Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Roberta Janone, psicanalista - @robertajanone
Em uma sociedade em que todos nós estamos com nossos afetos mais expostos, o quanto o palco das redes pode produzir em nós mesmos esse re-sentir-se sem fim?
No lugar da pessoa ressentida, demonstra-se uma fragilidade e uma injustiça, já que algo foi feito contra ela. Porém, vale ressaltar que nem toda situação acontece sem nossa participação.
Quantos de nós já não esbarrou com uma pessoa que se queixava de tudo, como se, por mais que se esforçasse, as coisas não andavam. Para essa pessoa, a vida sempre foi um eterno sufoco e o mundo era carregado nas costas. Se investigarmos de perto algumas situações do nosso cotidiano, iremos nos deparar com um mundo ressentido, pois o que mais escutamos hoje são reclamações. Mas nem toda reclamação é um ressentimento.
Estamos em um país que deixa muitas pessoas à margem de possibilidades de uma vida digna, e isso tem seu lugar!
Acontece que aquele que se ressente está em um lugar onde alimenta uma dor que lhe foi causada. Frequentemente há uma responsabilização de algo externo, gerando uma passividade em relação às suas atitudes. O culpado é sempre outro, nunca uma escolha própria mal feita.
Nem sempre fazemos boas escolhas e, em muitas, não temos como reprogramar a rota. O que nos diferencia de um ressentido é entender que temos que fazer novas escolhas e deixar outras para trás. O ressentido tem um apego a uma memória e a algo que não tem volta. Ele re-sente “o afeto que lhe foi causado” a cada oportunidade em que se queixa.
Aquele que se ressente, além de passivo, é sagaz em criar um teatro onde mobiliza sua plateia, comove e ao mesmo tempo se apresenta como um herói. Nenhuma solução dada, ou opinião para um problema, é satisfatória. Ele vai dizer que você não entende seu sofrimento.
Nietzsche nos diz que o ressentimento repete uma memória com impossibilidade de esquecer. E é exatamente isso: uma repetição que alimenta algo que deixou de viver. O sujeito fica ali lamentando o que passou. A vida vai passando e as escolhas não feitas viram a dor de não ter vivido o que queria. Do ponto de vista da psicanálise podemos dizer que o ressentido é um eterno perseguido.
“Embora as queixas repetitivas do ressentimento não escapem à determinação inconsciente, servem, acima de tudo, aos mecanismos de defesa do eu. Isso significa que, em um processo de análise, as queixas ressentidas trabalham contra a associação livre e, sobretudo, impedem a implicação subjetiva do analisando" – Maria Rita Kehl ¹
Diante de tudo isso que você,querido leito,r acabou de ler aqui no blog “Os Nós da Mente", caso tenha se identificado como ressentido, como você irá se mover a partir disso?
¹ Retirado do livro Ressentimento, de Maria Rita Kehl