços de saúde em milhares de municípios oferecem atendimentos em acupuntura. São cerca de 1 milhão de sessões de acupuntura realizadas por ano no SUS, atendendo pacientes que buscam alternativas seguras e efetivas para seus problemas de saúde, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Esse número reflete a confiança crescente do público na técnica e a validação de seus resultados clínicos. Profissionais de diferentes especialidades médicas – ortopedistas, clínicos, anestesiologistas, psiquiatras, entre outros – têm se capacitado em acupuntura para integrar essa ferramenta aos cuidados de seus pacientes, reforçando a abordagem integral e humanizada preconizada pelo SUS.
A consolidação da acupuntura como especialidade médica no Brasil conta com apoio de diversas entidades. Além do CFM, que normatiza e fiscaliza o exercício profissional, e do CREMESP, o próprio CMBA e instituições regionais como o Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo atuam na promoção do ensino qualificado, pesquisa e defesa ética da acupuntura médica. Juntas, essas organizações asseguram que a acupuntura praticada no país mantenha altos padrões de qualidade e segurança. Elas também atuam na esfera legal para coibir o exercício irregular por não-médicos, garantindo atendimento apenas por profissionais aptos.
No Brasil, a acupuntura médica brasileira une o melhor de dois mundos: o conhecimento tradicional oriental e a ciência médica ocidental. Reconhecida e regulamentada como especialidade médica, a acupuntura moderna oferece uma abordagem terapêutica eficaz, segura e acessível. Com bases sólidas em evidências científicas e respaldo de importantes conselhos e associações de saúde, essa prática milenar se reafirma no século XXI como uma aliada valiosa na promoção do bem-estar e da qualidade de vida da população.