Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Lais Sellmer, psicanalista - @laissellmer
Ontem teve a expulsão dos participantes do programa por assediarem a participante Dania do programa Big Brother Brasil.
A notificação da expulsão gerou um impacto na vítima que vemos nos escritos de Ferenczi, Dania, tenta justificar o comportamento dos agressores por estarem alterados pela bebida e por considerar que eram homens legais.
Há um fenômeno histórico cultural no qual a mulher latina é extremamente sexualizada e desacreditada ao longo da história. A história da América começa com o estupro de mulheres, vários relatos durante a colonização e que permanecem até hoje. A mulher passa por tantas situações que normaliza o assédio e justifica o agressor, sofrendo um desmentido social.
Mc Guime chega a argumentar de não se lembrar do ocorrido e para a psicanálise talvez ele não se lembre mesmo! Ações que nos geram profundo sentimento de culpa podem ser reprimidas da nossa memória.
Outro ponto importante é a culpabilização do efeito alcoólico como justificativa. A bebida tem suas ações psicoativas no organismo assim como no nosso superego, que é um componente do aparelho psíquico, parecendo aquele anjinho guardador da moral e bons costumes, quando alcoolizado o superego perde forças dando espaço para o desejo.
Você se lembra da frase: “quando o álcool entra, a verdade sai”? É um ditado popular que exemplifica de forma coloquial esse conceito psicanalítico.
Quando a psicanálise trás o “temos que se haver com nosso desejo” é sobre algo extremamente complexo como reprimir o desejo causa angústia e desconforto assim como atender o desejo. Os dois homens ouviram seu desejo e agiram para satisfazê-lo sem respeitar o desejo do outro.
Sapato, um lutador, usa seu porte físico para prender Dania que, ao ser questionada, ela diz “ele me roubou um beijo”. Vamos ao significado disso: ela não o beijou, foi um beijo roubado e, portanto, não permitido, que ela tentou suavizar como brincadeira.
Mc Guime toca em Dania e ela retira sua mão, ao falar sobre o episódio Dania se refere “eu tirei a mão sou boba”. Ela não permitiu o toque e quando ouve o apresentador validar que ela foi assediada há uma demonstração de culpa, amparada por algumas participantes mulheres que tentam oferecer acolhimento. A participante é exposta a uma situação que muitas mulheres brasileiras já vivenciaram e por isso gerou uma identificação tão grande que está sendo manifestada nas redes sociais e mídia.
Por outra lado temos a esposa de Mc Guime que se mostra vulnerável e triste em suas redes sociais, também recebendo apoio de outras mulheres. Esse movimento feminino mostra o quanto nós estamos cansadas de vivenciar situações semelhantes. Em contrapartida segue também o movimento de culpabilizar a vítima por sua espontaneidade, beleza e interação no programa. O velho modelo machista que as mulheres precisam se conter, caso contrário, estarão sujeitas ao abuso.
O reality show mostra o retrato da nossa sociedade e não foi o primeiro participante a ser abusivo com mulheres. Curiosamente no mês de março que marca a luta das mulheres por direitos, ainda buscamos os mesmos direito e respeito ao nosso corpo.
