
Teimoso, turrão, obstinado, cismado... os sinônimos são destinados a um tipo de pessoa que finca os pés em algo e não tem vendaval que o tire! Quando vemos uma criança pequena sendo teimosa achamos uma graça, quando vemos um adulto sentimos vergonha alheia.
A verdade é que ser teimoso por muitos é visto como algo bom, como uma pessoa que tem personalidade forte e opinião também. Mas quem convive com uma pessoa teimosa já enxerga diferente: essa pessoa é chata, intransigente e repele diálogos, aprendizados e momentos de convivência pacífica.
O teimoso só está satisfeito quando se diz ou se faz o que ele acha que é o melhor, sufocando a todos que respiram por perto, anulando pensamentos e opiniões diferentes (que muitas vezes são os certos).
A teimosia é uma cegueira, uma algema que prende a pessoa no limitado mundo pequeno que vive. A chave para abrir essa algema está em uma das mãos em que o teimoso aperta com tanta força que pode causar feridas irreparáveis.
Vamos conversar com a Doutora em Psicologia Renata Bueno, quer irá fazer uma análise mais profunda dessa armadilha em que a própria pessoa monta e fica preso.
LUCAS SANSEVERINO: Vamos trocar a palavra teimosia que acaba até soando pejorativa por rigidez cognitiva. O que é e como ela afeta o comportamento das pessoas?
RENATA BUENO: A rigidez cognitiva é a dificuldade em mudar de opinião, considerar novos pontos de vista ou se adaptar a situações diferentes. Pessoas com esse perfil costumam ver o mundo de forma dicotômica, como se tudo fosse “certo ou errado”, sem nuances. Essa inflexibilidade pode gerar conflitos, isolamento e um sofrimento emocional intenso, já que a realidade nem sempre se encaixa nessa visão restrita.
LUCAS SANSEVERINO: Há uma relação entre rigidez cognitiva e preconceito?
RENATA BUENO: Sim, e essa relação é muito estudada na psicologia. O preconceito geralmente nasce de crenças rígidas e estereotipadas sobre determinados grupos ou indivíduos. Pessoas com grande resistência à mudança tendem a aderir a ideias herdadas culturalmente, sem questioná-las. Isso dificulta o desenvolvimento da empatia e da compreensão do outro, perpetuando atitudes discriminatórias.
LUCAS SANSEVERINO: Como esse padrão mental pode afetar a saúde mental da própria pessoa?
RENATA BUENO: Quando alguém carrega muita amargura, ressentimento e raiva, o corpo e a mente sofrem. Estudos mostram que emoções negativas prolongadas aumentam o risco de ansiedade, depressão e até doenças psicossomáticas, como hipertensão e problemas gástricos. O estresse constante gerado pela inflexibilidade mental pode comprometer o bem-estar emocional e físico.
LUCAS SANSEVERINO: Quais são as origens desse comportamento intransigente? Ele é aprendido ou tem base genética?
RENATA BUENO: É um pouco dos dois. Algumas pessoas têm traços de personalidade mais rígidos por questões genéticas, mas o ambiente tem um grande peso. Experiências na infância, o tipo de educação recebida e até o contexto sociocultural moldam essa rigidez. Crianças criadas em ambientes autoritários, por exemplo, podem internalizar padrões inflexíveis e reproduzi-los na vida adulta.
LUCAS SANSEVERINO: Esse tipo de pessoa percebe que está sofrendo ou acha que o problema está sempre nos outros?
RENATA BUENO: Geralmente, essas pessoas acreditam que o problema está nos outros. Elas têm uma necessidade de controle e muitas vezes não percebem o quanto esse padrão as faz sofrer. Algumas só buscam ajuda quando enfrentam grandes perdas – como o rompimento de um relacionamento ou uma crise de saúde – que as forçam a olhar para dentro e reconsiderar suas atitudes.
LUCAS SANSEVERINO: É possível mudar esse padrão mental e se tornar uma pessoa mais flexível?
RENATA BUENO: Sim, é totalmente possível, mas exige disposição para mudar. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia do Esquema são abordagens muito eficazes para isso. Elas ajudam a pessoa a identificar pensamentos automáticos rígidos e substituí-los por visões mais equilibradas e flexíveis. Exercícios de empatia e reestruturação cognitiva também são essenciais para essa mudança.
LUCAS SANSEVERINO: O que a pessoa pode fazer para começar esse processo de mudança?
RENATA BUENO: Um bom primeiro passo é se questionar: “E se eu estiver errado?”, “Há outra forma de ver essa situação?”. Praticar a escuta ativa, conviver com pessoas diferentes e estar aberto a novas experiências são atitudes que ajudam a quebrar padrões rígidos. A terapia, claro, pode acelerar muito esse processo.
LUCAS SANSEVERINO: O que familiares e amigos podem fazer para lidar com alguém muito rígido e amargurado?
RENATA BUENO: O ideal é não entrar em confronto direto, pois isso reforça a resistência. Em vez de tentar mudar a pessoa à força, o melhor é dar bons exemplos, incentivar reflexões sutis e mostrar, com paciência, que existem outras formas de enxergar a realidade. Às vezes, apenas oferecer um espaço seguro para diálogo já ajuda a flexibilizar esse padrão.
LUCAS SANSEVERINO: Qual é o impacto social de uma sociedade cheia de pessoas rígidas e preconceituosas?
RENATA BUENO: O impacto é enorme. Sociedades com baixa flexibilidade cognitiva tendem a ser mais polarizadas, menos tolerantes e menos inovadoras. A rigidez mental impede avanços sociais, culturais e científicos porque bloqueia a capacidade de questionar, aprender e evoluir. É por isso que incentivar o pensamento crítico e a empatia desde cedo é tão importante.
LUCAS SANSEVERINO: Qual mensagem você deixaria para quem se identificou com esse padrão e quer mudar?
RENATA BUENO: A mudança começa no momento em que reconhecemos que precisamos dela. Se você sente que sua rigidez mental tem te afastado de pessoas queridas ou causado sofrimento, saiba que a flexibilidade pode ser aprendida. A vida se torna muito mais leve quando aceitamos que nem sempre temos razão e que o mundo é cheio de possibilidades. O primeiro passo é abrir a mente para o novo!