Criança de 7 anos está entre baleados em ataque a indígenas no Paraná

Ataques aconteceram em Guaíra e Terra Roxa. Segundo Conselho Indigenista Missionário, quatro vítimas foram encaminhadas para hospitais

Criança de 7 anos está entre baleados em ataque a indígenas no Paraná
Criança indígena baleada no Paraná
Conselho Indigenista

Um ataque à Aldeia Tekoha Y’Hovy, em Guaíra, na Região Oeste do Paraná, deixou pelo menos quatro pessoas feridas, incluindo uma criança de sete anos. Os disparos, feitos por um atirador ainda não identificado, atingiram as vítimas e resultaram em duas transferências para hospitais da região devido à gravidade dos ferimentos.

A área tem sido marcada por violência recorrente, como incêndios, disparos de armas de fogo e explosões de rojões. Um ataque similar ocorreu na virada do ano na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, envolvendo um incêndio e um homem baleado no braço. 

Relatos de moradores indicam que os ataques podem ser planejados, com marcas de pneus e pegadas encontradas na área, além de denúncias de emboscadas coordenadas, aumentando a apreensão da comunidade local. Seriam fazendeiros que tentam expulsar indígenas de suas terras. 

O histórico de conflitos na região inclui a ocupação do Mirante Clube no início de 2024, que gerou episódios de violência contra moradores indígenas. Além disso, há suspeitas de que estrangeiros, possivelmente cidadãos paraguaios, estejam sendo trazidos para facilitar invasões de terras, com conexões com o crime organizado no Paraguai. 

Apesar da presença da Força Nacional, os confrontos continuam a afetar tanto os moradores das aldeias quanto a população de Guaíra, que exige ações urgentes para conter as invasões e garantir a segurança local. As investigações estão em andamento e a situação permanece tensa.

Pedido de ajuda

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apelou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e ao Judiciário para fazerem cessar os ataques aos indígenas Avá-Guarani da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, localizada entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná.

Segundo denúncias do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), desde o dia 29 de dezembro de 2024, o local tem sido alvo de ações violentas que resultaram em um indígena baleado no braço, no dia 31, e outra indígena queimada no pescoço, no dia 30.

De acordo com o Cimi, os episódios de violência foram anunciados há mais de um mês por não indígenas descontentes com a retomada dos territórios tradicionais pelos indígenas. O manifesto “S.O.S Aldeia Yvy Okaju Corre Risco de Extermínio”, lançado pelos Avá-Guarani em 23 de novembro já denunciava as ameaças. “Recebemos um recado de que no dia 25 de dezembro de 2024 os brancos estão se organizando para fazerem um novo ataque contra a nossa comunidade”, destaca o documento.

No mesmo mês, diante da tensão na região, o MJSP autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública, para atuação de forma permanente.

No entanto, as instituições indigenistas consideram a atuação dos militares inoperante. “Os indígenas e instâncias de governo têm acionado a Força Nacional a cada novo ataque, mas até agora não se tem o retorno esperado. Os ataques continuam, a vida dos indígenas está sem proteção nenhuma”, disse o secretário executivo do Cimi, Luis Ventura.

Por meio de nota, a Apib informou ainda que, além do MJSP, acionou juridicamente a 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Tribunal de Justiça do Paraná, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, a Defensoria Regional de Direitos Humanos no Paraná e o Ministério Público do Paraná para que tomem as medidas necessárias para o fim dos ataques.

O comunicado destaca também que o conflito na região acontece há anos e remonta à época da construção da Hidrelétrica Itaipu Binacional, “que expulsou os Avá Guarani da região para a construção da hidrelétrica, e estão no processo de retomada de suas terras ancestrais, acabam sofrendo com a violência no território que é seu por direito originário e ancestral.”

No início do mês de dezembro de 2024, o governo federal criou uma Sala de Situação para Acompanhamento de Conflitos Fundiários Indígenas. Integrantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) estiveram no local para uma escuta qualificada das necessidades do povo Avá-Guarani. O objetivo da iniciativa seria buscar estratégias para enfrentar as dificuldades e garantir a continuidade das tradições e modos de vida indígena.

Os ministérios dos Povos Indígenas e da Justiça e Segurança Pública foram questionados pela reportagem sobre o pedido da Apib, mas até o momento da publicação da reportagem não houve resposta.


Nota da Polícia Federal:

Guaíra/PR - Na data de ontem, 03/01/2025, por volta das 21 horas, foram realizados disparos em direção à comunidade indígena instalada próximo ao bairro Eletrosul. Forças de segurança pública federais, estaduais e municipais estiveram no local a fim de evitar a ocorrência de novos episódios de violência. Com relação aos feridos, constatou-se que, até o presente momento, quatro indígenas foram alvejados e necessitaram de atendimento hospitalar. A Polícia Federal iniciou investigações para apurar a autoria e responsabilidade criminal dos envolvidos e, nesta manhã, (04/01/2025), Peritos Criminais Federais realizaram perícia no local do conflito.

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